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Manifestações do 7 de setembro podem impactar economia?

Aumento das incertezas políticas pressiona taxa de juros futura e preocupa investidores; falta de confiança em relação ao cenário fiscal já impactava o mercado

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro começam a se concentrar em Brasília na noite de segunda, 6 (by Luiz Souza/NurPhoto via Getty Images/Getty Images)

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro começam a se concentrar em Brasília na noite de segunda, 6 (by Luiz Souza/NurPhoto via Getty Images/Getty Images)

CA

Carla Aranha

Publicado em 7 de setembro de 2021 às 08h34.

Última atualização em 7 de setembro de 2021 às 09h59.

Em meio a um contexto econômico desafiador, com a inflação em alta e a revisão de expectativas de crescimento para este ano e 2022, qualquer sinal enviesado na arena política pode representar um solavanco a mais nesse cenário, na visão de economistas e cientistas políticos. Um dos impactos mais visíveis, que já vem sendo observado em função das incertezas econômicas, é o aumento dos juros futuros e a maior cautela dos investidores.

“O prêmio de risco do Brasil já está alto, com o mal-estar causado pelo aumento das tensões políticas e preocupações com a questão fiscal”, diz André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos. Caso as manifestações deste 7 de setembro alcancem um tom acalorado, a previsão é de acirramento da crise política, com reflexos no cenário macro.

O embate entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o governo (e seus apoiadores) vem escalando há alguns meses, com episódios como a prisão ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, por críticas contundentes aos magistrados e ameaças.

“Ao mesmo tempo, o presidente Bolsonaro começou a aumentar a pressão sobre o STF, em uma queda de braço que não ajuda em nada o país e provoca, isso sim, um recrudescimento da falta de confiança no curto e médio prazo”, diz o cientista político André César, da Hold Assessoria. “E é fato conhecido que ruídos na política têm repercussão direta em como o mercado vê os rumos do país”.

O dia promete ser cheio de emoções – apoiadores do presidente Bolsonaro começaram a se reunir nesta segunda, 6, à noite em Brasília, com buzinaços e rompimentos aos bloqueios policiais na Esplanada dos Ministérios. Depois de discursar na capital pela manhã, Bolsonaro deve embarcar para São Paulo, onde se encontra com defensores do governo na avenida Paulista, à tarde. Deve haver manifestações também em outras capitais e cidades menores.

Piora de indicadores

O Brasil já joga com outros fatores que não facilitam a atração de investimentos e a estabilidade da curva de juros, como a preocupação com a responsabilidade fiscal – a possibilidade de parcelar os precatórios, as dívidas do governo federal, se tornou a última cereja do bolo desse imbróglio. Os resultados macroeconômicos também não têm ajudado.

O último boletim Focus, do Banco Central, divulgando nesta segunda, 6, indica uma alta da expectativa da taxa Selic para o final do ano, agora estimada em 7,63%, ante 7,5% da previsão anterior. Também houve uma revisão sobre o Produto Interno Bruto (PIB) – os economistas ouvidos pelo Banco Central avaliaram que a economia deve crescer 5,1% este ano, contra 5,2% da estimativa anterior. Para 2022, a expansão do PIB ficaria restrita a 1,9%.

O mercado financeiro trabalha com uma taxa de inflação de 4%, em média, para 2022, e um risco de estagnação econômica. “A calibragem da crise política pode representar um estresse a mais no cenário macroeconômico”, diz o analista político André César, da Hold Assessoria. “É tudo o que não precisamos neste momento”.

O mercado ainda deve rever as projeções para este ano e 2022 – o comportamento do clima no terceiro trimestre deverá ser uma das chaves da virada, para melhor ou pior. Se as chuvas se intensificarem com a proximidade do verão, a partir de outubro, a crise hídrica poderá ter um alívio. Caso contrário, a previsão é de piora.

Um estudo da RPS Capital mostra que o PIB pode perder 1,4 ponto percentual este ano caso haja uma redução de consumo de carga de energia de 10%, 8 pontos percentuais abaixo do que foi registrado em 2001, durante o apagão. “Se não chover entre outubro e abril, que é o chamado período úmido, podemos ter um problema sério porque pode faltar energia”, diz Gabriel Barros, sócio e economista-sênior da RPS Capital. “O cenário já está complicado inclusive em função da eleição de 2022”.

 

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