Brasil

Lei Magnitsky contra Moraes: decisão é arbitrária e sem reversão, diz professora da USP

A medida bloqueará bens nos Estados Unidos (EUA) — ou que estão sob posse, ou controle, de empresas americanas

Moraes: avaliação da professora da USP é que não há como reverter a decisão (EVARISTO SA/AFP)

Moraes: avaliação da professora da USP é que não há como reverter a decisão (EVARISTO SA/AFP)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 3 de agosto de 2025 às 08h00.

Última atualização em 4 de agosto de 2025 às 11h28.

A decisão do governo do presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, sancionar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, com a lei Magnitsky, utilizada para punir estrangeiros, é uma "decisão arbitrária" e uma "desonra" para o ministro, avalia Maristela Basso, professora de Direito Internacional da Universidade de São Paulo (USP).

"É uma decisão arbitrária, que traz uma certa desonra tanto para o Brasil quanto para o ministro, mas não há mais o que fazer", afirma Basso em entrevista à EXAME.

A medida bloqueará bens nos EUA — ou que estão sob posse, ou controle, de empresas americanas.

Moraes também não poderá realizar transações financeiras com empresas sediadas — bancos, fintechs, plataformas digitais — nos EUA.

Na prática, a sanção significa um isolamento financeiro do ministro, uma vez que bancos brasileiros com exposição global podem restringir contas ou cartões por precaução.

A punição tem início imediato, após ser anunciada, e duração indeterminada.

A professora explica que não há limites jurídicos para a aplicação da lei Magnitski pelo Executivo americano, uma vez que a lei concede ao presidente dos Estados Unidos a competência para aplicar sanções sem dar grandes justificativas.

"Ele não tem obrigação de fornecer grandes explicações; com base na lei, o presidente determina quem será punido e qual será a extensão dessas punições", diz.

Sem reversão

Basso diz que não há nada que o governo brasileiro ou Moraes possam fazer para reverter os efeitos, uma vez que não se trata de uma decisão do poder Judiciário americano.

"Como a decisão é do poder Executivo e não do Judiciário, não cabe nenhum recurso ou reclamação. Claro, fica a sensação de amargor e de injustiça, ou até de cerceamento do direito de defesa que eles tanto pregam", diz.

A professora explica que a alteração da situação do ministro brasileiro depende de uma mudança de posição de Trump ou da chegada de um novo presidente americano, que o retire da lista.

"O que se pode fazer agora é esperar os próximos três anos da administração de Donald Trump e, depois, com um novo presidente e um novo governo, tentar a extinção dessa punição baseada nessa lei", afirma.

O governo americano afirma que Moraes realiza uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos e processo politizados — inclusive contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

"Segundo a visão de Trump e [Marco] Rubio [secretário de Estado dos EUA], o ministro teria tomado decisões que atentam contra os direitos humanos, ou seja, suas ações violaram a liberdade de expressão de pessoas nos Estados Unidos e também cercearam o direito de liberdade de iniciativa dessas empresas de tecnologia", afirma Basso.

A professora acrescenta que a punição contra Moraes não vai interferir no julgamento de Bolsonaro.

"Se a ideia da aplicação da Lei Magnitsky for intimidar ou desencorajar o ministro, não vão conseguir. Os ministros seguem o Código de Processo Penal e o Código de Processo Civil. Em princípio, não estão sujeitos as interferências de qualquer natureza e devem aplicar a lei nos autos",

Acompanhe tudo sobre:Alexandre de MoraesEstados Unidos (EUA)USP

Mais de Brasil

Temer não vê sucesso em anistia unilateral e chama ataque de Tarcísio a Moraes de 'infelicidade'

'Traidor da Constituição é traidor da Pátria', diz Alckmin em ato pela democracia

Fachin se reúne com Lula para entregar convite de sua posse na presidência do STF

Hugo Motta reúne líderes para tentar dar um desfecho à pressão por anistia