Brasil

Lobby em Cuba e Peru rendeu R$ 1,1 milhão a José Dirceu

Investigadores da Lava Jato encontraram divergências nos dados de contratação e pagamentos feitos pela Engevix para a empresa do ex-ministro


	José Dirceu: o valor e as datas de vigência não batem com os que constam no contrato entregue pela defesa da empresa do ex-ministro
 (José Cruz/Agência Brasil)

José Dirceu: o valor e as datas de vigência não batem com os que constam no contrato entregue pela defesa da empresa do ex-ministro (José Cruz/Agência Brasil)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de março de 2015 às 11h26.

Curitiba e Brasília - Investigadores da Operação Lava Jato encontraram divergências nos dados de contratação e pagamentos feitos pela empreiteira Engevix Engenharia para a JD Assessoria e Consultoria Ltda., do ex-ministro José Dirceu.

Quebra de sigilo fiscal da empresa mostra que ela recebeu da empreiteira, acusada de cartel e corrupção na Petrobras, R$ 1,1 milhão, entre 2008 e 2011.

O valor e as datas de vigência não batem com os que constam no contrato entregue pela defesa da JD, no dia 12 de março, à Justiça Federal.

O pedido foi feito pelo Ministério Público Federal para que a empresa de consultoria completasse informações prestadas de pagamentos de empresas do cartel para ele.

O contrato, em poder da Lava Jato, foi assinado no dia 2 de novembro de 2010. Ele previa pagamento de R$ 300 mil, de forma parcelada. O objeto era o serviço de "assessoria jurídica, institucional para atuação no mercado latino americano e africano".

O vice-presidente da Engevix, Gérson de Mello Almada, em depoimento à Justiça Federal na terça-feira, 17, disse que contratou Dirceu para fazer "lobby internacional".

O documento contratual registra ainda prazo de execução de seis meses. Há, porém, referência a início do objeto em 2 de novembro de 2009 e término em 1 de maio de 2011.

Os dados da Receita Federal de quebra de sigilo da empresa de consultoria indicam outros valores. Consta que a Engevix pagou à JD o total de R$ 1,1 milhão, entre 2008 e 2011 - não R$ 300 mil, apenas.

Os pagamentos começaram antes do período de vigência ou de assinatura do contrato entregue pela JD. O termo é de novembro de 2010, mas cita início em novembro de 2009.

Ambas as datas são posteriores aos lançamentos de pagamento registrados pela Receita. Em 2008 e 2009 constam recebimentos de R$ 100 e R$ 260 mil, respectivamente.

Em 2010, ano em que o contrato seria assinado em novembro, a empreiteira pagou R$ 650 mil para a JD. Houve ainda pagamentos em 2011 que totalizaram R$ 100 mil.

Durante a audiência do processo em que Gerson Almada é réu por corrupção e lavagem de dinheiro, o executivo viu pela primeira vez a cópia do contrato entregue pela JD à Justiça Federal.

Preso desde o dia 14 de novembro de 2014 pela Lava Jato, Almada apontou ao juiz federal Sérgio Moro possível erro nas datas de execução e vigência registradas no documento.

"Já tem um erro nesse contrato. Seis meses, começando em 2 de novembro de 2009 e terminando em 1 de maio de 2011. Mas acho que o válido é seis meses", disse Almada.

Moro chamou a atenção da divergência de datas. Consta aqui que a empresa Engevix teria pago R$ 100 mil no ano de 2008 à empresa JD, antes até desse contrato", disse o magistrado.

"É um contrato estranho, porque a assinatura é 2 de novembro de 2010, mas consta início em novembro de 2009."

Almada confirmou ser sua a assinatura no documento. "Acho que é seis meses (período do contrato), deve ter um erro. Garanto que dois anos e meio não era, é algum erro", afirmou Almada.

O executivo disse que os serviços não tinham relação com a Petrobras, eram serviços de lobby em Cuba e no Peru.

Investigadores da Lava Jato querem saber porque a JD não apresentou o contrato que respaldou os demais pagamentos, que constam na quebra do sigilo fiscal da empresa.

Notas fiscais entregues pela defesa do ex-ministro podem explicar os recebimentos mensais que eram de R$ 20 mil a R$ 50 mil iniciados em 2008 e encerrado em 2011.

Cartel

Quebra dos sigilos mostraram que além das empresas que embasaram os pedidos de devassa nas contas e no patrimônio do ex-ministro (Galvão Egenharia, OAS e UTC), havia outras empreiteiras pagando os serviços da JD: Engevix, Egesa, MPE, Camargo Corrêa, Delta e Jamp Engenheiros.

A empresa de consultoria do ex-ministro recebeu R$ 29 milhões em nove anos de atuação. Contratada por empresas do cartel acusado de corrupção na Petrobras, a JD passou a ser investigada no final do ano passado, suspeita de ter prestado falsas consultorias que serviram para ocultar o pagamento de propina.

A JD Assessoria recebeu pagamentos de mais de 50 empresas. Segundo a defesa do ex-ministro, os contratos assinados com três empreiteiras (Galvão Engenharia, UTC Engenharia e OAS) alvos da Lava Jato representam cerca de 16% dos clientes.

A advogada Anna Luiza de Sousa, que subscreve a peça de defesa do ex-ministro, argumenta que as margens dos lucros da JD são menores que a média das empresas de consultoria.

Ela afirma que a atividade da empresa do ex-ministro 'é lícita, correspondendo aos contratos assinados e aos serviços realizados'.

Acompanhe tudo sobre:ConstrutorasJosé DirceuOperação Lava JatoPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

Mais de Brasil

Governo Lula condena ataques dos EUA a instalações nucleares do Irã

Brasileira desaparecida em vulcão foi deixada para trás por guia, diz imprensa da Indonésia

Rio Grande do Sul tem 126 municípios afetados pelas chuvas, mas número de pessoas desalojadas cai

Maioria da população apoia a reeleição de presidentes, governadores e prefeitos, diz pesquisa