Daniel Dantas: o objetivo seria fornecer dinheiro em espécie para o banco de Daniel Dantas (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de novembro de 2017 às 20h08.
São Paulo - Em um dos anexos do seu acordo de colaboração premiada, o marqueteiro do PMDB do Rio de Janeiro Renato Pereira afirma ter firmado um contrato falso com o Opportunity com o objetivo de fornecer dinheiro em espécie para o banco de Daniel Dantas.
Pereira é proprietário da Agência Prole, responsável por campanhas eleitorais de Sérgio Cabral, Eduardo Paes e Luiz Fernando Pezão.
As informações constam no anexo 6 do acordo firmado com a Procuradoria-geral da República. Os termos da delação de Pereira foram tornados públicos pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), na terça-feira, 14.
O ministro também devolveu a delação à PGR para que sejam adequados temas como a fixação da pena pela PGR, a autorização concedida ao delator de fazer viagens internacionais, o valor da multa fixado em R$ 1,5 milhão e a suspensão do prazo de prescrição.
De acordo com o marqueteiro, em 2015, um dos sócios da sua empresa de comunicação informou conhecer uma "pessoa do banco Opportunity que lhe havia informado que o banco tinha interesse de obter dinheiro em espécie".
Segundo esse sócio, apontando como sendo Willian Passos, o banco de Daniel Dantas teria a capacidade de "absorver" até R$ 2 milhões.
Em seu depoimento, Pereira explica que por conta da campanha eleitoral do ano anterior, 2014, eles possuíam na agência Prole "recursos não contabilizados em espécie". Pereira conta ainda que então enviou por meio de Passos o valor de R$ 300 mil para um "emissário" do Opportunity.
Outros dois sócios da empresa, diz Pereira, também repassaram cerca de R$ 300 mil cada ao banco. Responsável pelo contato com o emissário do Opportunity, Passos teria repassado R$ 500 mil ao banco. No total, os valores citados por Pereira alcançam R$ 1,4 milhão.
Para justificar o seu repasse de R$ 300 mil, Pereira explicou aos procuradores Maurício Gotardo, João Gabriel Moraes, Sérgio Gomide e Lincoln Pereira que emitiu uma nota fiscal da empresa Conecta "simulando o exercício de um serviço" e, depois disso, o banco lhe depositou a quantia de R$ 375 mil.
"Para simular a prestação de serviço foi utilizado um dossiê impresso com recortes de jornal contendo matérias negativas para o Opportunity no contexto da disputa contra a Telecom Itália", afirma o delator. Segundo ele, esse material havia sido preparado pelo próprio banco.
Opportunity e o banqueiro Daniel Dantas foram os principais alvos da operação Satiagraha, deflagrada pela Polícia Federal em 8 de julho de 2008.
Dantas chegou a ser preso por suspeita de praticar os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, mas foi solto pelo STF.
A operação e todo o material da investigação foram anuladas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2011, e a decisão foi ratificada pelo STF, em junho de 2015.
Consultado pela reportagem, o Opportunity se manifestou por meio de nota: "é preciso esclarecer em relação a delação de Renato Pereira que: O Opportunity não contratou a Prole e nunca teve contato com Renato Pereira. O Opportunity contratou empresas de assessoria de comunicação dos jornalistas Marcelo Carneiro e William Passos para calcular o valor do dano decorrente do uso doloso da imprensa, para procedimentos internacionais - que correm sob sigilo. A afirmativa do marqueteiro de que teria simulado um contrato de prestação de serviços com o Banco Opportunity é falsa. A mentira de Renato Pereira visa desacreditar os laudos que foram apresentados em demandas internacionais e serve sob medida para os concorrentes do Opportunity", diz o texto.