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Lista de Janot já estava "precificada", garantem líderes

Segundo uma importante liderança aliada, o mundo político já vivia sob suspense desde o início do ano

Câmara: trechos de depoimentos das delações vazados até o momento citam parlamentares e ministros do governo, além do próprio presidente Michel Temer. (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Câmara: trechos de depoimentos das delações vazados até o momento citam parlamentares e ministros do governo, além do próprio presidente Michel Temer. (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

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Reuters

Publicado em 15 de março de 2017 às 21h52.

Brasília - O impacto no Congresso da apresentação de dezenas de pedidos de inquéritos pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF) tendo políticos como principais alvos já estava "precificado" e não deve interferir de maneira significativa nos trabalhos do Legislativo no momento em que são analisadas reformas como a trabalhista e a previdenciária, avaliaram aliados do governo do presidente Michel Temer.

Mesmo assim, a Câmara encerrou uma das sessões previstas por falta de quórum --depois iniciou uma nova ordem do dia e votou uma Proposta de Emenda à Constituição-- e o Senado votou apenas matérias acertadas por acordo sem utilizar o painel eletrônico, o que exigiria uma contagem nominal dos votantes.

Segundo uma importante liderança aliada, o mundo político já vivia sob suspense desde o início do ano, com as notícias dando conta da proximidade da homologação das delações dos 77 executivos ligados à Odebrecht, que resultaram nos 83 pedidos de abertura de inquérito contra políticos com prerrogativa de foro junto ao STF feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

A leitura é que a essa altura não havia grande surpresa na lista, ainda sob sigilo, e houve até quem esperasse um número superior aos 83 pedidos de abertura de inquérito de Janot.

"Todo mundo sabia que ia haver a lista do Janot. Para o Congresso essa lista já estava precificada", afirmou a liderança, que preferiu o anonimato.

Na avaliação dessa liderança, outro ponto que pode evitar grandes embates sobre a lista e, portanto, impedir um atraso dos trabalhos, é o fato de os pedidos de inquérito abarcarem os mais variados espectros políticos.

"Não vai ter dois lados se degladiando em plenário", explicou. "Claro que tem impacto, mas esse impacto não será capaz de anestesiar os trabalhos da Casa."

Na mesma linha, outros líderes defenderam a tese segundo a qual as atividades no Congresso e os desdobramentos da Lava Jato correrão paralelamente e sem interferências um no outro.

Esse é o caso do líder da maioria na Câmara, Lelo Coimbra (PMDB-ES), para quem o calendário de votações prioritárias está mantido.

"As nossas agendas continuam, a Câmara mantém as suas atividades", afirmou. "Esse tema (Lava Jato) terá os seus desdobramentos, mas vida que segue. O nosso foco é construir o debate aqui na Casa, manter o prazo de apresentação do relatório (da reforma da Previdência)."

O tom é compartilhado pelo líder do PSDB, Ricardo Tripoli (SP). Para ele, a lista não afetará em "absolutamente nada" e Judiciário e Legislativo trabalham paralelamente.

Trechos de depoimentos das delações vazados até o momento citam parlamentares e ministros do governo, além do próprio presidente Michel Temer.

Os pedidos de inquérito referem-se, de acordo com reportagens, a cinco ministros, aos presidentes da Câmara, Rddrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), além de importantes lideranças aliadas, como o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) e do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL).

As solicitações de mais investigações também referem-se a parlamentares da base como os senadores tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) e o senador Edison Lobão (PMDB-MA). Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff também teriam sido mencionados.

Além dos pedidos de inquérito, o procurador-geral Rodrigo Janot encaminhou ainda 211 despachos envolvendo pessoas sem foro privilegiado, a serem encaminhadas para instâncias inferiores, sete pedidos de arquivamento e mais 19 pedidos de outras providências.

Mais cedo, os presidentes da Câmara e do Senado também sustentaram que não haverá contaminação dos trabalhos no Legislativo e defenderam-se das supostas citações afirmando que eventuais investigações os proporcionarão a chance de se defenderem e repelirem as acusações.

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