Índios: “estamos lutando conta a perda da diversidade linguística no Brasil, representada pelas mais de 150 línguas indígenas que ainda são faladas", diz especialista (Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2016 às 22h30.
O Brasil corre o risco de perder um de seus grandes tesouros culturais, as línguas indígenas, se não forem tomadas medidas de preservação desses idiomas ancestrais. O alerta é da antropóloga e linguista Bruna Franchetto, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ela falou sobre o assunto nesta terça-feira (19), quando é comemorado o Dia do Índio, em palestra no Museu do Amanhã, no centro do Rio.
“Estamos lutando conta a perda da diversidade linguística no Brasil, representada pelas mais de 150 línguas indígenas que ainda são faladas, e contra o enfraquecimento e o empobrecimento dessa diversidade. Calcula-se que, desde o momento da conquista, há mais de 500 anos, até os dias de hoje, houve uma perda superior a 80% da diversidade cultural, étnica e linguística nativa”, disse Bruna.
Diversidade
Segundo ela, há no Brasil línguas que pertencem a 40 famílias distintas, que se organizam, não todas elas, em troncos principais, o Gê e o Tupi. Além disso, têm mais 10 línguas isoladas, que não pertencem a nenhuma família.
“É uma diversidade incrível. Preservar e lutar por sua sobrevivência é fundamental. Cada língua carrega um universo de conhecimentos, tradições, artes e beleza estética. Cada velho índio que morre é como se queimasse uma biblioteca.”
Bruna esclareceu que a perda linguística deveu-se ao genocídio e à extinção de povos inteiros, desde a época da conquista. “Hoje ainda há genocídio de populações indígenas, com a morte física de falantes, causado pelas armas, invasão de territórios, invasão das áreas, dispersão de populações e doenças trazidas pelos colonizadores.”
Além disso, segundo ela, a assimilação cultural violenta também se encarrega de fazer desaparecer as línguas ancestrais. “Há uma cultura homogênea chamada de nacional e isso causou o empobrecimento cultural e linguístico do Brasil indígena. Isso se deu através das escolas, dos missionários, da catequização e da própria mídia.”
A linguista acredita que há medidas possíveis para frear o processo e garantir a preservação desses idiomas. “Estamos fazendo, timidamente, de modo muito incipiente. São pesquisas realizadas nas universidades, em centros de pesquisas. O número de linguistas que se dedicam ao estudo e documentação dessas línguas ainda é muito pequeno. Nós temos dois grandes centros de documentação, que é o Museu do Índio, no Rio de Janeiro, e o Museu Emílio Goeldi, no Pará.”
Outro assunto que ela considera essencial é melhorar a formação dos professores indígenas, responsáveis pela manutenção da língua diretamente nas aldeias. “É uma formação ainda muito precária. Uma corrida contra o tempo. Estamos remando contra a maré.”