Brasil

MEC recua da decisão de punir universidades por "balbúrdia"

Agora o mesmo contingenciamento planejado para elas será estendido a todas as universidades federais

Abraham Weintraub: a decisão ocorre após a repercussão negativa causada pelas declarações do ministro (Valter Campanato/Agência Brasil)

Abraham Weintraub: a decisão ocorre após a repercussão negativa causada pelas declarações do ministro (Valter Campanato/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de maio de 2019 às 10h07.

Brasília e São Paulo - O Ministério da Educação (MEC) recuou da decisão de punir com bloqueio de recursos especificamente universidades que promovessem "bagunça" em seus campus.

Agora o mesmo contingenciamento planejado para elas será estendido a todas as universidades federais. Mas incidirá sobre a verba prevista para o segundo semestre.

A decisão ocorre após a repercussão negativa causada pelas declarações do ministro Abraham Weintraub, que anunciou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que a promoção de "balbúrdia" nos câmpus e de festas inadequadas ao ambiente universitário seria um dos critérios usados para a escolha das instituições afetadas pelo congelamento de verbas.

Três universidades já haviam sido alvo das medidas, segundo o ministro: a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Todas já haviam identificado desde a semana passada o bloqueio de 30% no orçamento para despesas discricionárias, usadas para custear água, luz, limpeza, e outros serviços, conforme confirmaram as próprias universidades.

De acordo com o ministro, as universidades que promovessem "bagunça" ou "evento ridículo", em vez de melhorar o desempenho acadêmico, teriam recursos bloqueados. O ministério avaliou, porém, que a decisão poderia ser questionada na Justiça e, por isso, decidiu recuar. O plano é aplicar agora o contingenciamento de cerca de 30% para todas as universidades do País até que a pasta publique regras mais claras para a definição de cortes.

Isonomia

Por meio de nota, o MEC informou que "o critério utilizado para o bloqueio de dotação orçamentária foi operacional, técnico e isonômico para todas as universidades e institutos" em decorrência do contingenciamento de recursos decretados pelo governo, que definiu bloqueio de R$ 5,8 bilhões do orçamento da pasta.

Disse ainda que o MEC "estuda aplicar outros critérios como o desempenho acadêmico das universidades e o impacto dos cursos oferecidos no mercado de trabalho".

Nesta terça-feira, 30, o ministério, também por meio de nota, havia destacado que o bloqueio de 30% já atingia universidades e destacou apenas as três citadas por Weintraub na entrevista: UFF, UFBA e UnB.

Em entrevista à TV Globo, o secretário de Educação Superior, Arnaldo Barbosa de Lima Junior, confirmou as informações e alegou "bloqueio preventivo", que ainda pode ser revisto, conforme avance a situação econômica do País.

"A gente espera que, se a Reforma da Previdência for aprovada, a gente tenha um cenário positivo na economia, com reforço de arrecadação. Daí a gente pode ter uma folga no orçamento das universidades no segundo semestre."

Preocupação

Especialistas em Educação e entidades também voltaram a fazer críticas nesta terça-feira. Simon Schwartzman, membro da Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes), disse ser preocupante que o ministro tome decisões importantes, como o recurso que estará disponível para uma universidade, com base em "acusações, sem evidências, sem processo ou chance de defesa".

"Não se faz política pública dessa maneira. É muito inadequado cortar recursos sem ter critérios claros", diz.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) publicou uma nota em que declara o presidente Jair Bolsonaro e Abraham Weintraub "inimigos da Educação". E prometia manifestações a partir de segunda-feira, na UFF. "Nossos atos vão ser dentro das universidades", disse a presidente, Marianna Dias. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:abraham-weintraubFaculdades e universidadesGoverno BolsonaroMEC – Ministério da Educação

Mais de Brasil

Acidente com ônibus escolar deixa 17 mortos em Alagoas

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP