Região de Mata Atlântica, no RJ: segundo a SOS Mata Atlântica, a taxa anual de desmatamento registrada neste período é a maior desde 2008 (Frans Lanting/Corbis)
Da Redação
Publicado em 27 de maio de 2014 às 18h21.
São Paulo - A Mata Atlântica perdeu 235 quilômetros quadrados (km²) de vegetação entre 2012 e 2013, o que representa um aumento de 9% no ritmo da devastação em relação ao último período avaliado (2011-2012), de acordo com o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, elaborado pela organização não governamental (ONG) SOS Mata Atlântica, em parceria com Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgado hoje (27). A área equivale a 24 mil campos de futebol. Esta é a nona edição do estudo.
“A Mata Atlântica é um patrimônio nacional, um bioma extremamente ameaçado, porque uma parte da população brasileira vive nessa área e depende de seus recursos, então o esforço e a participação da sociedade são importantes para que preservemos essas florestas e tenhamos a garantia de serviços ambientais que beneficiam boa parte da população brasileira”, disse a diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica e coordenadora do atlas, Marcia Hirota.
A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos em biodiversidade, com até 60% de suas espécies existindo apenas nessa área. Segundo a SOS Mata Atlântica, a taxa anual de desmatamento registrada neste período é a maior desde 2008, quando foi apontada a perda de 343,1 km² de floresta. Entre 2008 e 2010 a taxa média anual de destruição foi de 151,8 km².
Atualmente, restam apenas 8,5% de remanescentes florestais acima de 100 hectares. Somados todos os fragmentos de floresta nativa acima de 3 hectares, restam 12,5% da área original do bioma, que tinha 1,3 milhão de km² quando o Brasil foi descoberto.
Ao todo, 17 Estados são abrangidos oficialmente pela Mata Atlântica, e, pelo quinto ano seguido, Minas Gerais foi um dos estados que mais destruíram o bioma, com perda de 84,3 km² de floresta. “Nas edições anteriores, Minas Gerais ocupou o segundo lugar, então o estado sempre esteve no topo do desmatamento da Mata Atlântica. Desde os últimos anos temos feito alertas tanto ao governo do Estado quanto aos diferentes setores para que possamos tirar Minas Gerais do topo da lista, porque é o estado que possui maior área de floresta preservada”.
O Piauí aparece em seguida no ranking do desmatamento no período, com menos 66,3 km² de floresta. A Bahia foi o terceiro estado que mais desmatou, com 47,7 km² a menos de vegetação no intervalo avaliado. Em São Paulo, houve queda de 51% no desmate na comparação com o último período. Mesmo assim, o estudo mostra que quase 1 km² de floresta desapareceu entre 2012 e 2013. Nesse período, o Rio de Janeiro registrou perda de 0,1 km².
O pesquisador e coordenador técnico do estudo pelo Inpe, Flávio Jorge Ponzoni, explicou que o objetivo do atlas é fazer um diagnóstico e não o trabalho de fiscal ou de polícia. “Fazemos um mapeamento global do bioma como um todo. Antes fazíamos a atualização de cinco em cinco anos, depois passamos a fazer a cada dois anos e agora anualmente. Isso torna o Atlas mais eficaz na identificação de áreas desflorestadas”.
O diretor de Políticas Públicas da ONG, Mario Mantovani, ressaltou que há exatos 26 anos a Mata Atlântica foi incluída na Constituição como o único bioma que tem uma regulamentação. Entretanto, continua sofrendo pressão do desmatamento.
Segundo Mantovani, há uma contradição entre o cumprimento da lei federal e o crescimento do desmatamento em Minas Gerais e no Piauí porque esses estados não reconhecem a Mata Atlântica como área a ser preservada. “Outro ponto que percebemos foi a expansão urbana. Mas conseguimos uma forma de mobilização prevista na lei, que são os planos municipais. Se o município fizer sua regularização pode identificar como usar cada área”, disse.