Lula na China: o presidente defendeu que é preciso avançar na relação do Brasil com a China (Ricardo Stuckert/PR/Flickr)
Agência de notícias
Publicado em 15 de abril de 2023 às 09h47.
O Brasil não vai vender mais empresas estatais, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à rede de televisão estatal chinesa CCTV. Na conversa, o petista defendeu ainda transações comerciais entre países sem passar pelo dólar, a busca de uma solução para a guerra da Ucrânia e a criação de uma nova forma de governança mundial, em que países como China, Brasil e México tenham mais voz.
"Não queremos ser vendedor nem só de commodities ou vendedor de empresa estatal", afirmou Lula, segundo transcrição da conversa liberada pelo governo brasileiro. "O que o Brasil quer propor à China é que nós precisamos construir uma centena de coisas novas. Que passa por rodovia, por ferrovia, por portos, aeroportos, que passa por novas indústrias, que passa por empresas de químicas, que passa por investimentos novos." É o que Lula vem chamando de reindustrialização do Brasil.
Lula defendeu na conversa com a imprensa chinesa, como já havia dito em outras ocasiões durante a viagem ao país asiático, que é preciso avançar na relação do Brasil com a China, não apenas na questão econômica e na questão comercial, mas em temas como ciência e tecnologia, convênios entre as universidades e na transição energética. "Nós precisamos estabelecer uma política em que a China se transforme em parceiro de investimentos no Brasil."
Sobre reformas em organismos multilaterais, que Lula já havia defendido na viagem durante discurso na posse de Dilma Rousseff no Novo Banco de Desenvolvimento, o petista afirmou que é preciso dar mais representatividade ao Conselho de Segurança das Nações Unidos. "Eu acho que tem que ter países da América do Sul América Latina, países da África. Não é possível, que o continente africano com cinquenta e quatro países não possa ter representante."
"Se você não tiver um Conselho de Segurança da ONU, com autoridade de decidir, e os países signatários cumprirem, não vai resolver o problema climático no mundo", afirmou Lula à TV chinesa.
"A única coisa que eu quero é o seguinte: é preciso criar uma nova forma de governança mundial", disse Lula. "A China tem que ser levada em conta. O Brasil tem que ser levado em conta. Um país como a Nigéria, como o Egito, como México, tem que ser levado em conta. A Índia tem que ser levada em conta", comentou o presidente. Segundo ele, na medida em que esses países vão crescendo e se desenvolvendo, obviamente começam a assustar aqueles que se sentiam o dono do mundo.
Sobre a guerra na Ucrânia, o presidente brasileiro disse estar "obcecado" em conversar com as pessoas pelo mundo para encontrar um jeito de alcançar a paz. Ele defendeu que países parem de fornecer armas para o conflito e que busquem uma solução de paz.
A visita de Luiz Inácio Lula da Silva a China ganhou destaque na imprensa chinesa, tanto na televisão quanto nos jornais impressos. Declarações do presidente sobre o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, em inglês), que pode libertar os países emergentes das amarras do financiamento tradicional com organismos multilaterais, viraram a manchete do jornal China Daily, o maior diário em inglês no país asiático.
Neste sábado, o China Daily traz em sua capa declarações do presidente Xi Jinping de que as relações de Pequim com o Brasil "são uma prioridade diplomática" e que os dois países vão contribuir para a paz regional e mundial, além de procurarem fortalecer a parceria estratégica, que é de longo prazo.
Segundo o jornal chinês, Xi Jinping ressaltou ainda nas conversas com Lula que, além de Brasil e China serem os maiores países emergentes de seus hemisférios, partilham de vários interesses comuns.