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Dilma teria alertado sobre prisão, diz casal de marqueteiros

Mônica disse aos investigadores em sua delação que a ex-presidente ligou para a República Dominicana, onde o casal estava, para avisar que seriam presos

João Santana e Mônica Moura: na delação, o casal aponta que Dilma mostrava preocupação com o avanço das investigações (Rodolfo Buhrer/Reuters)

João Santana e Mônica Moura: na delação, o casal aponta que Dilma mostrava preocupação com o avanço das investigações (Rodolfo Buhrer/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de maio de 2017 às 19h47.

Última atualização em 11 de maio de 2017 às 20h45.

Brasília - O marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, delatores da Operação Lava Jato, contaram ao Ministério Público Federal (MPF) sobre a troca de informações com a ex-presidente Dilma Rousseff a respeito do avanço da Lava Jato.

Os dois detalharam a criação de um e-mail em comum com a petista no qual eram avisados sobre a investigação.

Mônica disse aos investigadores em sua delação que Dilma ligou para a República Dominicana, onde o casal estava, para avisar João Santana que ele e a mulher seriam presos.

A ligação teria sido feita em 21 de fevereiro do ano passado. O casal foi alvo da 23ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada no dia seguinte.

Na delação, Santana e Mônica apontam que Dilma mostrava preocupação com o avanço das investigações.

No anexo, Monica Moura relata que estava de férias em Nova York em novembro de 2014 quando recebeu ligação do então ministro Edinho Silva, que avisou que Dilma queria falar pessoalmente de forma urgente.

A empresária pegou um voo à noite, partindo dos Estados Unidos para Brasília e foi recebida no aeroporto por Giles Azevedo, assessor de confiança da então presidente.

No Palácio da Alvorada, residência oficial da presidente da República, conversou com Dilma no jardim. De acordo com o anexo entregue ao MPF, "a presidente estava preocupação que as investigações chegasse a conta da Suíça de Monica Moura e João Santana no exterior, o que a colocaria em perigo, porque sabia que a Odebrecht tinha realizado o pagamento de suas campanhas através de depósitos de propinas na conta do casal".

Dilma teria dito a Mônica: "precisamos manter contato frequente de uma forma segura para que eu lhe avise sobre o andamento da operação, estou sendo informada de tudo frequentemente pelo José Eduardo Cardozo (então ministro da Justiça)".

A empresária teria criado então no computador da presidente uma conta no gmail, com nome e dados fictícios, com senha compartilhada entre as duas e Giles.

Segundo a delatora, elas combinaram que, se houvesse notícia sobre avanço da Lava Jato em relação ao casal o aviso seria feito através desse e-mail.

Pelo combinado, quando Dilma recebesse alguma informação de Cardozo, Giles seria responsável por mandar uma mensagem à empresária com um sinal para que checasse o e-mail.

As mensagens escritas pela presidente ficariam na caixa de rascunhos do e-mail, para não circularem, e Mônica acessaria a conta de onde estivesse.

"Por esse e-mail, Monica Moura foi sistematicamente informada sobre o andamento da operação", consta no anexo da empresária entregue ao MPF.

Já em 2015, no dia 1º de maio, quando o casal foi gravar pronunciamento da presidente, Dilma demonstrou preocupação com a Lava Jato.

Segundo o documento, a petista se preocupava pois "as coisas estavam avançando rapidamente e ela não tinha controle sobre a operação". Elas criaram então um segundo e-mail.

Por meio das duas contas, Mônica recebia informações sobre a Lava Jato. Por esse e-mail, a empresária foi avisada que também estava sendo investigada na Lava Jato - e não apenas seu marido.

Em 19 de fevereiro de 2016, de acordo com a delatora, ela foi avisada pelo e-mail secreto de que mandatos de prisão contra os dois haviam sido assinados.

Como provas para corroborar o que foi dito, a delatora entregou as duas contas de e-mail ativas, a passagem aérea de um bate volta e volta de Nova York para o Brasil, o seu notebook, entre outros documentos.

João Santana também fala do chamado urgente feito por Dilma para que Mônica viajasse de Nova York para Brasília. Segundo ele, Dilma recomendou que o casal permanecesse o maior tempo possível fora do país, nos locais onde realizavam campanhas eleitorais.

A então presidente chegou a perguntar ao marqueteiro, segundo a delação, se pagamentos da Odebrecht pelos serviços da campanha eleitoral tinham sido feitos "de forma segura".

Segundo Santana, Dilma relatou que Marcelo Odebrecht fazia chegar, por meio de interlocutores, informações sobre o pagamento de campanhas eleitorais como um "recado" ao Planalto.

Em nota, a assessoria de imprensa da ex-presidente Dilma Rousseff informa que "João Santana e Monica Moura prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores".

"Apesar de tudo, a presidente eleita acredita na Justiça e sabe que a verdade virá à tona e será restabelecida", diz a nota da assessoria da ex-presidente.

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