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Marta (PMDB): chega de improviso e beligerância

Camila Almeida A corrida à prefeitura de São Paulo tem uma peculiaridade: três ex-prefeitos na disputa. Desses, a mais bem colocada nas pesquisas é a senadora Marta Suplicy (PMDB), com 16% das intenções de voto segundo a última estimativa do Datafolha, divulgada nesta sexta-feira. Ela está atrás do deputado Celso Russomano (PRB), com 31%, mas à […]

MARTA SUPLICY: “Eu coloquei a cidade num ritmo de urbanismo que a população teve dificuldade em compreender” / Germano Lüders

MARTA SUPLICY: “Eu coloquei a cidade num ritmo de urbanismo que a população teve dificuldade em compreender” / Germano Lüders

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Da Redação

Publicado em 26 de agosto de 2016 às 16h46.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h05.

Camila Almeida

A corrida à prefeitura de São Paulo tem uma peculiaridade: três ex-prefeitos na disputa. Desses, a mais bem colocada nas pesquisas é a senadora Marta Suplicy (PMDB), com 16% das intenções de voto segundo a última estimativa do Datafolha, divulgada nesta sexta-feira. Ela está atrás do deputado Celso Russomano (PRB), com 31%, mas à frente da ex-prefeita Luiza Erundina (PSOL) e do atual prefeito Fernando Haddad (PT). Marta era um dos nomes mais conhecidos do PT e, agora no PMDB, forma uma inusitada chapa com Andrea Matarazzo, que trocou o PSDB pelo PSD. A EXAME Hoje, ela diz que a dupla traz os melhores valores de petistas e tucanos. E afirma que é hora de São Paulo deixar o improviso e a beligerância de lado para voltar a crescer. A seguir, os principais trechos da entrevista.

A senhora já foi prefeita uma vez. Por que concorrer de novo?
Porque eu tenho a capacidade, a bagagem, a capacidade de diálogo demonstrada no exercício da prefeitura anterior. As marcas dos últimos 20 anos em São Paulo são da minha gestão. Eu me sinto bastante qualificada para exercer o cargo e com muita vontade e determinação de recuperar o que foi abandonado no meio, continuar o que deu certo e fazer o novo. As grandes cidades têm um problema comum: as periferias. É preciso um resgate da cidadania — com saneamento, habitação, programas de qualificação. Mas também há problemas que vão além do município, como o desemprego.

A senhora não foi reeleita quando foi prefeita. Por que acredita que o resultado pode ser diferente agora?
Eu tive uma aprovação de 48%. Nós tivemos vários problemas, mas não foi da gestão. É uma interrogação que sempre faço, já pensei em várias possibilidades. Foi um acúmulo. Desde ter casado com um argentino (risos) até ter feito muita coisa junto, muita obra junto. Eu coloquei a cidade num ritmo de urbanismo que a população teve dificuldade em compreender. Eu fiz três túneis ao mesmo tempo. Fiz a Ponte Estaiada, corredor de ônibus por toda a cidade. Até as pessoas entenderem que aquilo era um benefício… A cidade ficou muito tumultuada. Isso também ajudou a não eleição. Fora os CEUs, feitos na periferia da periferia da periferia, e não para uma classe média baixa, que se sentiu muito indignada de não ter acesso. Não me arrependo de ter feito onde eu fiz, mas acho que pesou.

A senhora critica muito o atual plano diretor. Poderia explicar o que está errado?
O plano diretor pode ser revisto. Há vários equívocos. Um deles são os predinhos de oito andares, que estão proibidos dentro do miolo dos bairros residenciais. As pessoas querem moradia em lugares onde existe infraestrutura, então não tem porque não adensar esses lugares. O Plano Diretor é feito para o longo termo, mas ele tem que ser reajustado. O plano original que eu fiz não tinha sido ajustado, então os problemas na cidade foram se acumulando, principalmente em áreas de manancial, em áreas de habitação popular… E esse novo plano vai ter que ser revisto. Nós vamos rever não inteiramente, porque ele tem muita coisa de que eu sou favorável também. Mas tem muita coisa que nós vamos rediscutir com os novos vereadores e com a cidade.

Como a senhora pretende melhorar a relação com os vereadores, uma das grandes críticas em relação à atual gestão?
Conversando. Haddad não tem nem mesa de negociação. São Paulo virou uma cidade do improviso e da beligerância. Você põe o Uber contra táxi, você põe ciclista contra motorista, elite contra centro… Meu sonho para São Paulo é uma cidade com mais harmonia, mais beleza, e São Paulo pode planejar isso. Nós podemos recapear a [as ruas da] cidade, acabar com essa buraqueira, com a imundice, com a barulheira pra todo lado… Então eu vou focar nos primeiros seis meses em uma ação que pode ser feita rapidamente, a de tornar a cidade mais humana, mais habitável.

O PMDB perdeu nomes fortes em São Paulo, como Gabriel Chalita, que decidiu continuar ao lado do prefeito. A Luciana Temer também saiu do partido. A senhora chegou há pouco. O partido está rachado?
Não. Não há nenhum problema que essas pessoas tenham saído. Porque o Chalita saiu para ser candidato do Haddad, vai fazer campanha com o Haddad. E a Luciana Temer sempre foi filiada ao PMDB, mas nunca atuou politicamente. E acrescentamos quadros bastante bons do PSDB. Eu sinto que eu trouxe, com a minha experiência, os valores que iniciaram o PT: ética, combate à desigualdade, mulheres, LGBT… Eu entrei no PT por causa disso. Eu trago os melhores valores do PT. E o Andrea Matarazzo também traz os melhores valores pelos quais o PSDB foi criado. Tanto é que está uma cizânia dentro do PSDB. Temos os melhores valores dos dois partidos, e estamos com uma proposta nova.

O fato de vocês dois serem novatos no PMDB mostra que o partido ainda não tem ainda uma identidade formada em São Paulo?
Nós temos perfeita clareza de o que fazer na cidade porque eu fui prefeita. O Matarazzo foi vereador e secretário tanto do Serra quanto do Kassab. Então ele tem uma experiência de conhecimento da cidade muito atualizada. E, para minha surpresa, estamos nos dando muito bem, temos as mesmas visões.

O que vai pesar mais no âmbito municipal: seu histórico no PT ou seu apoio ao impeachment?
Eu posso dar um exemplo. Na periferia, eu no começo tentei explicar minha mudança para as lideranças petistas e para pequenos grupos de eleitores. Até que um dia me falaram: “olha, ninguém está interessado em para qual partido você está indo. A gente não acredita em partido. A gente vota em você, no que você fez…”. Isso na periferia. Na classe média alta, eu vou a um restaurante e o pessoal fala “que bom, sempre gostei de você, mas nunca votei porque você era do PT”. É a minha experiência, posso dizer, de cotidiano. Quem anda comigo na rua ouve.

O racha do PSDB pode ajudar a senhora a chegar ao segundo turno?
Eu acho que o governador cruzou uma linha perigosa [ao lançar o nome de João Doria nas prévias do PSDB]. Entendo essa cizânia dentro do partido porque ele não está sendo acompanhado pelos grandes líderes, com os quais com os quais o PSDB cresceu e se desenvolveu. Nós não temos ainda delineado como isso vai caminhar.

A senhora imaginava que José Serra iria apoiar a ida de Andrea Matarazzo para a sua chapa?
O Serra tinha muito interesse nessa coligação política. Eu só não sabia que eu ia me dar tão bem pessoalmente com o Matarazzo.

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