Segundo analista, Bolsonaro precisará abrandar o discurso para negociar com o Congresso (Youtube/Band/Reprodução)
André Jankavski
Publicado em 28 de outubro de 2018 às 21h25.
São Paulo - O analista político Lucas Aragão, da consultoria Arko Advice, enxerga uma vitória contundente de Jair Bolsonaro (PSL), mas longe de ser uma “goleada”. A diferença de mais de 10 pontos percentuais no segundo turno deve trazer uma calmaria para o início de seu governo. Mas ele precisará mostrar trabalho nos primeiros meses para manter o apoio.
Sobre o PT, Aragão acredita que a eleição mostrou que o partido continua com força, mas perdeu o apelo nacional. “O PT voltou a ser um partido de nicho”, diz ele. Leia na entrevista a seguir.
Lucas Aragão – Foi uma vitória esperada. O tamanho da diferença foi significativo e sólido, mas não foi uma goleada como as vitórias do ex-presidente Lula, por exemplo. De qualquer forma, é uma eleição muito mais firme do que a da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014. O Bolsonaro tem uma base muito apaixonada e acredito que ele terá um início de mandato com popularidade estabilizada. Essa popularidade não deve dissipar tão rapidamente, o que dá chances para ele aprovar as reformas. Agora, ele precisa mostrar que de fato tem uma equipe boa.
A governabilidade é fácil de se criar e difícil de se manter. O Bolsonaro não terá facilidade em um Congresso com mais de 25 partidos. A postura pouco ortodoxa na campanha pode funcionar com o eleitorado, mas não vai funcionar na Câmara e no Senado. Claro, ele terá um apoio forte das bancadas que elegeu e dos governadores que o apoiam.
Um assunto que deve passar é a reforma da Previdência, que foi bastante debatido e está pronto para ser aprovado em um novo governo. Mas não acredito que o Bolsonaro terá um governo que conseguirá aprovar o que quiser no Congresso. Ele precisará negociar muito com os partidos. Além disso, ele não tem uma equipe com grande experiência e nenhum craque da negociação.
Esse movimento em que todos querem ser presidente da Câmara é pura saliva. Na hora certa, o Bolsonaro vai participar. Se ele quiser colocar um candidato próprio e perder, vai cometer o mesmo erro que a Dilma em 2015, quando Arlindo Chinaglia (PT) perdeu a votação para Eduardo Cunha (MDB).
Nunca acreditamos em uma onda em prol de Haddad. Ficou apenas na narrativa. A eleição se mostrou um referendo de que o país não quer o PT de volta.
É muito cedo para falar se o partido sai menor. O PT sai com uma bancada grande, governadores e senadores. Mas o PT precisa se reinventar para reconquistar os eleitores de fora do partido. Ele sempre tem uma base de 30% dos votos. Agora, parece que se queimou com o eleitor que começou a acreditar nele a partir de 2002, com a primeira eleição do Lula. Voltou a ser um partido de nicho.