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Maia: Governo não incitou queimadas, mas falas de Bolsonaro geram dúvidas

Para deputado, discurso do presidente fez com que algumas pessoas achassem que estavam liberadas para fazer o que quisessem, sem temer nenhum tipo de reação

Rodrigo Maia: presidente da Câmara falou sobre relação entre o Brasil e a França (Adriano Machado/Reuters)

Rodrigo Maia: presidente da Câmara falou sobre relação entre o Brasil e a França (Adriano Machado/Reuters)

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Reuters

Publicado em 26 de agosto de 2019 às 15h48.

Última atualização em 26 de agosto de 2019 às 16h26.

Brasília — O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta segunda-feira, 26, que não há qualquer tipo de ação concreta do governo brasileiro que estimule queimadas em áreas florestais e de proteção ambiental, mas ponderou que alguns comentários do presidente Jair Bolsonaro podem ter gerado "dúvida".

"Não vi nenhuma ação do governo brasileiro estimulando as queimadas, mas a forma como o presidente (Bolsonaro) às vezes fala, pode gerar esse tipo de dúvida", afirmou Maia, repetindo não haver qualquer "ação concreta" oficial que possa "sinalizar o excesso da vocalização do presidente da França nos últimos dias".

Por outro lado, o parlamentar também disse que a narrativa que o presidente construiu em seu governo em relação a temas ambientais pode ter incentivado de certa forma o aumento dos desmatamentos. Na visão de Maia, o discurso de Bolsonaro fez com que algumas pessoas achassem que estavam liberadas para fazer o que quisessem, sem temer nenhum tipo de reação.

O líder da Câmara afirmou que a narrativa mal construída do presidente da República acaba gerando uma sinalização ruim. De acordo com Maia, nem é a intenção de Bolsonaro criar os mal-entendidos e que isso fica claro em conversas que mantém com o mandatário, como ocorreu no último sábado.

O curioso, de acordo com o deputado, é que desmatamentos ocorrem, normalmente, quando a economia está em crescimento. "Desmatamento ocorre com economia em alta. Então não é com economia parada", avaliou.

Para Maia, não há risco para o acordo da União Europeia com o Mercosul diante das recentes queimadas que assolam a região Amazônica e das trocas de farpas entre Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron.

"O Brasil tem relações históricas com a França", disse Maia, avaliando que a atual situação tenha sido construída mais por um "erro de narrativa" do que por um "erro de ação".

Ao referir-se aos incêndios na Amazônia como um "ecocídio" Macron desferiu críticas à gestão do governo brasileiro, na última semana. O presidente francês também acusou Bolsonaro de mentir ao minimizar preocupações com as mudanças climáticas em uma cúpula do G20 no Japão, em junho, e ameaçou vetar um pacto comercial entre a União Europeia e o Mercosul.

Ao final da cúpula do G7, Macron anunciou que os países membros do grupo darão uma ajuda emergencial de pelo menos 20 milhões de dólares para combater os incêndios na Amazônia.

"Acho que o final de semana foi importante", disse Maia.

"O presidente da França ficou isolado. Acho que ele tem razão na crítica ao desmatamento, todos nós temos a mesma preocupação. Mas daí transformar isso em uma crise da União Europeia com o Brasil, com o Mercosul, um tratado, um acordo que vem sendo construído ao longo de 20 anos, eu acho que os próprios países do G7 deram um freio nesse excesso."

Maia disse ainda que tentará reunir deputados ligados tanto ao meio ambiente quanto o agronegócio para tratar de uma pauta da Câmara e manifestou a intenção de promover encontros com alguns parlamentos de países da região Amazônica para mostrar que a agenda do Brasil e do Congresso "não estará nunca relacionada com a flexibilização da proteção do nosso meio ambiente".

(Com Reuters e Estadão Conteúdo)

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