Ex-presidente Lula: político deixou o comando do país com taxas de aprovação superiores a 80% (José Cruz/ABr)
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2012 às 18h38.
Brasília - Ter o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição municipal deste ano é um bom trunfo eleitoral, mas um santinho com foto ao lado do mito petista está longe de garantir a vitória para o candidato.
Lula deixou o comando do país com taxas de aprovação superiores a 80 por cento e isso explica a atração que seu apoio desperta nos candidatos a prefeito aliados ao governo e o cuidado com que os oposicionistas veem isso.
Mas as centenas de candidatos que procuraram Lula nas últimas semanas para gravar vídeos e tirar fotos terão que apresentar soluções para o dia-a-dia dos eleitores se quiserem ganhar a eleição, avaliam analistas.
"O eleitor vota com a cabeça no município. Vai avaliar esgoto, calçada, a situação nas ruas, a situação do município. O presidente da República, ou no caso o ex, está muito longe disso", disse o cientista político Benedito Tadeu César, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Flávio Testa, Lula pode ajudar quando for às ruas ao lado de um candidato ou aparecer na TV pedindo votos, mas isso não significa que haverá uma transferência automática de votos para o apadrinhado.
"Não acredito que ele vai ter o mesmo peso que teve na eleição presidencial", disse. "Agora é mais difícil. Ele já não tem mais a 'força da caneta'. É outro grupo do PT que está no poder", analisou Testa, referindo-se ao apoio decisivo de Lula na eleição da presidente Dilma Rousseff.
Em São Paulo, por exemplo, o candidato do PT, Fernando Haddad, tenta usar uma estratégia parecida com a adotada pela presidente em 2010: apostar na capacidade de Lula de atrair votos na TV e nas ruas.
A diferença, porém, é que a estratégia de Dilma foi traçada e executada muito antes da campanha na TV. Ela esteve ao lado de Lula durante meses antes da propaganda eleitoral em várias partes do país e foi apelidada por ele como "mãe do PAC", o grande programa de obras do governo.
Já Haddad, além de ser desconhecido, pode ter ficado marcado pelos problemas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), quando era ministro da Educação.
Falando sobre a disputa em São Paulo, o ex-líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP), resumiu em parte o sentimento dos petistas. "O (José) Serra (candidato do PSDB à prefeitura) está mal das pernas e, por isso, pode ser atingido pelo peso político do Lula, só que o Haddad tem que fazer a parte dele", disse à Reuters.
Serra é considerado o favorito para vencer a eleição, mas tem caído nas pesquisas e no último levantamento do instituto Datafolha ficou numericamente atrás do candidato do PRB, Celso Russomano, embora ainda dentro da margem de erro da sondagem.
O Datafolha apontou Russomano com 31 por cento das intenções de voto, contra 27 por cento do tucano e 8 por cento de Haddad.
"O que vale mais é como ele (Haddad) engata com a estrutura partidária", disse o professor Fernando Limongi, da Universidade de São Paulo (USP). "Se for apenas um apoio individual tem pouco efeito." Até mesmo aqueles que contam com o apoio de Lula relativizam sua influência decisiva sobre os eleitores.
É o caso do senador Humberto Costa (PT-PE), que depois de uma grande contenda interna do PT e o racha da aliança história com o PSB, foi escolhido para concorrer à prefeitura de Recife.
Ele acredita que a chapa pura formada por ele e pelo deputado federal e ex-prefeito de Recife, João Paulo, atrai votos pela experiência dos dois e isso fará a diferença no dia da votação.
"Esse apoio (do Lula), então, potencializa uma chapa que já está forte. Isso é o que pesa para o eleitor", avaliou.
Messias, mas nem tanto - É justamente na Região Nordeste que o apoio de Lula pode fazer mais diferença, segundo os analistas.
"No Nordeste (o apoio dele) tem mais peso por conta... de ele ter encarnado esse personagem messiânico", analisou Testa, da UnB, referindo-se à altíssima popularidade de Lula na região, entre outros motivos devido ao Bolsa Família.
César, da UFRGS, vai na mesma linha. "No Nordeste o carisma dele é muito mais forte." Nem mesmo adversários políticos, como o deputado ACM Neto (DEM-BA), que disputa a prefeitura de Salvador, desprezam o papel de Lula nessas eleições. Mas ele faz coro aos cientistas políticos que veem limites nisso.
"Claro que é um cabo eleitoral forte e ninguém discorda, mas isso, por si só, não é decisivo", disse à Reuters o deputado baiano, que se beneficia na campanha do peso político de seu falecido avô, o ex-governador e ex-senador Antonio Carlos Magalhães.
ACM Neto lidera a disputa, segundo pesquisa mais recente do Ibope, com 40 por cento das intenções de voto, seguido pelo candidato do PT, o deputado Nelson Pelegrino, com 13 por cento.
Já em Fortaleza, o candidato petista Elmano de Freitas, escolhido pela atual prefeita, Luizianne Lins, deverá viver uma situação paradoxal, na avaliação do governador Cid Gomes (PSB).
"O candidato do PT é apoiado pelo Lula, que é o melhor apoio que se pode ter, e é apoiado pela prefeita, que é o pior apoio que se pode ter, porque ela é mal avaliada", argumenta Cid Gomes.
Segundo ele, as pesquisas mostram que 60 por cento dos eleitores dizem que podem votar em um candidato apoiado por Lula. Mas 48 por cento dizem que não votariam num concorrente apoiado pela prefeita.
O petista está em sétimo lugar segundo a pesquisa do Ibope mais recente, com 6 por cento das intenções de voto, muito atrás do candidato do DEM, Moroni Torgan, que lidera com 31 por cento das citações. Mas o candidato do governador, o socialista Roberto Cláudio, não está muito melhor que o nome do PT, aparecendo com apenas 8 por cento.
Para o governador, a confirmação de que a influência de Lula como cabo eleitoral é relativa se dá pela quantidade de prefeitos petistas, que hoje são 560.
"Se não fosse assim, o PT teria mais de 5 mil prefeitos", resumiu Cid Gomes.