Pessoa fumando: apesar da vontade dos pacientes de largar o tabaco, o vício é muito forte (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 31 de agosto de 2014 às 11h44.
São Paulo - Levantamento feito pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) com pacientes da instituição mostra que 65% dos pacientes fumantes não conseguem largar o cigarro mesmo após receber o diagnóstico da doença.
O coordenador de Apoio ao Tabagista do instituto, Frederico Fernandes, disse que o resultado da pesquisa foi surpreendente.
“Nós imaginávamos, justamente, que uma pessoa que fumasse, na hora de receber o diagnóstico de câncer ficasse motivada a parar, pelo fato de ter desenvolvido uma doença relacionada ao tabagismo”, ressaltou em entrevista à Agência Brasil.
Segundo o médico, apesar da vontade dos pacientes de largar o tabaco, o vício é muito forte.
“Quando a gente conversa com esses pacientes, vemos que eles têm vontade, estão motivados, mas, pelo fato de ter um nível alto de dependência da nicotina, não conseguem parar ou reduzir”, contou.
A situação se agrava, de acordo com Fernandes, pelo fato de o cigarro ser uma válvula de escape de grande parte dessas pessoas ao lidar com situações difíceis.
“E, muitas vezes, quando a pessoa recebe um diagnóstico como esse, acentua os traços de ansiedade. Com isso, ela acaba não conseguindo largar o cigarro por não conseguir canalizar a ansiedade contra a doença em outra coisa”, explica o médico.
Além de ser um fator que contribui para o surgimento do câncer, Fernandes destaca que o cigarro pode atrapalhar o tratamento. “Alguns tipos de quimioterapia têm menor eficácia quando a pessoa continua fumando e recebendo o tratamento”, enfatiza.
Fumar também interfere na cicatrização e recuperação de cirurgias. “Se uma pessoa é submetida a uma cirurgia, parando de fumar ela tem uma cicatrização melhor e um pós-operatório menos complicado”, acrescenta.
Há ainda, segundo o médico, o problema da fragilização do sistema respiratório.
“Uma das principais complicações que ocorrem no tratamento de câncer são as infecções respiratórias. E a pessoa que fuma tem chance maior de contrair uma infecção durante o tratamento do câncer”.
Por isso, o Icesp montou uma equipe para apoiar os pacientes que querem deixar o cigarro.
“Nós temos uma equipe multiprofissional, composta por psicólogos, enfermeiros, nutricionistas e médicos, que vai dar um tratamento baseado tanto em medidas comportamentais, quanto em medicações, para tentar diminuir o vício”, detalha Fernandes.
Uma das principais linhas de atuação do grupo é, justamente, ajudar os fumantes a lidar com a ansiedade sem o tabaco.
“Ensinar como lidar com as situações de problema, com o stress do dia a dia, sem precisar recorrer ao cigarro, coisa que muitos deles estão acostumados a recorrer desde a adolescência”, explica o médico.