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Médico brasileiro conta experiência com infectados por ebola

Considerado um dos profissionais mais experientes no tratamento do ebola, Paulo Reis cuidou de doentes com o vírus na Guiné na primeira epidemia, em 2012

Paulo Reis: em toda Serra Leoa, há apenas um centro de tratamento, o do MSF (Carolina Pimentel/MSF/Reprodução/Facebook)

Paulo Reis: em toda Serra Leoa, há apenas um centro de tratamento, o do MSF (Carolina Pimentel/MSF/Reprodução/Facebook)

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Da Redação

Publicado em 21 de agosto de 2014 às 19h28.

Rio de Janeiro - Chega a 70% o índice de mortalidade dos pacientes infectados pelo vírus ebola em Serra Leoa, na África Ocidental, onde, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 783 pessoas já foram contaminadas.

Entretanto, os 30% dos pacientes restantes são o motivo pelo qual o médico carioca Paulo Reis, da organização não governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF), seguirá, pela segunda vez neste ano, para o país africano.

“Quando o paciente sai do isolamento e recebe alta, tem festa, fazemos questão de apertar a mão até para que as outras pessoas veja que ele está bem", disse Reis.

“É muito difícil descrever sentimentos, mas é uma emoção muito forte, colocar isso em palavras já não consigo”, acrescentou o médico, que veio de Serra Leoa há cerca de um mês, depois de tratar de 150 pacientes infectados.

Considerado um dos profissionais mais experientes no tratamento do ebola, Reis cuidou de doentes com o vírus na Guiné na primeira epidemia, em 2012, e considera o atual surto muito mais abrangente. “Nunca houve um número tão grande de pacientes, em uma área tão extensa. A doença está se espalhando e se tornou um problema amplo.”

Em entrevista nesta tarde, na sede da ONG no Rio, Reis comparou o medo do ebola ao que sente no trânsito do Rio de Janeiro.

“Quando temos conhecimento do problema e de todos os mecanismos necessários para proteção, desmistificamos”, disse ele, ao explicar que o protocolo rígido faz com que o médico não tenha contato físico com o paciente infectado.

Ele lembrou que, para entrar em um centro de tratamento de ebola, é preciso vestir uma roupa de proteção impermeável, que cobre o corpo e o rosto.

O calor provocado pelo uniforme é tanto que torna-se impossível atender o paciente por mais de 40 minutos: “dentro da roupa é sempre muito quente e, se houver sol, rapidamente chega-se à exaustão. Às vezes, a condensação embaça os óculos por dentro e, às vezes, é preciso sair pois não se enxerga nada.”

O trabalho é intenso: na última missão, eram atendidos, em média, 15 pacientes infectados por dia, em jornadas de cerca de 12 horas.

Em toda Serra Leoa, há apenas um centro de tratamento, o do MSF, porque o do governo foi fechado depois que funcionários foram infectados, lembrou Paulo Reis.

Para ele, mesmo que houvesse um caso importado de ebola no Brasil, o impacto seria pequeno e a doença seria rapidamente contida.

“Os hábitos culturais naqueles países contribuem para o contágio. É o caso dos rituais de enterro, em que se tem muito contato com a pessoa que morreu.”

Reis citou também o hábito de comer morcego e macaco, potenciais transmissores do ebola, entre os que facilitam a contaminação.

Se o surto é um perigo remoto no Brasil, nos países africanos atingidos pela doença, a situação é alarmante, alertou.

Antigamente, disse Reis, os surtos eram controlados em dois três meses, mas agora não dá para prever quando isso ocorrerá. "Dependerá da resposta das organizações envolvidas."

De acordo com Reis, em regiões onde as populações ainda não tiveram contato com a doença existe muita resistência ao atendimento médico e muita superstição em relação ao vírus

. Ele defedeu urgência no aporte de recursos internacionais para que o índice de mortalidade do vírus não continue crescendo.

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