Eduardo Leite em evento em São Paulo. (Rodger Timm/Divulgação)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 19 de outubro de 2021 às 06h00.
Última atualização em 19 de outubro de 2021 às 08h27.
A um mês das prévias que vão escolher o candidato do PSDB à presidência da República, a disputa interna está cada vez mais acirrada. Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, busca se conectar com figuras que retratam o partido que esteve em quase todas as disputas de segundo turno desde a redemocratização do país.
Com isso, quer mostrar que tem força para formar uma grande união nacional e vencer a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em 2022.
Para isso, a estratégia de Leite passa por focar em apoios estratégicos. No último fim de semana, o governador gaúcho marcou presença em dois estados muito importantes nesta disputa: Minas Gerais e São Paulo.
Isso ocorre porque cada voto tem um peso diferente na eleição. Os filiados somam 25%, os deputados federais, senadores, vice-governadores e vice-governadores e ex-presidentes do partido somados também valem 25%, assim como o dos deputados estaduais. Já prefeitos e vereadores têm peso de 12,5%, cada, na escolha interna.
Nesta conta, São Paulo ocupa uma posição estratégica e representa cerca de 25% dos votos. Minas, por sua vez, tem um peso de aproximadamente 13,66%. Apesar de ter fechado questão com o governador João Doria - principal oponente do gaúcho na corrida, que conta ainda com o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio -, o território paulista é constantemente visitado por Leite. Foram três eventos abertos, dois debates, uma vista ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e mais duas reuniões fechadas.
“Nas prévias São Paulo é um estado relevante para eleição porque boa parte do peso dos votos está aqui. Ao mesmo tempo, as origens do partido também estão aqui então. Temos o PSDB histórico, ou o partido raiz, como eles gostam de chamar. E essa parcela tem se identificado na nossa candidatura, mais correspondente às origens do PSDB”, disse o governador Eduardo Leite em entrevista exclusiva à EXAME entre dois eventos que participou no último fim de semana na Grande São Paulo.
O último compromisso, na capital paulista, na noite de domingo, 17, o gaúcho se encontrou com nomes fortes do Produto Interno Bruto (PIB) de São Paulo. Leite participou de uma jantar, a convite do grupo Esfera Brasil, que reúne empresários do setor industrial, do setor de varejo, da área de saúde e banqueiros.
Participaram do jantar na casa do empresário João Camargo a presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, o presidente do conselho do Hospital Albert Einstein, Claudio Lottenberg, o empresário Lirio Parisotto, entre outros.
Fontes ouvidas por EXAME disseram que ele fez um longo discurso e defendeu a ideia de "fazer política do jeito certo". Na sua estratégia estão reformas, o cumprimento do teto de gastos, e que a educação deveria ser a prioridade a médio e longo prazos. Também defendeu uma bandeira pessoal em todos os cargos do Executivo em que ocupou: a não reeleição.
Em São Paulo, Leite se aproximou de um tucano raiz, Geraldo Alckmin, um dos fundadores do partido e desafeto de Doria. Aliados do ex-governador marcaram presença em um evento no dia 9 de outubro, na capital do estado. Ex-presidentes do partido em São Paulo, ligados a Alckmin, também declararam apoio a Leite.
Há quem diga, nos bastidores, que a saída do ex-governador paulista do partido - o PSD ou DEM seriam as legendas mais prováveis as quais se filiaria - para se candidatar ao Palácio dos Bandeirantes só está sendo adiada por conta das prévias. Outros ainda dizem que se caso Leite vencer, Alckmin nem sairá do partido e tentaria lançar seu nome ao governo paulista ainda pelo PSDB.
Um outro nome histórico do partido é o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele já declarou apoio a Doria, mas recebeu Leite para uma conversa no fim de setembro, por intermédio do senador Tasso Jereissati, que desistiu da candidatura nas prévias para apoiar Leite.
“O presidente Fernando Henrique sempre me estimulou muito, tanto de forma privada quanto pública. Ele tem dito que o melhor candidato é aquele que tem mais capacidade de juntar, de aglutinar. Acho que temos demonstrado mais capacidade de fazer essa aglutinação”, afirma Leite.
Nas contas tanto da campanha de Leite quanto de Doria o seu próprio lado sairá vencedor no dia 21 de novembro, com uma margem de 60% a 40%. Os cálculos são projeções, com margens de erro. O que é certo é que a disputa deve ser voto a voto e que tudo pode acontecer. O resultado deste clima de competição pode estremecer forças internas do partido.
"Nós temos maturidade para lidar com isso. Acho que vai ter uma disputa e é natural que o debate se acirre um pouco mais em algum momento, mas nós temos maturidade para levar isso com a responsabilidade de que o partido tem que sair livre desse processo", diz o governador gaúcho.
Outra parte da estratégia de Leite é o diálogo com outros partidos, em uma tentativa de mostrar justamente o que FHC espera de um candidato: o poder de unir. Recentemente, o fundador do PSD, Gilberto Kassab, e o presidente do DEM, ACM Neto, manifestaram que torcem pela vitória de Leite.
Questionado se isso já é um prenúncio de uma aliança para o futuro, o governador do Rio Grande do Sul desconversa, mas diz que é natural um alinhamento com partidos mais ao centro, por questões ideológicas.
“Nós temos conversas com dirigentes desses dois partidos, e também do Podemos, Cidadania, com o partido Novo. Estamos buscando criar condições de uma composição para uma futura candidatura, buscando manter um relacionamento, que é o que se deve ter em qualquer país do mundo. Temos motivos para acreditar em uma boa capacidade de uma coalizão expressiva para as eleições de 2022”, disse.
Na avaliação de Eduardo Leite, essas conversas não indicam a escolha de um vice. Para ele, ainda não é o momento. Segundo o gaúcho, é preciso primeiro vencer as prévias do PSDB. Apesar disso, já tem em mente um perfil ideal que gostaria de ter ao seu lado para compor a chapa em 2022.
“Acho que o mais importante é ter gente que tenha o mesmo projeto, propósito e que faça política com lealdade, com humildade, que reconheça que nenhum de nós está acima do projeto e da visão de país. Os seres humanos têm vaidade, e os políticos têm um pouco mais do que os outros, e tem que ser alguém que saiba controlar as suas vaidades”, avalia.