"O exército de Bolsonaro em termos de redes sociais perdeu a disputa neste final de semana", diz Stabile, da .MAP (Taba Benedicto/Agência Estado)
Carolina Riveira
Publicado em 1 de junho de 2021 às 06h00.
Na disputa pelas redes sociais em meio aos protestos do último sábado, 29, a oposição ao presidente Jair Bolsonaro saiu vitoriosa. Os atos foram tema de mais da metade dos posts ao longo do fim de semana e com visão majoritariamente positiva às manifestações, segundo análise quantitativa da consultoria de dados digitais .MAP.
A .MAP analisou 2,7 milhões de posts no sábado e nos dias seguintes, no domingo e até às 8h desta segunda-feira, 31 — com posts no Twitter e nas principais páginas abertas do Facebook.
O assunto das manifestações esteve em 51% dos posts no período. Na análise qualitativa, a .MAP classificou 88% das menções ao tema como positivas às manifestações. Grupos que criticaram ou os atos diretamente ou os protestos como fato gerador de aglomeração foram minoria, aponta a análise.
A manifestação do presidente Jair Bolsonaro com motociclistas no Rio de Janeiro, no domingo anterior, em 23 de maio, havia sido tema de somente 31% dos posts na mesma janela de tempo.
Neste fim de semana, o presidente também apareceu como principal alvo de críticas nas redes. "Bolsonaro foi atacado tanto nas postagens sobre manifestações quanto fora delas, em temas como vacinação", diz Marilia Stabile, diretora-geral da .MAP.
Enquanto isso, os posts com apoio a Bolsonaro em temas diversos somaram somente 14% do total.
A metodologia da .MAP também divide a análise em três subtemas: política, economia e bem-estar. Neste fim de semana, a política como um todo (ainda que não incluindo diretamente as manifestações) esteve em 64% do total de postagens. O normal é que política esteja abaixo de 50%, disputando com temas como diversidade, cultura, entre outros. "Foi um dos recordes de menções sobre política", diz Stabile.
Dos perfis responsáveis pelo caminhão de postagens sobre as manifestações e política no geral neste fim de semana, parte significativa é classificada como de perfis ligados à esquerda, com pouco mais de 44% do total.
Dentro desse grupo, os políticos e partidos foram 18% do total, os influenciadores, quase 19%, e o público geral de esquerda representou 6% da participação.
Os atos também fisgaram uma parcela com posicionamento não necessariamente de esquerda, embora em menor grau. Cerca de 21% dos posts sobre a manifestação vieram de usuários comuns (não influenciadores ou partidos), que a análise classifica como "opinião pública".
Essa categoria não demonstra posicionamento político explícito entre esquerda e direita em seus perfis, embora tenha falado sobre a manifestação e mantenha certo viés crítico sobre Bolsonaro. "Esse grupo mais apartidário apoiou a manifestação porque era um ato crítico ao governo. Mas eles têm pautas próprias, demanda por saúde e principalmente vacina", diz Stabile.
A diretora da .MAP aponta que a esquerda ainda está atrás da direita nas redes, mantendo um cenário que começou a ser construído nos últimos anos. "Ontem, isso se inverteu, e a direita teve uma participação menor. A pergunta é se daqui para a frente essa força vai continuar", diz.
Como a EXAME mostrou, a esquerda e a oposição ao presidente Jair Bolsonaro também têm ganhado força nas redes com os debates sobre a CPI da covid-19 e teve picos após a decisão do Supremo Tribunal Federal que tornou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Desde então, Lula se consolidou como o principal adversário de Bolsonaro em 2022: na última pesquisa EXAME/IDEIA, o ex-presidente aparece vencendo Bolsonaro no primeiro turno e com 45% a 37% dos votos no segundo turno.
Um desafio da oposição é manter a energia da base nas redes sociais de forma constante, o que ainda não tem acontecido. "A esquerda têm aparecido quando há eventos, soltura do Lula, STF, CPI. Passou o burburinho, ela some. Já a direita é mais constante, mesmo nesses momentos de manifestação, ela tenta aparecer. A militância da direita nas redes é perene", diz Stabile.
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