Lula e Dilma: tentativa da presidente de levar Lula para o gabinete como ministro-chefe da Casa Civil está paralisada depois que um juiz suspendeu temporariamente a nomeação (LatinContent/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 1 de abril de 2016 às 21h47.
O retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à política em período integral enfrenta um obstáculo justamente no momento em que sua sucessora, Dilma Rousseff, mais precisa dele.
A tentativa da presidente de levar Lula, 70, para o gabinete como ministro-chefe da Casa Civil, há duas semanas, está paralisada depois que um juiz suspendeu temporariamente a nomeação.
O Supremo Tribunal Federal vem analisando a decisão desde então, deixando Lula em um estado de limbo político que tem prejudicado seus esforços de construção de apoio no Congresso para o governo da presidente.
O momento não poderia ser pior para Dilma, que está tentando sobreviver a uma votação de impeachment que deverá ocorrer em meados ou fim de abril. Incapaz de tirar vantagem plena de seus fortes laços com os parlamentares, Lula está deixando a sucessora que escolheu a dedo cada vez mais isolada justo quando o apoio dela no Congresso está se desintegrando.
“Ele é um lutador que perdeu suas armas”, disse Gabriel Petrus, analista político em Brasília da empresa de consultoria de negócios Barral M Jorge.
A incapacidade de Lula de resgatar Dilma, até o momento, é uma grande reviravolta para um político que deixou o poder com um índice de aprovação de 83 por cento, o mais elevado entre os presidentes eleitos do Brasil das últimas três décadas.
Queda na popularidade
A popularidade do ex-presidente foi sendo impactada de lá para cá, depois que ele passou a ocupar posição de destaque na investigação da Lava Jato.
No início de março ele foi conduzido de maneira coercitiva pela Polícia Federal para ser interrogado e uma semana depois o Ministério Público Federal o acusou de esconder patrimônio das autoridades. Na quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal acolheu uma liminar para suspender a investigação até que o procurador-geral da República possa estudar a evidência e não definiu data para decidir se Lula poderá fazer parte do gabinete de Dilma.
Lula várias vezes negou irregularidades e diz que as investigações fazem parte de uma campanha de difamação. Dilma rejeita as acusações de que nomeou Lula para o seu governo para protegê-lo da prisão pelo fato de os ministros no Brasil terem foro privilegiado. “Sejamos francos aqui: Lula fortalece meu governo”, disse ela um dia antes de um juiz federal bloquear a nomeação.
O ex-presidente ainda está apoiando o governo ativamente, “mas sem um título oficial”, segundo José Chrispiniano, porta-voz do Instituto Lula, com sede em São Paulo, que foi fundado pelo ex-presidente.
Embora os problemas legais de Lula não o tenham impedido de realizar reuniões informais com os membros do gabinete de Dilma e com parlamentares, sua influência diminuiu. No início da semana, o PMDB, maior partido do Congresso, deixou a base aliada de Dilma apenas dois dias depois de Lula negociar com o líder do partido, Michel Temer, que também é vice-presidente da República.
Recessão de Dilma
O índice de aprovação de Lula quando deixou o cargo ofusca os índices de aprovação de Dilma. Ela comanda uma economia que desacelerou em seu primeiro mandato e entrou em recessão no segundo.
Para salvar Dilma do impeachment, o ex-presidente está focado agora em evitar que os partidos menores abandonem a base aliada, segundo analistas da empresa de consultoria política Eurasia Group, incluindo Christopher Garman, João Augusto de Castro Neves e Cameron Combs. Lula está ajudando Dilma nas negociações para oferecer empregos no governo aos membros dos partidos em troca de apoio contra o impeachment. É improvável que ele consiga reunir os votos de que Dilma precisa para evitar o impeachment, escreveram eles em uma nota técnica, na quinta-feira.
“A abertura não vem como surpresa e não representa uma virada de jogo”, disseram os analistas. “Continuamos acreditando que a Câmara dos Deputados votará pela remoção de Dilma”.