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Manifestações partem de três pontos, diz professor da FGV

“Temos a percepção de que as pessoas exigem uma nova forma de gestão do espaço urbano”, afirmou o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Oscar Vilhena


	Protestos: o vice-presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da FGV, Lucas Borges, que participou de alguns dos protestos, disse ter ficado chateado com as agressões aos partidos e movimentos sociais.
 (REUTERS/Gustavo Vara)

Protestos: o vice-presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da FGV, Lucas Borges, que participou de alguns dos protestos, disse ter ficado chateado com as agressões aos partidos e movimentos sociais. (REUTERS/Gustavo Vara)

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Da Redação

Publicado em 24 de junho de 2013 às 17h01.

São Paulo – O diretor da Faculdade de Direito da Fundação Getulio Vargas, Oscar Vilhena Vieira, disse hoje (24) que os protestos protagonizados pela população brasileira nas últimas duas semanas partem de três pontos de descontentamento e desconforto. O primeiro está relacionado com a discrepância entre os direitos estabelecidos juridicamente e o que as pessoas experimentam diariamente, e entre as expectativas estabelecidas pelas elites políticas e a realização de um bem-estar prometido, mas que não existe.

Palestrante no debate Eclosão das Manifestações Sociais, o diretor disse há ausência de identificação e uma enorme frustração com relação ao sistema de representação política e descontentamento com a forma de gestão da cidade e da mobilidade. “Temos a percepção de que as pessoas exigem uma nova forma de gestão do espaço urbano”. Vilhena ressaltou que é preciso identificar o que é preciso fazer para que os munícipes se apropriem de sua cidade em termos políticos, a partir de uma reconfiguração dos modelos de democracia no âmbito local.

O vice-presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da FGV, Lucas Borges, que participou de alguns dos protestos, disse ter ficado chateado com as agressões aos partidos e movimentos sociais. “O que vi lá e li de relatos foram atos de profunda ignorância política do cidadão comum, que tinha razão porque tem recebido pancada dos partidos, mas não se pode tirar todo mundo do poder”.

Lúcia Nader, diretora da organização não-governamental Conectas Direitos Humanos, disse que a reação ao comportamento da Polícia Militar durante a manifestação de quinta-feira, quando diversos manifestantes foram feridos, é uma forma de lutar pela liberdade de expressão e manifestação. “Se questionou a política de segurança pública que não é mais viável, nem para aqueles que concordam conosco politicamente e nem para aqueles que eventualmente concordam”. Lúcia destacou ainda que de alguma maneira as pessoas estão nas ruas pedindo por pontos que são direitos de qualquer pessoa, como mobilidade, saúde, educação.


Aluno de direito da FGV no Rio de Janeiro, Ronaldo Lemos, atua como analista de mídia e destacou que as demandas que estão nas ruas, nos protestos, estavam nas redes sociais antes, mas a internet vinha sendo pensada como algo à parte da sociedade brasileira e não era necessário prestar atenção. “Mas nós sabíamos que a internet estava nas comunidades carentes, nas lan houses, que foram um fator fundamental para levar a internet a todos os lugares do Brasil”.

Lemos destacou que até o momento as autoridades não discutiam o que aparecia nas redes sociais, ao contrário do que acontecia com os jornais, que pautavam a agenda de discussão do dia. “Entretanto por trás de algumas das ideias colocadas na internet havia pessoas que não estavam contentes expressando sua opinião. Aí elas expressaram cada vez mais, foram ignoradas cada vez mais e resolveram partir para as ruas. É fascinante que o transporte público tenha sido o estopim porque isso é a síntese dos problemas que o país vive hoje”.

O aluno falou que tudo o que acontece na rede e nas mídias sociais tem um círculo de atenção muito rápido. “Por isso a janela de oportunidades que temos para fazer alguma coisa no Brasil é brevíssima, que pode durar duas semanas, com todas as manifestações sendo apenas uma grande memória em vídeos nas redes sociais que ninguém mais acessa porque tem coisas mais interessantes para ver”, destacou. Segundo ele, é preciso entender que o movimento e as manifestações não são autossustentáveis, nem na sociedade, nem na mídia.

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