Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro: Maia disse à coluna do jornalista Lauro Jardim, do mesmo jornal O Globo que sofreu o ataque, que a liberdade de imprensa é um valor inegociável (Adriano Machado/Reuters)
Victor Sena
Publicado em 24 de agosto de 2020 às 07h46.
Última atualização em 24 de agosto de 2020 às 07h49.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, defendeu a liberdade de imprensa e pediu que o presidente da República volte a usar o tom moderado que adotava nos últimos meses.
Neste domingo, Bolsonaro atacou verbalmente um repórter do jornal O Globo, que o questionou sobre depósitos que Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), fez à primeira-dama Michele.
Maia disse à coluna do jornalista Lauro Jardim, do mesmo jornal O Globo que sofreu o ataque, que a liberdade de imprensa é um valor inegociável na democracia:
Questionado pelo jornalista sobre os repasses de R$ 89 mil feitos por Queiroz, Bolsonaro respondeu: “Vontade de encher sua boca de porrada".
Além de Maia, outros partidos e políticos criticaram o presidente.
O PSDB disse em nota que a fala do presidente “desrespeita a liberdade de imprensa” e “não condiz com o cargo”. “O presidente volta a mostrar apreço por posturas agressivas e antidemocráticas”, publicou o perfil oficial do partido no Twitter.
O MDB pediu respeito aos jornalistas. “O presidente da República precisa se retratar”, diz a legenda.
Após dizer que estava com vontade de encher a boca do repórter de "porrada", o presidente ainda afirmou que o repórter era “safado”.
Nesta segunda de manhã, o presidente disse na rede social Twitter que é perseguido pelas Organizações Globo há anos. Bolsonaro aproveitou para questionar o grupo sobre um suposto esquema de corrupção que repassou R$ 1 bilhão à empresa.
- Há pelo menos 10 anos o sistema Globo me persegue e nada conseguiram provar contra mim.
- Agora aguardo explicações da família Marinho sobre a delação do "doleiro dos doleiros", onde valores superiores a R$ 1 bilhão teriam sido repassados a eles. pic.twitter.com/ZRS730K5Pg
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) August 24, 2020
Nos últimos dois meses, Bolsonaro havia diminuído suas críticas à imprensa e tentava articular mais apoio no Congresso, com a integração do chamado Centrão a sua base aliada, com nomeações.
No início do mês, a revista “Crusóe” mostrou que Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, repassou R$ 72 mil em cheques a Michelle Bolsonaro entre 2011 e 2016. Os dados foram revelados a partir da quebra do sigilo bancário do ex-assessor. Além disso, o jornal “Folha de S. Paulo” informou que Márcia Aguiar, mulher de Queiroz, repassou R$ 17 mil para Michelle em 2011.
No Twitter, usuários tem repetido ao presidente a pergunta feita pelo repórter: "Presidente Jair Bolsonaro, por que sua esposa Michelle recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?". As publicações são acompanhadas da hashtag #RespondeBolsonaro.