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Lula exorta Maduro a não permitir equívoco de fechar a Venezuela

Em entrevista, Lula comentou que não está acompanhando de perto a situação venezuelana e que não conversou recentemente com Maduro

Maduro e Lula, em 2011: "Venezuela precisa se abrir para a América do Sul, para outros países, fazer parceria com outros governos" (Elmer Martinez/AFP)

Maduro e Lula, em 2011: "Venezuela precisa se abrir para a América do Sul, para outros países, fazer parceria com outros governos" (Elmer Martinez/AFP)

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AFP

Publicado em 1 de março de 2018 às 22h15.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva exortou nesta quinta-feira o mandatário venezuelano, Nicolás Maduro, a "não permitir o equívoco de fechar a Venezuela", e opinou que é necessário pensar na economia da nação caribenha "com muito carinho".

Em entrevista exclusiva à AFP, Lula comentou que não está acompanhando de perto a situação venezuelana e que não conversou recentemente com Maduro, mas explicou que em 2013, quando o mandatário venezuelano assumiu o poder como herdeiro político do falecido Hugo Chávez, lhe enviou uma carta dizendo o que "achava que era prudente ele trabalhar para harmonizar a Venezuela".

Mas "por razões que ele não tem que me explicar, ele não adotou as coisas", disse Lula, que junto com Chávez e o boliviano Evo Morales encarnaram a onda de governos de esquerda do início do século na América Latina.

"Maduro tem que ter em conta que é preciso pensar na economia da Venezuela com muito carinho, poque a Venezuela precisa de abastecimento, precisa gerar muito emprego, precisa se industrializar, e o Maduro não pode permitir que ocorra o equívoco de fechar a Venezuela".

Lula (2003-2010), que enfrenta uma delicada situação judicial e aspira às eleições presidenciais de outubro, opinou que a "Venezuela precisa se abrir para a América do Sul, para outros países, fazer parceria com outros governos. Porque pior do que um produto caro na prateleira de um supermercado, é não ter o produto".

"Mas o problema da Venezuela é da Venezuela. E que os Estados Unidos não tem que ficar ameaçando a Venezuela, que o Brasil não tem que ficar ameaçando à Venezuela. Com paz já é difícil a gente se desenvolver neste continente, com guerra será muito mais difícil".

Lula para Chávez: "Fale menos de Bolívar"

O ex-líder sindical se emocionou ao recordar anedotas com Chávez, que descreveu como "uma das pessoas mais extraordinárias" que já conheceu, mas também citou algumas diferenças entre eles.

"Eu dizia: 'Chávez, você não poder se voluntarista, não tem que tratar a Venezuela como se ela fosse tua'. O Brasil não é meu, eu que sou do Brasil", disse.

"Passei horas e horas conversando com Chávez, tentando passar um pouco de minha experiência sindical para ele, porque eu achava que o Chávez era uma figura extraordinária, mas ele ainda tinha uma cabeça um pouco militarizada", acrescentou.

Lula ressaltou que o tema da industrialização era recorrente em suas conversas com o líder da chamada revolução bolivariana. "Eu dizia a Chávez que ele devia falar menos de [Simón] Bolívar e mais de industrialização", contou.

O ex-presidente recebeu a AFP na sede do Instituto Lula, em São Paulo. Dedicou vários minutos da entrevista a repassar sua relação com Chávez, que também considerou "uma pessoa acima da média".

Pediu "cuidado" ao abordar a maciça migração venezuelana devido à crise política, econômica e social que o país vive.

"Certas pessoas estão saindo por algum problema na Venezuela, temos que ter em conta que eles amam a Venezuela e que na medida em que as coisas melhorarem vão voltar, eles não querem viver em condições desfavoráveis em Boa Vista, seu coração está na Venezuela e querem voltar assim que for possível".

Segundo estimativas oficiais, cerca de 40.000 venezuelanos estão vivendo na capital do estado de Roraima, muitos deles em condições de indigência.

Lula acrescentou que não é seu trabalho dar palpites sobre a gestão de outro país. "Eu não sou nada, sou apenas um ex-presidente, fui amigo do Maduro, muito amigo do Chávez. Se o Maduro não me procura, não conversa, é porque ele sabe que tem gente lá mais competente, que pode ajudar mais do que eu".

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