Brasília, (DF) - 28/08/2023 - O presidente Lula durante solenidade de Assinatura de Sanção do Projeto de Lei de Conversão (PLV) no 15/2023, que estabelece a política de valorização permanente do salário mínimo. Foto Valter Campanato/EBC. (Valter Campanato/EBC./Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 7 de setembro de 2023 às 09h47.
Ao assumir a presidência do G-20 pela primeira vez, durante a cúpula na Índia, no fim de semana, o Brasil apresentará uma agenda social ao bloco. O governo brasileiro priorizará o combate às desigualdades, especialmente à fome e à pobreza, a luta contra as mudanças climáticas e a reforma dos órgãos de governança global.
Os temas-chave que guiarão os trabalhos coordenados pelo Brasil no próximo ano serão abordados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu discurso, no domingo, 10. O presidente faz campanha para que países em desenvolvimento ganhem mais peso e representação internacional.
A presidência rotativa do Brasil começa em 1° de dezembro. O mandato brasileiro vai até novembro do ano que vem, quando haverá uma nova cúpula de líderes, no Rio.
O Brasil assume no momento em que o bloco atravessa sua maior divisão interna, provocada pela guerra na Ucrânia e pelas disputas econômicas e geopolíticas entre China e EUA.
Esvaziado, o encontro em Nova Délhi ocorrerá sem os presidente de Rússia, Vladimir Putin, e China, Xi Jinping. Para especialistas, a falta de efetividade do G-20 na arena global deverá render poucos benefícios práticos à diplomacia brasileira.
Analistas consultados pelo Estadão acreditam que Lula usará sua participação na cúpula para impulsionar a mesma agenda dos últimos meses, que tem atraído críticas dentro e fora do Brasil.
Essa política é marcada pelo não alinhamento à guerra na Ucrânia por vezes entendido como apoio à Rússia, e o questionamento do dólar como base do comércio internacional, um aceno ao protagonismo chinês.
Para o professor de relações internacionais da ESPM-SP Gunther Rudzit, o presidente deve apostar num discurso similar ao da cúpula do Brics, quando se alinhou a russos e chineses. "Lula deve falar sobre o sistema financeiro e de outras moedas, a mesma agenda que vem discutindo desde o início de seu governo", disse.
A agenda ambiental, importante para as potências ocidentais, é o principal ponto de contato hoje entre a diplomacia brasileira, americana e europeia. Caso Lula pretenda reconstruir pontes com polos antagônicos do G-20, deveria optar por reforçá-la, na visão de Rudzit. "O governo brasileiro sabe que dar atenção ao tema ambiental agrada aos EUA e à Europa."
"Voltamos a fazer com que o mundo respeite o Brasil pela seriedade com que a gente trata as pessoas e pela seriedade com que estamos tratando a questão do clima. Isso faz com que o Brasil vire protagonista", reconheceu o próprio presidente, na terça-feira, ao falar sobre a viagem à Índia e as prioridades brasileiras.
Atualmente, o G-20 está dividido entre um bloco ocidental, composto por americanos e europeus, e um emergente, com russos e chineses. Importante na reação à crise de 2008, o bloco hoje perdeu relevância diante das tensões crescentes provocadas pela guerra na Ucrânia e pela ascensão da China.
Ainda de acordo com analistas, a perda de protagonismo do fórum deve tornar inócua a tentativa de Lula se colocar como líder global - algo que ele tem buscado, sem sucesso, com suas declarações sobre Ucrânia e a governança global.
Richard Rossow, diretor do departamento de Índia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington, reforça que, mais do que a guerra ou o dólar, a agenda ambiental é o principal tema sobre o qual o Brasil pode exercer protagonismo. "O combate ao desmatamento, que é um problema que o Brasil enfrenta, pode e deve ser levado ao G-20", avalia Rossow.
Ainda no domingo, Lula planeja lançar, com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e com o presidente dos EUA, Joe Biden, uma aliança global para promoção do uso de biocombustíveis. Dezenove países devem integrar o órgão, cujo foco é fomentar o mercado global de etanol, na rota das políticas para a descarbonização, sobretudo das fontes de energia para transportes.