Abin: presidente também dispensou quatro chefes dos departamentos internos da agência (Luiz Silveira/ Agência CNJ/Flickr)
Agência de notícias
Publicado em 31 de janeiro de 2024 às 06h26.
Última atualização em 31 de janeiro de 2024 às 06h27.
Foi exonerado, nesta terça-feira, o diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alessandro Moretti, número 2 do órgão. Para o cargo, foi nomeado o Marco Cepik, atual diretor da Escola de Inteligência da Abin e homem de confiança do diretor-geral da agência, Luiz Fernando Corrêa. A troca foi assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada no Diário Oficial da União.
O presidente também dispensou quatro chefes dos departamentos internos da agência. Além disso, nomeou novos sete diretores, que irão ocupar as chefias desses departamentos e o comando de outras áreas, como a Escola de Inteligência. São servidores da própria Abin. Os nomes não foram informados, como é praxe no órgão.
As substituições acontecem em meio a uma investigação da Polícia Federal (PF) sobre um suposto esquema de espionagem ilegal na agência no governo de Jair Bolsonaro, quando o órgão era comandado por Alexandre Ramagem (PL-RJ), hoje deputado federal.
A PF suspeita de um "conluio" com o atual comando do órgão e investiga se houve tentativa de atrapalhar a apuração. A abertura do inquérito ocorreu após O GLOBO revelar o uso do programa espião First Mile, usado para fazer o monitoramento.
No documento, a PF cita que "as ações realizadas pela alta gestão atual, dessa forma, se mostram prejudiciais à investigação posto que transparecem aos investigados realidade distinta dos fatos". Pelo que apuraram as investigações, a atual direção da Abin teria montado, com os investigados, um acordo para formação de uma estratégia conjunta e um acordo para "cuidar da parte interna".
O relatório aponta que Moretti teria realizado uma reunião com os investigados, quando disse que o procedimento teria "fundo político e iria passar". As declarações, afirma a PF, teriam sido dadas na presença do atual diretor-geral da agência, Luiz Fernando Corrêa. Ele, entretanto, ainda não tinha tomado posse do cargo.
Esta é a segunda queda na cúpula da Abin no curso desta investigação. Em outubro do ano passado, foi exonerado Paulo Maurício Fortunato, então número três da agência.
A pressão pela saída de Moretti se intensificou na semana passada, após a Polícia Federal apontar "possível conluio" entre a atual gestão do órgão com investigados no caso de uso de um programa secreto para monitorar desafetos do ex-presidente Jair Bolsonaro.
No relatório enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a PF diz que “as ações realizadas pela alta gestão atual (da Abin) se mostram prejudiciais à investigação”. Segundo os investigadores, depoimentos de integrantes da agência indicam que a “DG”, referência à Diretoria-Geral do órgão, teria convencido de que "há apoio lá de cima". Não há detalhes a quem os servidores estavam se referindo. Em nota na semana passada, a Abin negou qualquer irregularidade e disse que está colaborando com as apurações.
No relatório, a Polícia Federal aponta que Moretti, realizou uma reunião no dia 28 de março do ano passado com os investigados pela PF, ocasião em que disse que o procedimento teria "fundo político e iria passar". A declaração teria ocorrido duas semanas após o GLOBO revelar a existência do FirstMile, ferramenta de espionagem capaz de monitorar a localização de celulares.
Moretti já era visto com desconfiança por aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter trabalhado com o ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Anderson Torres. Mas o seu nome foi afiançado pelo atual chefe da agência, Luiz Fernando Corrêa.
As resistências a Moretti também partiram do atual diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, que nutre desconfianças em relação ao colega de corporação desde o período da campanha eleitoral.
O atual número 2 da Abin era diretor de Inteligência da PF quando Rodrigues comandava a equipe de segurança de Lula e, mesmo assim, relatou nunca ter recebido relatórios sobre ameaças ao então candidato.
Outro episódio que aumentou a desconfiança ocorreu no dia da diplomação de Lula, em 12 de dezembro de 2022. Na ocasião, um grupo de apoiadores de Bolsonaro promoveu atos de vandalismo no centro de Brasília e chegou a se dirigir para a região do hotel onde Lula estava hospedado. Também desta vez, Rodrigues não recebeu informações de inteligência produzidas pela PF.
Ao fim do governo Jair Bolsonaro, Moretti havia sido indicado para como adido da PF na França, mas o ato foi cancelado por Rodrigues assim que assumiu o comando da corporação.