Podcast A+ debate a corrida presidencial (Paulo Whitaker e Rodolfo Buhrer/Reuters)
Alessandra Azevedo
Publicado em 10 de março de 2021 às 21h34.
A possibilidade de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja candidato à presidência da República em 2022 foi comemorada por parte da esquerda, criticada pela direita, mas, pelo menos para uma parcela do centro, trouxe a esperança de emplacar uma candidatura “moderada”. Parlamentares acreditam que a polarização abre margem para uma terceira via se consolidar, mas não têm certeza se essa oportunidade será aproveitada.
“Acho que cria espaço para centro. Se o setor mais moderado tiver sabedoria, pode encontrar alguém que ocupe esse lugar”, acredita o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), primeiro vice-presidente da Câmara. A entrada de Lula na arena acirra os ânimos e evidencia a polarização política, mas não resume o jogo, acredita. “O Brasil inteiro não cabe em Lula ou Jair Bolsonaro. A maioria está no meio”, pondera.
O problema, na visão de Ramos, é que o centro não tem programa consolidado nem um nome definido. “Se conseguir chegar a um consenso, acho que tem ambiente para crescer. Desde que se parta da premissa de que é preciso ter um programa de centro, um programa moderado para o país, Mas ninguém hoje tem isso”, observa o deputado do PL.
A percepção dele é compartilhada por especialistas. Para o analista político Thiago Vidal, da consultoria Prospectiva, mesmo que se abra uma oportunidade, o centro precisaria resolver muitos problemas antes de conseguir viabilizar uma candidatura. Com quadros divididos e ainda sem um nome forte, o cenário atual não aponta para o lançamento de um candidato capaz de concorrer com Lula ou Bolsonaro.
“O ingresso de Lula no xadrez, em um primeiro momento, abafa o centro, por uma razão simples: o centro está muito desorganizado, muito fragmentado e não possui atores que estejam minimamente à altura onde Bolsonaro e Lula estão em termos de competitividade eleitoral”, diz Vidal. Para ele, é clara a desorganização na busca pela almejada terceira via. "Mas ainda tem muito tempo pela frente e tudo pode mudar", pondera.
Para o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), um dos problemas é justamente a pulverização. Se houver um número grande de candidatos concorrendo ao posto de “candidato do centro”, fica mais difícil emplacar um nome. “É evidente que tem um campo de eleitores que não quer nem Bolsonaro, nem Lula. Quem conseguir representar essa parcela da população pode agregar. Isso pode acontecer, mas depende muito de diminuir o número de candidatos”, acredita.
Líder do DEM na Câmara, o deputado Efraim Filho (PB) acredita que a entrada de Lula no cenário, ao mesmo tempo que fortalece o quadro de polarização, provoca as forças mais ao centro a se unirem para viabilizar uma candidatura competitiva. "Acho que essa situação gera um impulso que, por enquanto, não havia acontecido ainda", diz. A esperança é que haja um consenso em torno de uma opção de centro, não uma série de candidaturas.
“Há nomes que podem se organizar, mas é preciso competência para isso”, avalia Efraim. O cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, lembra que essa busca não é fácil e não é de agora. “Para dar certo, o centro teria que acelerar um processo que já era de difícil entendimento”, aponta. A movimentação atual, segundo ele, não é nesse sentido. “Sinceramente, não vejo uma terceira via ganhando força. Precisaria achar um projeto, um discurso”, aponta.
Mesmo com as dificuldades, Efraim considera que “foi melhor ter acontecido agora do que daqui um ano”, sobre a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin de anular as condenações contra Lula feitas pela 13º Vara Federal de Curitiba. Com isso, segundo o deputado, “dá tempo para se organizar e trabalhar com a sociedade a ideia de criar uma alternativa moderada, equilibrada e com ideias diferentes”.
Em um espaço onde surgem possibilidades de Luciano Huck a Sergio Moro, César acredita que, se os partidos de centro tiverem alguma chance, será pelas vias mais tradicionais: PSDB ou PSD, por exemplo. Com a volta de Lula, os tucanos já aceleraram a discussão e marcaram para 17 de outubro as prévias para definir o candidato à presidência em 2022. Dois pleiteantes são os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
Segundo um parlamentar do PSDB, o ideal é definir o nome o quanto antes, para começar a campanha antecipadamente. “É urgente entrar agora no jogo, já com um programa, para que as pessoas saibam que há uma opção no meio”, afirma. No atual cenário, com o inimigo número de Bolsonaro de volta, Doria perde força, acredita Vidal. O posto de principal antagonista está ocupado.