Mandetta: ministro da saúde afirmou que a quarentena foi "desarrumada" e aconteceu cedo demais (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 25 de março de 2020 às 18h41.
Última atualização em 22 de abril de 2020 às 11h28.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, endossou nesta quarta-feira as críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro às medidas de restrição de circulação de pessoas adotadas por governadores para combater o coronavírus, afirmando que quarentenas foram decididas de forma precipitada.
"Tem que arrumar esse negócio de quarentena, foi desarrumado, foi cedo, foi precipitado", disse Mandetta em entrevista coletiva. "Ficou uma sensação de 'entramos, e agora como sai dela?'"
O ministro disse que os governadores que adotaram medidas mais rigorosas de restrição de locomoção terão que se "reposicionar" rapidamente.
No entanto, num aceno aos governadores, defendeu que é preciso construir juntos uma saída coordenada que envolva governadores, prefeitos e o governo federal.
"A saúde não é uma ilha, não vamos tratar isoladamente, não existe apenas o coronavírus", disse.
Para o ministro, houve governos que tomaram decisões "muito assimétricas".
Mandetta disse que haverá momentos para se eventualmente decretar medidas mais drásticas de isolamento social, destacando, no entanto, que essas decisões têm de ser calibradas.
Na terça-feira, o Estado de São Paulo --o mais populosos do país-- decretou quarentena, e o Rio de Janeiro também tomou medidas rígidas de restrição de locomoção. Outras unidades da federação também adotaram providências semelhantes.
Mandetta afirmou que a adoção de uma quarentena sem prazo pode terminar virando uma "parede para as pessoas".
O ministro também mencionou a fala do presidente no pronunciamento feito na véspera em cadeia nacional de rádio e TV, dizendo que as questões econômicas são "importantíssimas". "Nós da saúde não podemos ser insensíveis", disse.
Mandetta afirmou que a paralisação de atividades têm de ser feita de forma organizada e que propôs aos governadores que apresentem sugestões para se definir uma proposta nacional.
Avaliou que esse processo tem de levar em conta o boletim epidemiológico da localidade e ver quais atividades econômicas são consideradas essenciais e, por isso, podem continuar funcionando.
"A situação do Ceará é totalmente diferente de Goiás", exemplificou. Embora sejamos Brasil, o Brasil tem vários brasis", completou.
Mandetta também assegurou que não vai sair do governo e que a equipe está focada em fazer um trabalho técnico.
"Saio daqui na hora que o presidente achar que não devo mais trabalhar", disse, acrescentando que isso também pode ocorrer num momento em que esse período de turbulência passar e não for "mais útil" na equipe do governo.
O ministro admitiu que o ministério está estudando uma sugestão feita por Bolsonaro de adotar o chamado "isolamento vertical", que abrangeria apenas pessoas que se encontram no grupo de risco, como idosos e portadores de doenças crônicas.
A medida é diferente ao que tem sido adotada por entes regionais, que é o isolamento horizontal, que abrange praticamente toda a população indistintamente.
Mandetta frisou ainda que os casos de coronavírus --que nesta quinta-feira chegaram 2.433 no país, com 57 mortos-- está dentro das projeções da pasta.