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Lula e Bolsonaro brigam por eleitorado cristão no primeiro dia de campanha

Enquanto o presidente defendeu pautas conservadoras, como proibição do aborto, o petista denunciou mentiras e chamou Bolsonaro de "fariseu"

 (Foto Lula: Bloomberg / Foto Bolsonaro: Evaristo Sa/Getty Images)

(Foto Lula: Bloomberg / Foto Bolsonaro: Evaristo Sa/Getty Images)

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Alessandra Azevedo

Publicado em 16 de agosto de 2022 às 21h18.

No primeiro dia de campanha eleitoral, nesta terça-feira, 16, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidatos à Presidência da República que lideram as pesquisas, aproveitaram os holofotes para tentar conquistar um público de peso nas eleições de 2022: os cristãos. 

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Bolsonaro fez discurso para eleitores conservadores em Juiz de Fora (MG), após ter se encontrado com líderes evangélicos na cidade. No local onde levou uma facada durante a campanha de 2018, o presidente se disse emocionado por voltar à cidade e afirmou que ter sobrevivido ao ataque foi um “renascimento” proporcionado por Deus. 

“A minha vida foi poupada por ele, o nosso criador, para que eu pudesse, como presidente da República, fazer o melhor para a nossa pátria”, disse Bolsonaro. “Vamos falar de política hoje, sim, para que amanhã ninguém nos proíba de acreditar em Deus”, acrescentou o presidente. 

Bolsonaro afirmou que o Brasil é majoritariamente cristão e, com base nisso, deu destaque a pautas conservadoras. O país, segundo ele, “não quer a volta da ideologia de gênero nas escolas”, “não quer liberdade às drogas”, “respeita a vida desde a sua concepção” e “não quer se alinhar ao comunismo”.

A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também falou no evento. Ela tem aparecido com mais frequência nas últimas semanas -- geralmente, com falas direcionadas à comunidade evangélica, em especial, às mulheres. Em Juiz de Fora, disse que “Deus fez um milagre na vida” do marido.

“Que Deus dê sabedoria e discernimento ao nosso povo brasileiro para que não entregue a nossa nação aos nossos inimigos”, declarou Michelle, que é ligada à Igreja Batista. Na semana passada, grupos bolsonaristas começaram a compartilhar imagens que relacionam a esposa de Lula, Janja da Silva, a religiões de matriz africana, como a umbanda.

"Fariseu"

A resposta de Lula às tentativas de afastá-lo do público evangélico veio em discurso no primeiro evento da campanha, em São Bernardo do Campo (SP). O ex-presidente disse que Bolsonaro é um “fariseu” que está “tentando manipular a boa-fé de homens e mulheres evangélicos que vão à igreja tratar da sua fé, da sua espiritualidade”. 

Enquanto falava sobre a atuação de Bolsonaro durante a pandemia de covid-19, momento em que ressaltou que o presidente “não derramou nenhuma lágrima pelas vítimas”, Lula o chamou de negacionista e afirmou que, “se tem alguém possuído pelo demônio, é esse Bolsonaro”.

Segundo o petista, o presidente “conta mentiras o tempo inteiro”. Recentemente, grupos bolsonaristas divulgaram fake news dizendo que Lula pretende fechar igrejas, se for eleito. O ex-presidente já negou essa possibilidade, mas a equipe ainda se preocupa com ataques relacionados a questões religiosas, que têm sido feitos cada vez com mais intensidade.

A equipe de Lula está atenta e trabalha para reverter os prejuízos que podem ser causados à imagem dele na comunidade cristã. A ideia é levantar o assunto nas próximas peças de propaganda eleitoral e em publicações nas redes sociais, ressaltando que, durante os governos do PT, os evangélicos passaram a ter mais espaço.

"Lula é cristão, nunca fechou nem vai fechar igrejas", garantiu a campanha, em nota. A equipe lembrou que foi o ex-presidente que sancionou a lei que permitiu que igrejas pudessem ter personalidade jurídica, instituiu o Dia Nacional da Marcha para Jesus e criou o Dia Nacional do Evangélico.

No evento em São Bernardo do Campo, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que Bolsonaro “joga baixo” e “mente descaradamente”. Ela pediu que os eleitores sejam “o mutirão da verdade” e desmintam o que “essa gente está dizendo, jogando medo na população, usando a religião e a fé das pessoas para fazer política”.

Pesquisas

Tanto Lula quanto Bolsonaro lutam para conseguir espaço no núcleo cristão, que ainda está dividido. Entre os evangélicos, o presidente tem vantagem -- pesquisa Exame/IDEIA divulgada em 21 de julho mostrou que ele tem 48% das intenções de voto, enquanto o petista tem 22%. Lula, no entanto, se destaca entre os católicos, com 43%, contra 22% de Bolsonaro.

Pessoas de outras religiões têm manifestado preferência por Lula: 47% estão com o petista e 17% dizem que votarão em Bolsonaro. O ex-presidente também está na frente no grupo de eleitores sem religião, com 35% das intenções de voto, contra 24% de Bolsonaro.

A pesquisa mostra ainda que 48% dos evangélicos avaliam o governo atual como ótimo ou bom. A aprovação é muito diferente quando se considera todos os eleitores. Em geral, o governo Bolsonaro é avaliado como bom ou ótimo por 29% dos entrevistados.

Redes sociais

Os dois candidatos também se alfinetaram nas redes sociais. No Twitter, Bolsonaro disse aos eleitores que “é preciso estar atento”, porque agora “os que perseguiram e defenderam fechar igrejas se julgarão grandes cristãos”. Ele reforçou ser “a favor da família” e contra o aborto e a ideologia de gênero, temas muito caros principalmente ao eleitorado evangélico. 

Também no Twitter, Lula reforçou que “Bolsonaro mente para os evangélicos” e chamou novamente o presidente de “fariseu”. Segundo o petista, o adversário “tenta manipular a fé de homens e mulheres evangélicas que vão à igreja pela sua religiosidade”. E completou: “Não haverá mentiras ou fake news que nos impeçam de mudar o Brasil”.

Planos de governo

Lula e Bolsonaro fizeram questão de tratar do assunto no plano de governo. O petista reforçou que defende “os direitos civis, garantias e liberdades individuais, entre os quais o respeito à liberdade religiosa e de culto e o combate à intolerância religiosa, que se tornaram ainda mais urgentes para a democracia brasileira”. 

Já Bolsonaro, no documento enviado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se compromete a propiciar “a livre possibilidade de exercer ou não suas crenças religiosas, respeitando os que pensem diferente”. Ele defende a liberdade religiosa e o combate a “todas as formas de discriminação e os ataques às distintas práticas religiosas”.

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