Lula com Motta e Alcolumbre em momento de harmonia que, agora, está estremecido (Ricardo Stuckert/PR/Divulgação)
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Publicado em 25 de novembro de 2025 às 07h00.
Última atualização em 25 de novembro de 2025 às 07h04.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vive um dos momentos mais delicados na relação com o Congresso de seu terceiro mandato como chefe do Executivo. Além de entrar em rota de colisão com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), nas últimas semanas por causa ao PL Antifacção, a crise também escalou com a cúpula do Senado. A tensão ocorreu após Lula preterir o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) e indicar o advogado-geral da União, Jorge Messias.
A relação de interlocutores do presidente com os chefes das duas Casas Legislativas representa a tensão. Em um lado, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), tem evitado dialogar com o líder do governo, senador Jaques Wagner (PT-BA). No outro, Motta afirmou a aliados que rompeu relações com o líder do PT, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ).
O estremecimento na Câmara cresceu após o chefe da Casa indicar o deputado Guilherme Derrite (PP-SP) para relatar o projeto enviado pelo governo para endurecer as penas de integrantes de facções criminosas. A proposta era uma das principais apostas do Palácio do Planalto para ganhar força contra a direita no debate sobre a segurança pública, mas Motta indicou um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e secretário de Segurança Pública do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para relatar a matéria.
Em tom duro, Farias comentou o rompimento dele com o presidente da Câmara. “Minhas posições políticas são transparentes e previsíveis. Sempre atuei de forma clara e com posições coerentes, nunca na surdina e erraticamente, como agiu o presidente da Câmara na derrubada do IOF, na PEC da Blindagem e na escolha de Derrite como relator de um PL de autoria do Poder Executivo”, escreveu nas redes sociais.
Segundo ele, se existe uma crise de confiança na relação entre Legislativo e Executivo isso ocorre devido às escolhas de Motta. “Ele que assuma as responsabilidades por suas ações e não venha debitar isso na minha atuação como líder da Bancada do PT”, afirmou.
O embate é uma continuidade da troca de farpas de Motta com Lula na última semana. Primeiro, o presidente disse que o PL Antifacção, da forma como foi aprovado, "enfraquece o combate ao crime organizado e gera insegurança jurídica". Pouco mais de duas horas depois e sem citar Lula diretamente, Motta usou a mesma rede social para dizer que “não se pode desinformar a população, que é alvo diariamente do crime, com inverdades”.
No Senado, por sua vez, a crise foi desencadeada após a indicação de Messias ao STF. O preferido da cúpula da Casa era o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O discurso entre parlamentares é que a escolha para o Supremo, assim como as outras duas, de Cristiano Zanin e Flávio Dino, foi feita de maneira isolada e sem negociar com os senadores.
O estremecimento na relação chegou ao ponto de Alcolumbre ignorar telefonemas de Wagner, com quem sempre teve boa relação. O temor do governo é que a tensão tenha consequências na pauta econômica. A preocupação não ocorre à toa e a primeira prova disso ocorreu poucas horas após Lula anunciar a indicação de Messias ao Supremo.
Como retaliação, o presidente do Senado anunciou a votação do projeto de lei complementar que cria uma aposentadoria especial para agentes comunitários de saúde e pode ter impacto inesperado nas contas públicas.
A proposta estava pronta para votação há meses, mas Alcolumbre só decidiu pautar a proposta poucas horas depois do anúncio de Lula de que Messias era o escolhido para a vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo.