Brasil

Lula propõe mediar guerra na Ucrânia junto com China e Emirados Árabes

Ao contrário das potências ocidentais, nem a China nem o Brasil impuseram sanções contra a Rússia e estão tentando se posicionar como mediadores para acabar com a guerra, que começou em fevereiro de 2022

Lula é recebido por presidente Xi Jinping em visita à China (Ricardo Stuckert/PR/Divulgação) (Ken Ishii,-Pool//Getty Images)

Lula é recebido por presidente Xi Jinping em visita à China (Ricardo Stuckert/PR/Divulgação) (Ken Ishii,-Pool//Getty Images)

AFP
AFP

Agência de notícias

Publicado em 16 de abril de 2023 às 16h41.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs, neste domingo (16), uma mediação conjunta com China e Emirados Árabes Unidos para dizer "basta" à guerra na Ucrânia.

O chefe do Executivo brasileiro, que concluiu no domingo uma viagem de três dias em que visitou Xangai, Pequim e Abu Dhabi, disse ter conversado com os presidentes dos Emirados Árabes Unidos (EAU) e da China sobre a criação de um grupo de países, semelhante ao G20 das economias avançadas, para mediar o conflito causado pela invasão russa.

Ao contrário das potências ocidentais, nem a China nem o Brasil impuseram sanções contra a Rússia e estão tentando se posicionar como mediadores para acabar com a guerra, que começou em fevereiro de 2022.

Os Emirados, por sua vez, adotaram uma posição de neutralidade no conflito, embora tenham recebido um número significativo de empresários russos.

"Ontem conversei com o xeique [dos Emirados, Mohammed ben Zayed al Nahyan] sobre a guerra. Conversei com [o presidente chinês] Xi Jinping sobre paz. E acho que estamos encontrando um grupo de pessoas que prefere falar sobre paz do que a guerra, acho que teremos sucesso", disse Lula a repórteres em Abu Dhabi, antes de voltar ao Brasil.

O presidente brasileiro, de 77 anos, que voltou ao poder em janeiro, também destacou que "a decisão pela guerra foi tomada por dois países" e acusou os Estados Unidos e a Europa de prolongar o conflito.

"O presidente Putin não toma a iniciativa de parar, [o presidente ucraniano] Zelensky não toma a iniciativa de parar. A Europa e os Estados Unidos continuam a contribuir para a continuação dessa guerra. Temos que sentar à mesa e dizer para eles 'basta'", sentenciou.

Além do aspecto diplomático, a passagem de Lula pela China e pelos Emirados Árabes Unidos permitiu a realização de acordos multimilionários de investimento e comércio com os dois países.

'Outro tipo de G20'

"Todo mundo sabe que propus uma espécie de G20 para a paz. Quando veio a crise econômica em 2008, rapidamente criamos o G20 para tentar salvar a economia", disse Lula ao deixar seu hotel.

"Agora é importante criar outro tipo de G20 para acabar com essa guerra e estabelecer a paz. Essa é minha intenção e acredito que teremos muito sucesso", declarou.

Lula afirmou que discutiu essa iniciativa com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden; o chanceler alemão, Olaf Scholz; o presidente francês, Emmanuel Macron, e líderes de alguns países sul-americanos.

O presidente Lula, no início de seu terceiro mandato após ter governado o país entre 2003 e 2010, também busca estreitar os laços com Washington, apesar de acusar os Estados Unidos de "incitar a guerra".

Lula empreendeu um delicado ato de equilíbrio entre Estados Unidos e China, duas potências confrontadas por um número crescente de temas, incluindo a tensão entre Pequim e a ilha de Taiwan.

Após uma série de visitas de Estado, em que foi recebido na Casa Branca por Biden em fevereiro, em Pequim, o presidente anunciou que o Brasil "está de volta" à geopolítica mundial, após os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), caracterizados por um distanciamento do cenário internacional.

Antes de deixar a China, Lula disse estar confiante de que esse fortalecimento das relações entre Brasília e Pequim, seu principal parceiro comercial, não causará nenhum "arranhão" com os EUA.

Projeto de biodiesel

Lula também atacou o predomínio do dólar no comércio mundial e defendeu uma nova moeda para as transações entre os países membros do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Os pactos assinados com a China chegam a R$50 bilhões de reais e os acordos com os Emirados, a R$ 12,5 bilhões, disse o presidente brasileiro.

Em Abu Dhabi, os líderes do Brasil e dos Emirados anunciaram que os acordos incluem um para a refinaria de Mataripe, controlada pelos Emirados no Nordeste do Brasil, o investimento de até US$ 2,5 bilhões (cerca de R$ 12,4 bilhões) em um projeto de biodiesel. Houve também um acordo de cooperação contra as mudanças climáticas.

Os Emirados sediarão a próxima cúpula do clima da ONU, a COP28, e o Brasil é candidato a sediar a edição de 2025. Os dois países disseram que concordaram em trabalhar juntos para "promover ações climáticas ambiciosas" no resto do mundo.

comércio entre o país da Península Arábica e o Brasil somou, em 2022, US$ 5,768 bilhões (em torno de R$ 30 bilhões na cotação da época) - um aumento de 74,5% em relação ao ano anterior, com um superávit de US$ 740 milhões (R$ 3,8 bilhões, aproximadamente) a favor do Brasil, segundo dados oficiais brasileiros.
Dos US$ 3,254 bilhões (cerca de R$ 16 bilhões) faturados, o principal produto de exportação brasileiro foi a carne de frango (29% do total), seguido de açúcar (14%), ouro (14%), celulose (8,2%) e carne bovina (8%).

Já nas importações, 89% do valor total correspondeu à compra de petróleo e materiais betuminosos, derivados de hidrocarbonetos.

Acompanhe tudo sobre:Governo LulaLuiz Inácio Lula da SilvaChinaUcrânia

Mais de Brasil

Lula, Bolsonaro, Tarcísio, Zema, Marçal e Caiado: AtlasIntel simula cenários para 2026

Flávio Dino suspende repasses de emendas para universidades de oito estados

Senado adia votação de texto que tentava 'driblar' proposta do governo de endurecer penas de roubo

Celular Seguro vai mandar mensagens de alerta a celulares roubados mesmo após terem chips trocados