Brasil

Lobista preso por negociar MP ofereceu incentivo a 3 setores

As negociações teriam sido feitas com o ex-ministro e atual governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), e seu substituto na pasta, Mauro Borges


	Polícia Federal: o presidente do Sindipeças, Paulo Buturi, disse que não chegou a fechar negócio com o lobista
 (Arquivo/Agência Brasil)

Polícia Federal: o presidente do Sindipeças, Paulo Buturi, disse que não chegou a fechar negócio com o lobista (Arquivo/Agência Brasil)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de novembro de 2015 às 11h36.

Brasília - Preso sob suspeita de atuar no esquema de "compra" de medidas provisórias pelo setor automotivo, o lobista Mauro Marcondes Machado também ofereceu seu pacote de serviços de intermediação no governo para três entidades, ligadas aos segmentos de autopeças, máquinas e pneus.

A Operação Zelotes, da Polícia Federal, investiga o suposto esquema de negociação das MPs.

O jornal O Estado de S. Paulo confirmou que ele procurou o Sindicato Nacional da Indústria de Peças de Componentes Automotores (Sindipeças), a Associação Brasileira da Indústria Máquinas (Abimaq) e Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip).

Nesses casos, Marcondes - que fez pagamentos à empresa de um dos filhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - disse que tinha "influência política em Brasília" para conseguir medidas legislativas e governamentais capazes de conceder incentivos fiscais aos setores.

"Só para iniciar os trabalhos, o Mauro nos pediu R$ 500 mil. Se tudo desse certo, ele ganharia ainda uma taxa de sucesso entre 3% e 5% do valor total do benefício dado ao setor", contou à reportagem um dirigente de entidade patronal que reuniu-se com Marcondes.

Os itens contratuais propostos são semelhantes aos pactuados com as montadoras.

O presidente do Sindipeças, Paulo Buturi, disse que não chegou a fechar negócio com o lobista.

"Falamos por 20 minutos. Queria oferecer um serviço de representação em Brasília, onde ele disse ter um bom relacionamento no governo. Não nos interessamos", afirmou

Já o presidente executivo da Abimaq, José Velloso, contou que Marcondes afirmou que tinha condições de conseguir um programa de benefícios fiscais similar ao Inovar-Auto, que assegura benefícios fiscais ao setor automotivo, mediante contrapartidas.

"(Ele) Falou que ia se chamar Inovar-Maq. Não aceitamos. Não era bom para o nosso setor", disse.

Além do suposto esquema para viabilizar medidas provisórias, revelado pelo jornal em outubro em série de reportagens, a Polícia Federal investiga, na Operação Acrônimo, a venda de portarias do Ministério do Desenvolvimento para habilitar montadoras a receber os benefícios do Inovar-Auto.

As negociações teriam sido feitas com o ex-ministro e atual governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), e seu substituto na pasta, Mauro Borges. Ambos negam qualquer irregularidade.

A ideia de Marcondes era replicar o programa em outros segmentos da indústria. A Operação Zelotes, que investiga o esquema da compra das MPs, identificou que os contatos de Mauro Marcondes no governo eram principalmente com Gilberto Carvalho, ex-chefe do gabinete pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ex-ministro do governo Dilma Rousseff. Marcondes também tem proximidade com Lula desde quando o petista era sindicalista.

Consultoria

O lobista conseguiu ainda fechar um contrato de "consultoria" com a Anip, que representa fabricantes de pneus.

Um documento apreendido pela PF, obtido pela reportagem, mostra que ele levou três executivos do setor para discutir o "Inovar-Pneus" com Pimentel, em 23 de agosto de 2013.

O encontro com representantes da associação, em Brasília, consta do site do ministério. Mas a agenda oficial do então ministro omitiu a presença de Marcondes.

A partir do encontro, a pasta passou a discutir medidas de incentivo ao setor, mas não formalizou nenhum sob o título "Inovar-Pneus".

O ministério explicou que o critério adotado para divulgação da agenda do ministro é informar o nome "da principal autoridade ou representante presente na audiência".

Por isso, Marcondes não teria sido citado. Em nota, Pimentel alega ter recebido Alberto Mayer, presidente da Anip, para discutir incentivos à cadeia produtiva de pneus, mas que não adotou medidas sob o título "Inovar-Pneus".

"Lideranças empresariais, políticos, autoridades, presidentes de entidades de classe, entre outros, se fazem acompanhar de assessores e são os responsáveis pela indicação de quem os acompanhará em audiência", alegou Pimentel na nota, acrescentando não ter "qualquer tipo de relação profissional" com Marcondes.

A Anip explicou ter contratado Marcondes para produzir um relatório sobre a produtividade do setor, apresentado a interlocutores como o Ministério do Desenvolvimento.

"A ANIP atua dentro dos mais elevados padrões éticos e legais na defesa dos interesses do setor e do comércio internacional perante a sociedade, meio empresarial e governamental desde 1960", assegurou a entidade.

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoEscândalosFraudesLuiz Inácio Lula da SilvaOperação ZelotesPersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

Mais de Brasil

Acidente com ônibus escolar deixa 17 mortos em Alagoas

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP