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Lula vai manter aproximação com Maduro, apesar de cassação de opositora na Venezuela

O tema pode ser pautado na próxima reunião de chefes de Estado entre a União Europeia e a Celac

Lula: "Estamos retomando nossas relações com a Venezuela em várias áreas" (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Lula: "Estamos retomando nossas relações com a Venezuela em várias áreas" (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 13 de julho de 2023 às 16h56.

Última atualização em 13 de julho de 2023 às 17h14.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva vai manter a disposição de diálogo de alto nível com o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, a despeito da cassação dos direitos políticos da opositora María Corina Machado. A ex-deputada favorita para disputar a Presidência como líder da oposição foi inabilitada a concorrer a cargos públicos por 15 anos, a um ano das eleições presidenciais.

"Nossa posição não muda, é sempre buscar dialogar com a Venezuela, com o governo venezuelano, em favor de que ano que vem haja eleições livres, transparentes e abertas. A gente continua trabalhando junto a eles sempre com base no diálogo. Essa é uma posição histórica do Brasil. Isolar não resolve, precisamos engajar", disse nesta quinta-feira, dia 13, a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty.

"Estamos retomando nossas relações com a Venezuela em várias áreas e esperamos que todo esse diálogo nos leve realmente a uma situação realmente democrática sustentável no país, pela via do diálogo."

Pauta no Celac

O tema pode ser pautado na próxima reunião de chefes de Estado entre a União Europeia e a Comunidade de Estados Latino Americanos e Caribenhos (Celac), em 17 e 18 de julho. Esse é o desejo de integrantes do Parlamento Europeu, que aprovou nesta quinta-feira uma condenação à suspensão "arbitrária e inconstitucional" de opositores de Maduro.

Os eurodeputados aprovaram a resolução por 495 votos a favor, 25 contra e 43 abstenções. Eles pedem independência na indicação de membros do Conselho Nacional Eleitoral, órgão que organiza o pleito venezuelano. A Comissão Europeia havia classificado a declaração de inelegibilidade de Corina Macho como "extremamente preocupante".

O assunto não consta na agenda oficial da cúpula UE-Celac, segundo embaixadores brasileiros, embora possa surgir em manifestações de chefes de Estado presentes e nos corredores do encontro.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca em Bruxelas no domingo, 16, para participar da cúpula, ainda sem a confirmação da presença do ditador chavista Nicolás Maduro.

Ele vai participar ainda de um encontro liderado por políticos progressistas europeus e latino-americanos. Maduro não está entre os previstos. No dia 18, haverá um café da manhã conjunto os chefes de Estado e de governo de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Portugal, República Dominicana, Alemanha, Dinamarca e Espanha. O convite partiu do ex-primeiro-ministro da Suécia Stefan Löfven, presidente do Partido Socialista Europeu.

O Itamaraty e o governo brasileiro não pretendem por enquanto externar nenhuma posição mais crítica à cassação dos direitos políticos de Maria Corina Machado.

Em privado, diplomatas brasileiros admitem que a inabilitação eleitoral de Corina Machado complica o reconhecimento de que as eleições nacionais em 2024 serão livres, justas e transparentes, como cobram potencias ocidentais observadoras como os Estados Unidos e a União Europeia. O próprio governo Lula vinha nos bastidores cobrando Maduro a garantir igualdade de condições aos concorrentes no ano que vem. Alguns veem uma modulação de tom político do governo brasileiro, que talvez possa arrefecer gestos pró-Maduro.

Em sua única manifestação sobre o caso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não conhecia os detalhes do processo, em vez de sair em defesa do regime. Foi na última reunião de cúpula do Mercosul, em Puerto Iguazú, na Argentina, quando Lula admitiu "problemas", dias depois de afirmar que o conceito de democracia era "relativo" e que Caracas promovia mais eleições do que o Brasil.

O presidente já havia dito, ao receber e reabilitar Maduro em Brasília, que os questionamentos ao regime eram fruto de "narrativas" de quem não gosta de Maduro.

"Em relação à Venezuela, todos os problemas que a gente tiver em democracia, a gente não se esconde deles, a gente enfrenta. Eu não conheço os pormenores do problema com a candidata da Venezuela, pretendo o conhecer. Temos que conversar, o que não pode é isolar e levar em conta que os defeitos estão apenas de um lado. Os defeitos são múltiplos. Precisamos conversar com todo mundo."

Existe um reconhecimento geral de que a retomada de laços com o governo de fato na Venezuela é necessária, com reabertura da embaixada em Caracas, para defesa de interesses diversos. Porém, setores do Itamaraty veem a aproximação com a Venezuela como uma experiência ainda sem projetos concretos, baseada em improviso e expressão de um tipo de diplomacia presidencial analógica, que acaba recebendo o ônus de ter de lidar com os governos mais ideológicos de esquerda na América Latina.

Além de Maduro, Lula passou a ser cobrado para interceder junto a Daniel Ortega e prometeu telefonar ao ditador da Nicarágua para libertar o bispo de Matagalpa, Rolando Alvarez, preso e condenado a 26 anos de cadeia por suposta traição ao país.

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