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Maria do Rosário recebe solidariedade de ministras

As ministras Eleonora Menicucci e Ideli Salvatti assinaram nota de solidariedade à Maria do Rosário e repúdio ao deputado Jair Bolsonaro, que ofendeu a deputada


	Maria do Rosário: deputada chamou Bolsonaro de estuprador por incentivar a prática mesmo sem ter consciência disso
 (Agência Brasil/Agência Brasil)

Maria do Rosário: deputada chamou Bolsonaro de estuprador por incentivar a prática mesmo sem ter consciência disso (Agência Brasil/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2014 às 19h14.

Brasília - As ministras Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, e Ideli Salvatti, de Direitos Humanos, assinaram uma nota de solidariedade à deputada Maria do Rosário (PT-RS) e repúdio ao deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) por ofensas dirigidas à deputada Maria do Rosário.

Nessa terça-feira (9), em discurso no plenário da Câmara, Bolsonaro disse que só não estupraria a deputada porque ela “não merece”.

"Fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos dias você me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu disse que não estuprava você porque você não merece. Fica aqui para ouvir", discursou Bolsonaro da tribuna da Câmara.

O parlamentar repetiu as mesmas palavras que usou em 2003 em discussão com a deputada.

Na época, Maria do Rosário o havia chamado de estuprador, por ele incentivar essa prática mesmo sem ter consciência disso, e ele a empurrou e disse que ela era uma "vagabunda".

A agressão verbal de ontem ocorreu após Maria do Rosário discursar, no plenário da Câmara, sobre os trabalhados da Comissão Nacional da Verdade, que entregou hoje (10) o relatório final à presidenta Dilma Rousseff.

A comissão investiga crimes ocorridos durante a ditadura militar (1964-1985), e Bolsonaro é um dos maiores críticos do trabalho por não incluir representantes dos militares e não investigar crimes cometidos pelos militantes de esquerda.

Nesta quarta-feira, ao ler a nota de repúdio, durante cerimônia de entrega do Prêmio Direitos Humanos 2014, Menicucci lembrou que desde 1990 o Brasil considera o estupro um crime hediondo.

“É inaceitável que um deputado utilize seu posto para reverberar discurso de ódio e de incitação ao crime, que atinge, humilha e reduz as mulheres”, disse.

No mesmo evento, Ideli declarou que tinha recebido informação que estavam chegando à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) representações da sociedade civil contra o deputado. Segundo ela, uma pessoa com esse tipo de comportamento não merece representar o Congresso Nacional.

Após a premiação, a ministra Ideli explicou que como se trata de quebra de decoro e incitação ao crime, é possível abrir um processo de cassação. “É um comportamento reincidente. Não é nem a primeira, nem a segunda e nem a terceira vez que há uma afronta dessa magnitude feita por esse parlamentar”. Segundo ela, entidades como a OAB e partidos políticos já estão se manifestando .

“Então a gente espera que o Congresso Nacional dê uma resposta à altura para que alguém com mandato não fique incitando crimes hediondos no Parlamento brasileiro. Desta vez foi gravíssimo, porque foi da tribuna [da Câmara]. Das outras vezes tinha sido no corredor, no meio do plenário. Mas dessa vez não, ele estava no exercício indiscutível do seu mandato”, disse.

Ainda ontem, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse que a Câmara não pode permitir que parlamentares tenham comportamento incompatível com o decoro parlamentar. Em conjunto, a bancada feminina e a Procuradoria da Mulher da Câmara dos Deputados fizeram uma nota de repúdio à atitude do deputado.

"Não é a primeira vez que o referido deputado usa das prerrogativas do mandato parlamentar para transgredir o Regimento Interno, ficando à vontade para promover diferentes formas de violência. Incitar este ato de barbárie é ainda mais grave quando recordamos que, apenas em 2013, o Brasil registrou 50 mil casos de estupro, podendo ter chegado ao alarmante patamar de 143 mil casos, devido justamente à banalização desta forma de violência", diz a nota.

O Partido dos Trabalhadores também divulgou, ontem, nota de repúdio. A bancada do PT disse que decidiu "tomar todas as medidas judiciais e regimentais contra o deputado Jair Bolsonaro.

“A barbárie cometida hoje [9] no plenário da Câmara ofende a cidadania brasileira e as consciências das pessoas que lutam por uma sociedade civilizada, tolerante e democrática. No âmbito do Parlamento e do Judiciário, todas as iniciativas serão tomadas por nós, parlamentares da Bancada do PT, já que as declarações – ameaças – de Bolsonaro demonstram total desrespeito à condição de representante do povo deste país".

Na internet, uma petição que pede a cassação do deputado já tem mais de 70 mil assinaturas. A meta é chegar a 75 mil.

O deputado foi reeleito este ano para o seu sétimo mandato no Congresso Nacional. Ele recebeu da população fluminense com 464.418 votos.

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