Marina Silva: "Eu não consigo imaginar como estaríamos se pelo menos parte da Justiça não estivesse socorrendo a política nesse caos ético que estamos vivendo, mas isso não se sustenta por muito tempo" (Antonio Milena/VEJA)
Reuters
Publicado em 25 de julho de 2018 às 19h19.
São Paulo - A pré-candidata à Presidência da República da Rede, Marina Silva, disse que é preciso questionar as razões pelas quais a Justiça está interferindo na política e que medidas contra corrupção poderão criar meios para que a Justiça não precise mais "ir ao socorro da política".
"Hoje há um reclame de que a política está tendo interferência da Justiça, mas talvez a gente tenha que questionar quais são as razões pelas quais a Justiça está interferindo na política", disse a presidenciável nesta quarta-feira após reunião com a Transparência Internacional sobre o lançamento de um pacote de 70 medidas contra corrupção.
A ex-senadora respondeu ao ser questionada sobre a declaração do candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva só tem chance de sair da cadeia se "a gente assumir o poder e organizar a carga".
"Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político", declarou Ciro em entrevista a uma TV maranhense no dia 16 deste mês.
Marina saiu em defesa da atuação do Judiciário nesta quarta.
"Eu não consigo imaginar como estaríamos se pelo menos parte da Justiça não estivesse socorrendo a política nesse caos ético que estamos vivendo, mas isso não se sustenta por muito tempo", declarou a ex-senadora, argumentando que há pessoas dentro do Executivo que estão lá para sabotar o trabalho do Judiciário. Ela, no entanto, não citou nomes.
"Quem está no mais alto cargo da República, quem estava, passava informações que jamais poderiam ser passadas. Quando a Justiça tiver a tranquilidade de que não está sendo sabotada, com certeza nem terá tanta exposição pública, porque estará fazendo seu trabalho de forma tranquila, sem medo, sem sobressalto", disse Marina, garantindo que defende a autonomia dos Poderes.
"O questionamento que eu faço é as razões pelas quais a Justiça hoje investiga e pune os que não têm foro privilegiado, ou até mesmo aqueles que tinham, mas que ficou tão latente a corrupção que praticam, é porque houve sim crimes que foram praticados contra a gestão pública. Não foi uma acusação leviana, autoritária, mentirosa em relação aos que já estão pagando por seus crimes", afirmou.
Embora não tenha dado nomes, em outras ocasiões Marina já defendeu que uma eleição sem Lula, de quem foi ministra do Meio Ambiente, seria o "cumprimento da lei".
"Se alguém acha que uma eleição roubada não é uma fraude, alguém que acha que alguém que cometeu um erro e que, assegurado o mais legítimo direito de defesa não deva cumprir a pena e que se cumprir a pena que lhe foi imputada passa a ser uma fraude, tem alguma coisa muito errada no imaginário político do Brasil", disse em entrevista à Reuters no início de julho.
A presidenciável afirmou nesta quarta-feira que segue tendo conversas sobre alianças para a eleição deste ano e sobre o cargo de vice em sua chapa. Ela citou o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, que é filiado à Rede, e Miro Teixeira, deputado federal pela Rede do Rio de Janeiro.
"Se eu estou dialogando com vários partidos, eu não posso ficar citando nomes que estamos no processo de diálogo, até porque obviamente um candidato à Presidência busca o seu vice e isso é fundamental, principalmente de experiências tão traumáticas que nosso país tem com vice e titular", explicou.
Os partidos têm até 5 de agosto, quando vence o prazo das convenções partidárias, para definir as candidaturas.