ROCHA LOURES: ex-assessor especial pode se tornar um dos próximos desafios do presidente Temer caso decida pela delação premiada / Divulgação (Divulgação/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 9 de junho de 2017 às 12h07.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h02.
No mesmo dia em que pode se livrar da cassação de seu mandato no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente Michel Temer pode estar começando a enfrentar outro problema. O ex-deputado federal e ex-assessor especial do presidente, Rodrigo Rocha Loures, prestou depoimento na Polícia Federal (PF), em Brasília. Na verdade, Loures preferiu ficar em silêncio “por orientação de sua defesa técnica”. Essa, no entanto, não deve ser sua postura até o final do processo, já que corre um sério risco de condenação. Ele está preso desde o último sábado e foi alvo de uma ação controlada da própria PF que o flagrou correndo com uma mala que continha 500.000 reais de propina ao sair de um restaurante em São Paulo.
De acordo com o entendimento da investigação, feita pela PF e pela Procuradoria-Geral da República, Loures atuava como uma “mão longa” do presidente, que seria o destinatário final do dinheiro. De acordo com a delação premiada dos executivos do grupo J&F, a propina de 500.000 reais seria semanal e duraria 20 anos, totalizando 520 milhões de reais. Ela seria dada em troca de uma intervenção de ambos no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para que uma termelétrica pertencente ao grupo não tivesse mais a obrigação de comprar gás da Petrobras.
O ex-assessor de Temer está desde quarta-feira no presídio da Papuda. Rocha Loures e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foram gravados pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS, em negociação de pagamento de propina. Depois, ambos foram alvos de ações controladas pela PGR.
O ex-assessor de Temer havia assumido o mandato de deputado federal no lugar de Osmar Serraglio (PMDB-PR), que tinha ido para o Ministério da Justiça. Após ser deposto da Justiça, Serraglio decidiu recusar a oferta de Temer para virar ministro da Transparência e reassumir o seu mandato. Rocha Loures perdeu, assim, o foro privilegiado, e acabou preso. É um erro estratégico que ainda pode custar muito caro ao Planalto. Na última terça-feira o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski negou um pedido de liberdade feito pela defesa de Rocha Loures.
O principal temor de aliados do presidente é que Loures tope fazer uma delação premiada. Loures era muito próximo a Temer, ocupando, inclusive, um escritório no terceiro andar do Palácio do Planalto, reservado também para o gabinete presidencial. Desde que foi preso, Loures não recebeu ainda sua mulher, que está grávida de oito meses. Ela e seus familiares o pressionam a assinar uma delação premiada.
Se Temer de fato se livrar da cassação no Tribunal Superior Eleitoral, Loures passa a ser uma de suas próximas dores de cabeça. Outra delação que deixa o Planalto em alerta é a de Lúcio Funaro, doleiro ligado a Eduardo Cunha que era responsável pelo repasse de propinas ao PMDB no caso investigado pela Lava-Jato e teria munição para atingir o presidente caso resolva falar.
Funaro foi preso com base na delação de Fabio Cleto, ex-vice presidente de Fundos e Loteria da Caixa. Segundo Cleto, o doleiro atuava em nome de Eduardo Cunha no recebimento de propina para liberação de aportes milionários do FGTS para grandes empresas, entre elas, a Eldorado Celulose, do Grupo J&F.
No áudio gravado por Joesley Batista, da JBS, na conversa que teve com o presidente no Palácio do Jaburu, o empresário diz que está comprando o silêncio tanto de Cunha quanto de Funaro, ao que o peemedebista responde: “Tem de manter isso aí”. O governo sustenta que o áudio, que passa por perícia, foi editado.
Além disso, uma denúncia contra Temer feita pela Procuradoria-Geral da República é esperada para a próxima semana. Para combater o novo desgaste (a aprovação de Temer é de 3%), a ideia do governo é apressar a aprovação da reforma trabalhista. A apresentação da denúncia, que tem tramitação parecida com a de um pedido de impeachment no Congresso, deve, na melhor das hipóteses, tomar 40 dias de trabalho.
São necessários dois terços dos votos do plenário da Câmara para que o processo continue e seja encaminhado ao Supremo, que pode tornar o presidente réu, o que levaria a seu afastamento. O governo acredita ter os votos necessários para que isso não aconteça. O problema é que quanto mais tempo esse processo demorar, mais chances de fatos novos complicarem a situação de Temer.
Por último, o PSDB decide na segunda-feira, depois de adiar muitas vezes, se permanece ou não na base do governo no Congresso. Diferente do que ocorreria há algumas semanas, a saída dos tucanos não deve acarretar uma debandada de outros partidos. Mesmo com a promessa de que continuará apoiando as reformas, que são a principal agenda do governo, não contar com a sigla, que tem 46 deputados, em outras votações – principalmente na análise da denúncia da PGR – pode complicar ainda mais o presidente. Em resumo, mesmo se livrando do processo do TSE, as próximas semanas não serão mais tranquilas para Temer. (com informações de VEJA.com)