Lula: governo atual enfrenta muitos desafios em diversos setores (Ricardo Stuckert / PR/Flickr)
Repórter
Publicado em 10 de julho de 2025 às 21h16.
Última atualização em 10 de julho de 2025 às 21h35.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou nesta quinta-feira, em entrevista ao Jornal Nacional (da TV Globo), que o Brasil aplicará a lei de reciprocidade para a tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Lula disse também que está disposto a negociar com Trump.
Na quarta-feira, em carta divulgada na rede social Truth Social, Trump afirmou que a taxa ao Brasil se deve aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e contra redes sociais americanas, além de citar práticas comerciais brasileiras que considera prejudiciais aos EUA.
"Não perco a calma e não tomo decisões com 39 graus de febre. O Brasil utilizará a Lei da Reciprocidade quando necessário e vai tentar com a OMC e outros países tomar uma posição para saber quem está certo ou errado", disse Lula na entrevista. "A partir daí, se não houver solução vamos recorrer à reciprocidade, já em 1º de agosto quando começa a taxação do Brasil. Nós não queremos brigar com ninguém, queremos negociar. E queremos que sejam respeitadas as decisões brasileiras".
O presidente também chamou de 'inaceitável' a intromissão do governo norte-americano nas decisões tomadas no Brasil e enfatizou que as ações de Trump devem se basear em fatos. "Ele [Trump] tem o direito de tomar decisão em defesa do país dele. Mas com base na verdade. Se alguém orientou ele com a mentira que os Estados Unidos é deficitário com o Brasil, mentiu. Porque os Estados Unidos é super arbitrário na relação comercial com o Brasil".
Lula também afirmou que suas declarações em tom crítico aos Estados Unidos na reunião do Brics não tiveram relação com ataque tarifário de Donald Trump.
"Primeiro, o Brics é um fórum que hoje representa metade da população mundial e quase 30% do PIB mundial. Estão países que fazem parte do G20. Segundo: temos três países do Brics que foram convidados para o G7 agora — Brasil, México, África do Sul e Índia. Terceiro: o Brics é um agrupamento que trabalha em torno do Sul Global. Nós estamos cansados de ser subordinados ao Norte. Queremos independência nas nossas políticas, queremos fazer comércio mais livre. Estamos inclusive discutindo a possibilidade de ter uma moeda própria (...) Agora achar que o Trump ter ficado nervoso... O Brasil nunca ficou nervoso com a participação do G7, nunca ficou nervoso com as ações dos Estados Unidos. Cada país tem soberania para fazer o que quiser. Então, eu penso que o presidente Trump precisa se cercar de pessoas que o informem corretamente sobre como é virtuosa a relação Brasil–Estados Unidos".
O presidente declarou que pretende reunir todos os empresários que exportam para os Estados Unidos, sobretudo os que têm maior volume de venda. E, se for o caso de o Brasil aplicar a Lei da Reciprocidade, espera que estejam do lado do governo brasileiro.
"Porque se existe empresário que acha que o governo tem que fazer tudo o que o presidente do outro país quer, sinceramente, esse cidadão não tem nenhum orgulho de ser brasileiro. Essa é a hora de mostrarmos que o Brasil quer ser respeitado no mundo. O Brasil é um país soberano, que não se submete a nenhuma outra nação. E, portanto, não aceitamos desaforo".
O chefe do Executivo também disse que está disposto a procurar novos mercados para os produtos brasileiros diante da pressão feita por Trump e que os Estados Unidos serão afetados pela decisão da Casa Branca.
"Vamos criar uma comissão com empresários e o governo para ver o que decidir, quem será afetado e como vamos procurar novos mercados. Eu mesmo vou procurar novos mercados para os produtos brasileiros. Esse é meu papel, inclusive de dizer aos empresários: 'vamos juntos abrir novos mercados'. Não é fácil ele [Trump] só taxar os outros países. Ele também terá consequências para os Estados Unidos. A relação entre dois estados tem que ser respeitosa".