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Médico não abandona paciente, diz Mandetta ao descartar pedir demissão

Ministro e Bolsonaro têm ideias controversas sobre isolamento social para conter o coronavírus; presidente afirmou que nenhum ministro é "indemissível"

Mandetta: ministro da Saúde tem divergências com o presidente da República em relação às medidas de prevenção ao coronavírus (Adriano Machado/Reuters)

Mandetta: ministro da Saúde tem divergências com o presidente da República em relação às medidas de prevenção ao coronavírus (Adriano Machado/Reuters)

BC

Beatriz Correia

Publicado em 3 de abril de 2020 às 19h15.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, descartou nesta sexta-feira (3) deixar o governo do presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia do novo coronavírus, afirmando ter aprendido a lição que "médico não abandona paciente".

"Quanto a eu deixar o governo por minha vontade, tenho uma coisa que aprendi com meus mestres: médico não abandona paciente", disse ele, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, ao ser perguntado sobre os conflitos recentes com o presidente e a possibilidade de deixar o cargo.

Na quinta-feira, o presidente admitiu, em entrevista à rádio Jovem Pan, que está "se bicando" com o ministro da Saúde sobre a melhor forma de condução das políticas para enfrentar o coronavírus.

Bolsonaro tem defendido o relaxamento medidas de isolamento social, enquanto Mandetta segue pregando essas ações para reduzir o contágio do vírus.

O ministro da Saúde admitiu que o Brasil tem tido dificuldades para comprar respiradores e outros insumos de auxílio no combate ao novo coronavírus e reforçou a necessidade de que as pessoas diminuem a atividade social para reduzir o avanço do contágio no país.

Mandetta disse que o país continua num "momento difícil" em termos de abastecimento e contou que nesta sexta-feira foi frustrada a confirmação de compra de 680 respiradores pelo Nordeste que viriam da China.

"O mundo inteiro compra da China, isso fez com que atravessássemos fevereiro e março sem poder adquirir de lá", disse ele, citando o fato que o país --que foi a origem do coronavírus-- voltou inicialmente a sua produção de insumos apenas para abastecer o mercado interno.

"Temos aí uma coleção de problemas que vão se somando neste mercado", acrescentou Mandetta, que nesta semana já havia reclamado de compras enormes dos Estados Unidos na China que tinham derrubado compras do Brasil.

O ministro fez um apelo por racionalidade dos países na hora de fazer compras de insumos e equipamentos no momento em que a pandemia se espalha pelo mundo.

Diante do cenário, Mandetta recomendou mais uma vez que as pessoas diminuam a atividade social com o objetivo de reduzir o contágio,

Na véspera, Bolsonaro disse em entrevista à Jovem Pan que falta humildade ao titular da Saúde e que ele deveria ouvi-lo mais. No entanto, pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira mostrou que o Ministério da Saúde tem uma aprovação mais de duas vezes superior à atribuída a Bolsonaro.

O ministro recomendou "fortemente" por parte da sociedade e dos governadores que mantenham medidas de contenção social e justificou que cada pessoa que deixa de ir para um centro de terapia intensiva (CTI) é um insumo que está se economizando.

"A gente sabe que mais na frente pode ter uma espiral de casos", considerou.

Mandetta também voltou a levantar suspeitas sobre as informações da China a respeito dos casos no país, colocando em dúvida inclusive o número de casos relatados pelo país asiático.

Segundo o ministro "é digno de muitas perguntas" que um país com a população da China tenha tido pouco mais de 3 mil mortes, sem que cidades grandes como Pequim tenham sofrido um colapso de seu sistema de saúde, enquanto países como Itália, Espanha, França, Inglaterra e Estados Unidos têm enfrentado problemas enormes.

"Momento é de estresse"

Mandetta ressaltou que o momento é de estresse e que tem tomado "muito chá de camomila" durante a crise. Em certo momento, houve uma divergência entre um funcionário da equipe presidencial e um fotógrafo que tentava fazer um registro dos ministros presentes.

"Está todo mundo muito estressado. Estou tomando muito chá de camomila. Tomem também", disse o ministro após ser interrompido. Em seguida, voltou a fazer as atualizações do Ministério da Saúde.

No dia anterior, Mandetta foi excluído de reunião entre Bolsonaro e um grupo de médicos para discutir o uso da cloroquina.

A substância é outro tema de divergência entre Bolsonaro e Mandetta. Enquanto o presidente defende irrestritamente a aplicação do medicamento, Mandetta pede cautela até que haja comprovação científica da eficácia desse fármaco, normalmente usado para malária. Agora, Mandetta tem dito que estudos sobre cloroquina tem avançado e ampliou o uso para casos graves do novo coronavírus no País.

Um dia atrás, Mandetta disse que os primeiros testes científicos com uso de cloroquina começam a mostrar resultados positivos e que a "ciência começa a achar o caminho" no combate à doença.

Nesta sexta, porém, o ministro disse que, após uma reunião com médicos especialistas que analisaram um primeiro trabalho científico publicado pelo New England Journal of Medicine, dos Estados Unidos, concluiu que o resultado não é tão promissor.

"O 'paper' é muito frágil no caso de cloroquina", disse Mandetta ao se referir ao trabalho científico.

Hoje, Mandetta não mencionou a reunião, mas deu seu recado a Bolsonaro e àqueles que estiveram com o presidente. "Estou trabalhando com pouca gente, mas normalmente os 'cabeças brancas' aqueles que têm mais tempo e vivência, não só de sistema, mas de medicina, onde a gente está discutindo algumas possibilidades em tempos de tantas incertezas."

Independentemente disso, Mandetta disse que o Ministério da Saúde vai oferecer aos médicos do País a possibilidade de utilizarem a cloroquina como opção de tratamento não apenas para os casos críticos de pacientes, como tem ocorrido até agora, mas também para aqueles que estão em situação grave.

(Com Reuters e Estadão Conteúdo)

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