Delegado Waldir: líder do PSL na Câmara orientou deputados da legenda a votarem contra MP do governo (Luis Macedo/Agência Câmara)
Reuters
Publicado em 15 de outubro de 2019 às 19h17.
Última atualização em 15 de outubro de 2019 às 19h45.
Brasília — O líder do PSL na Câmara dos Deputados, Delegado Waldir (GO), disse nesta terça-feira (15) que a sigla pedirá os mandatos dos deputados que se desfiliarem da legenda e, em meio a uma queda de braço entre a cúpula partidária e o presidente Jair Bolsonaro, orientou sua bancada a obstruir a votação de uma medida provisória de interesse do Palácio do Planalto.
Em entrevista a jornalistas, Waldir disse que orientou a obstrução para evitar que deputados do PSL que não estão em plenário recebam falta. "Os parlamentares em sua maioria estavam em reunião aqui na liderança e para que eles não levassem faltas eu tive de sair correndo aqui para obstruir, mas já vou lá e vou adequar essa orientação", disse.
A MP que está sendo votada na Casa alterou funções do governo federal e, caso não seja aprovada por deputados e senadores até a quarta-feira, perderá validade. A medida, entre outras coisas, transferiu a articulação política da Casa Civil, liderada pelo ministro Onyx Lorenzoni, para a Secretaria de Governo.
Ao entrar em obstrução, o PSL se une ao posicionamento do PT, PSB, PDT, PSOL e PCdoB contra o governo na questão da MP. A medida é vista como uma resposta à operação de busca e apreensão feita pela Polícia Federal nesta teça em endereços do dirigente do PSL, Luciano Bivar.
A crise entre as chamadas alas "bolsonarista" e "bivarista" se intensificou depois que o presidente Jair Bolsonaro disse a um apoiador, que pretendia ingressar como pré-candidato, para "esquecer o PSL" e que o dirigente da sigla estava "queimado". Desde então Bolsonaro deu indícios de que pretende deixar a legenda e tem buscado apoio jurídico para que os deputados que o seguirem não percam seus mandatos.
Apesar da orientação, Waldir voltou a dizer que o partido não vai expulsar nenhum parlamentar, mesmo que alguns dos deputados tenham atacado a sigla, ele e o presidente da legenda.
Ele negou também que vá haver qualquer retaliação do partido em relação ao governo do presidente Jair Bolsonaro. "Continuamos defendendo o governo, somos Bivar, somos Bolsonaro", disse.
Waldir disse ainda que, apesar da crise, não há uma divisão na legenda. "Foi criada uma tempestade que não foi criada por mim e nem pelo partido", disse. "Nós somos todos bolsonaristas", disse. Ele reforçou que o partido sempre acompanha o governo.
Ele afirmou ainda que o PSL está "tranquilo" em relação à operação da Polícia Federal que teve como alvo hoje o Luciano Bivar. "Vamos aguardar os resultados".
Bolsonaro avalia que a operação foi feita "da melhor maneira possível", disse nesta terça o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros.
Waldir, no entanto, voltou a sinalizar que a operação já era sabida por algumas pessoas e disse estranhar a ação. "É muito estranho. Me parece que algumas pessoas já sabiam uma semana antes", disse. Ele questionou também porque a polícia demorou tanto tempo para se fazer uma busca. "Você faz a busca logo no começo da investigação. Depois é circo", disse.
A Comissão Executiva Nacional do PSL divulgou nesta terça uma nota na qual diz que eventuais dúvidas sobre a transparência das contas partidárias serão solucionadas “a tempo e modo próprio, sem atropelos”, ao mesmo tempo que alerta que excessos cometidos contra o partido serão devidamente apurados para adoção de medidas.
A nota informou que a direção partidária ainda não recebeu o original do pedido, apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro e parlamentares aliados a ele, para ter acesso e fazer uma espécie de auditoria nas contas da legenda. Informou que vai aguardar para responder aos termos assim que a documentação estiver completa.
“De qualquer forma, no que tange à transparência das contas partidárias, parece ser evidente que qualquer pessoa –filiada ou não– pode ter acesso completo a todas informações, extratos e comprovantes que constam das prestações de contas apresentadas pelo partido nos últimos anos, pois eles estão disponíveis para consulta pública no site do Tribunal Superior Eleitoral”, disse a nota.
“Eventuais dúvidas pontuais, se existirem, serão solucionadas a tempo e modo próprio, sem atropelos. Por outro lado, os excessos cometidos contra o partido serão devidamente apurados para adoção das medidas cabíveis”, completou.
A nota classifica ainda como “natural” a existência de divergências dentro do partido e que as diferenças devem ser sempre resolvidas pelo “diálogo honesto, sem insinuações e ameaças veladas, que se mostram frágeis”.
Em resposta à união da ala "bivarista" com a oposição para tentar obstruir a medida provisória do presidente, deputados "bolsonaristas" iniciaram um movimento para destituir o parlamentar da função.
O movimento foi comandado pela deputada Bia Kicis (PSL-DF) e pelo deputado Filipe Barros (PSL-GO) que coletavam assinatura da bancada para tirar Waldir do cargo. O líder tem papel fundamental na estrutura da Câmara. A pauta de votações da Casa é discutida na reunião de líderes.
Além disso, o líder tem a prerrogativa de orientar o partido, participar dos trabalhos de qualquer comissão (mesmo daquelas em que não for integrante); indicar membros da bancada que irão integrar as comissões; registrar candidatos a cargos da Mesa e inscrever membros da bancada para comunicações parlamentares.
(Com Reuters e Estadão Conteúdo)