Lula: em reunião fechada, ex-presidente avaliou que a chance de Dilma voltar à presidência é remota (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de agosto de 2016 às 09h35.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem a deputados e senadores do PT, em Brasília, que o partido precisa se preparar para voltar a ser oposição.
Em reunião fechada, Lula avaliou que a chance de a presidente afastada Dilma Rousseff voltar ao cargo é remota, mesmo porque falta a ela uma "ofensiva mais contundente" para reverter o processo de impeachment.
"Ele disse que, depois de quase 14 anos, o PT precisa se preparar para ser oposição", afirmou o governador do Piauí, Wellington Dias. Segundo o governador, Lula está pensando no futuro do PT e pediu para todos defenderem o legado do partido.
O ex-presidente afirmou ainda que a carta aos senadores, a ser divulgada por Dilma na próxima semana, não resolve o problema. Na avaliação de petistas, a presidente afastada está demorando a divulgar o documento, que, a partir de agora, tende a ter pouco efeito.
"Lula não acha que essa carta seja fundamental. O que é importante é a ação pessoal dela, a conversa com os senadores, a demonstração de compromisso com o Brasil", disse o deputado Vicente Candido (PT-SP).
Ex-líder do governo Dilma no Senado, Humberto Costa (PE) defendeu durante a reunião que a presidente afastada se aproxime mais dos parlamentares para tentar reverter alguns votos do impeachment. Para os petistas, Dilma deveria dialogar mais e ser mais afetuosa.
Costa disse ainda que a bancada do PT no Senado tem conversado com um grupo de dez senadores "decisivos" que sinalizaram que podem mudar de voto no julgamento final. Considerando o último resultado, eles precisariam que pelo menos sete senadores mudassem de posição.
O encontro de ontem foi realizado menos de um dia depois de o Senado decidir dar continuidade ao processo de impeachment de Dilma e transformá-la em ré. De acordo com o presidente nacional do partido, Rui Falcão, o PT fará oposição se Dilma tiver que deixar o cargo. "O PT não vai desaparecer", declarou Falcão.
"Foi um apelo para reagir, não tem terra arrasada", disse Candido (SP). Segundo o deputado, Lula conclamou os parlamentares a defenderem o partido dos "ataques que vem sofrendo" e da criminalização da legenda.
"Ele está muito disposto a sair para a rua. Fez uma avaliação muito positiva do giro que fez recentemente pelo Nordeste", contou.
O ex-presidente teria dito que considera possível recuperar a credibilidade da legenda se for apresentado um discurso "honesto" e se os petistas fizerem um "mea culpa".
A reunião também foi solicitada por Lula para tentar unificar as bancadas do PT no Senado e na Câmara. Uma das situações que teria chamado a atenção do ex-presidente para a "desunião" e "dispersão" da legenda foi a votação para a presidência da Câmara, no último mês, em que o partido não conseguiu manter a característica de centralidade e os parlamentares votaram de maneiras diferentes nos dois turnos.
Ele também teria solicitado uma participação mais atuante dos parlamentares contra as propostas do presidente em exercício Michel Temer que "colocam em risco as conquistas sociais".
No encontro da noite de ontem, que reuniu cerca de 35 parlamentares, Lula sentou ao lado de Humberto Costa e de Falcão. Entre os presentes, também estavam o primeiro-vice-presidente do Senado, Jorge Viana (AC), os deputados Paulo Pimenta (RS) e Arlindo Chinaglia (SP), e os senadores Lindbergh Farias (RJ), Gleisi Hoffmann (PR) e Fátima Bezerra (RN). A reunião durou cerca de duas horas.