Agência de notícias
Publicado em 16 de outubro de 2025 às 23h19.
A ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, defendeu o adiamento da apreciação dos vetos presidenciais à Lei Geral de Licenciamento Ambiental, que flexibiliza regras para autorizações de obras e empreendimentos no país. Marina diz que a derrubada dos vetos de 59 dispositivos seria "acabar com o licenciamento" e "voltar para o tempo de Cubatão", em referência à cidade paulista que já foi considerada a mais poluída do mundo pela ONU nos anos 1980.
"Esperamos que seja um tempo para continuar dialogando e mostrar aos nossos parlamentares que acabar com o licenciamento é voltar ao tempo de Cubatão, é prejudicar ainda mais a saúde das pessoas quando há queimadas e a fumaça faz com que milhões de brasileiros tenham que ir para os hospitais. É inviabilizar o próprio processo produtivo, porque, sem água, não tem como ter produção agropecuária",
A sessão conjunta do Congresso que apreciaria os vetos estava prevista para a manhã desta quinta-feira, mas foi cancelada logo antes de ser iniciada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) após pressão do governo Lula para adiar a votação dos vetos ante a perspectiva de uma derrota.
"O governo tem trabalhado dialogando com o Congresso, com as lideranças, para fazê-los entender que os vetos fazem uma mediação com conceitos novos, mas preservam a integridade do licenciamento, preservam os direitos dos quilombolas, dos povos indígenas de serem ouvidos e preserva as fases do licenciamento que é sempre constituído na licença prévia de instalação e de operação, quando é o caso que assim se faz necessário", afirmou Marina.
Nos últimos dias, lideranças governistas vinham pleiteando que o texto que flexibiliza regras para autorizações de obras e empreendimentos no país não fosse reanalisado neste momento por deputados e senadores diante da falta de acordo com a oposição às vésperas da COP-30, que será realizada em novembro na cidade de Belém.
Na quarta-feira, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a conversar diretamente com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), numa tentativa de sensibilizar o Parlamento sobre o tema.
Especialistas e entidades da área enxergam na nova legislação um desmonte da proteção ao meio ambiente. Em agosto, Lula vetou 59 dispositivos do texto aprovado pelo Congresso
Na avaliação do governo, o presidente buscou corrigir inconstitucionalidades e evitar retrocessos ambientais mais evidentes, além de garantir segurança jurídica. Chamado de PL da Devastação pelos críticos, o texto é chancelado sobretudo pelo próprio Alcolumbre e pela bancada ruralista, que oficialmente defende a derrubada integral dos vetos. Parte do Centrão segue a mesma linha.
Nas negociações, o governo tem argumentado que, se os vetos forem derrubados integralmente, a gestão Lula deverá ajuizar uma ação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) sob o argumento de que, tal como foi aprovado pelo Congresso, a lei é inconstitucional. Também há a avaliação de que uma derrubada completa passaria à opinião pública e à comunidade internacional a mensagem de que o Parlamento opõe-se a uma agenda de proteção ambiental para o Brasil.
Do lado da bancada ruralista, o principal ponto é manter o que os congressistas vêm chamando de autonomia dos estados na definição de critérios e procedimentos para o licenciamento ambiental. Lula vetou a permissão para que cada estado ou município tivesse suas próprias regras, sem uma padronização nacional.
A FPA entende que a Lei Complementar 140, de 2011, já define que o licenciamento é de competência da União, mas também dos estados e dos municípios. O grupo entende, assim, que o veto de Lula atendeu a uma demanda do Ministério do Meio Ambiente.