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Lava Jato apura reuniões de delator com dono de agência

A agência é investigada pelo recebimento de pelo menos R$ 6 mi do dinheiro da propina arrecadada no esquema de cartel e corrupção na estatal a partir de 2010


	Petrobras: Costa - primeiro delator da Lava Jato - anotou em sua agenda pessoal referências a dois encontros, em 2012 e 2013, relacionados à Muranno e os serviços prestados à Petrobras
 (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Petrobras: Costa - primeiro delator da Lava Jato - anotou em sua agenda pessoal referências a dois encontros, em 2012 e 2013, relacionados à Muranno e os serviços prestados à Petrobras (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 5 de novembro de 2015 às 13h57.

São Paulo - Investigadores da Operação Lava Jato encontraram nas anotações da agenda do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa o registro do nome "Inácio" associado ao dono da agência de propaganda Muranno Brasil Marketing Ltda.

A agência é investigada pelo recebimento de pelo menos R$ 6 milhões do dinheiro da propina arrecadada no esquema de cartel e corrupção na estatal a partir de 2010.

Costa - primeiro delator da Lava Jato - anotou em sua agenda pessoal referências a dois encontros, em 2012 e 2013, relacionados à Muranno e os serviços prestados à Petrobras. Em um deles, o nome "Inácio" está associado a "Ricardo Villani" - argentino, dono da agência.

"Reunião 10.10.12 / Inacio (Ricardo Villani)", registra a anotação da agenda apreendida em sua residência, no Rio, em abril de 2014 quando Costa foi preso.

Os R$ 6 milhões foram pagos a Muranno a partir de 2010 pelo doleiro Alberto Youssef - peça central da Lava Jato.

Tanto o ex-diretor de Abastecimento como o doleiro afirmaram em suas delações premiadas que os pagamentos foram feitos a mando do ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli por "pendências" da estatal com a agência.

A Muranno prestou serviços de divulgação para a Petrobras em eventos da Fórmula Indy, nos Estados Unidos.

Documentos entregues no mês passado pela estatal à Lava Jato mostram que no ano de 2008 foram feitos 22 pagamentos oficiais para a agência, por 'pequenos serviços' - que dispensam licitações -, no total de R$ 2,5 milhões.

Os contratos da Muranno integram um pacote de pagamentos considerados irregulares pela própria companhia, que resultaram na demissão de um apadrinhado de Gabrielli, o ex-gerente de Marketing da área de Abastecimento Geovanne de Morais.

Em outra folha da agenda, consta a seguinte anotação: "Image - Indy / 31/01/13 - Ricardo".

A Polícia Federal quer saber quem é "Inácio" e se as duas anotações têm relação com a Muranno, seu dono, Ricardo Villani, e os serviços da agência para a Petrobras.

Dono da Muranno

Em depoimento à PF, Villani afirmou no ano passado que prestou serviços para a Petrobras e teria a receber R$ 7 milhões. Ele afirmou que em duas ocasiões procurou o ex-diretor de Abastecimento, após sua saída da estatal, em 2012, para receber valores não pagos.

Villani entregou para a Lava Jato o material produzido pela agência nos eventos de Fórmula Indy, bem como as trocas de e-mails, entre 2006 e 2009, que comprovariam a contratação e suas relações internas na estatal, em especial com o ex-gerente de Marketing.

Morais foi citado ainda pela ex-subordinada de Costa, Venina Velosa da Fonseca, como responsável pelos pagamentos de serviços não prestados para a Muranno.

O ex-gerente de Marketing é da Bahia e ligado ao grupo político petista do ex-presidente da Petrobras. Gabrielli nega e diz que o ex-funcionário foi punido com a demissão, assim que se comprovou internamente sua responsabilidade e irregularidades em contratos da área, no ano de 2008.

Na mira

A Muranno Brasil é alvo de um inquérito aberto pela Polícia Federal em 2014, no início da Lava Jato, após ela aparecer nos pagamentos feitos por Youssef com recursos desviados da Petrobras via contratos da Camargo Corrêa - construtora acusada de cartel.

Foram feitos pagamentos que totalizaram R$ 1,7 milhão entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011 para a Muranno.

No depoimento do dia 9 de setembro, Villani afirmou à PF que depois de se reunir pessoalmente com Paulo Roberto Costa foi procurado por Youssef, que se identificou como "Primo" e providenciou os pagamentos de parte da dívida.

O dono da Muranno afirmou ter recebido só uma parte do montante e que não procurou a Justiça para cobrar a Petrobras porque nunca fez um contrato formal.

Segundo o doleiro afirmou em sua delação premiada, a agência de propaganda era contratada pela Petrobras e tinha dívidas a receber.

Villani estaria pressionando o governo Lula para obter os valores atrasados e ameaçava denunciar os esquemas de corrupção e propina na estatal - que era controlado pelo PT, PMDB e PP e virou alvo central da Lava Jato.

Pressão

O ex-diretor de Abastecimento confirmou em depoimento à PF em julho que partiu do ex-presidente da Petrobras a ordem para o pagamento da Muranno.

"Em determinada oportunidade, o então presidente da empresa Sérgio Gabrielli mencionou ao declarante a existência de uma 'pendência' da Petrobras junto a empresa (Muranno) e solicitou ao declarante que fosse resolvida", afirmou Paulo Roberto Costa, no dia 14 de julho.

Costa declarou no dia 14 que "não sabe dizer por qual motivo Gabrielli tenha intercedido" pela "empresa Muranno".

Youssef contou em um de seus termos de delação história parecida e detalhou como providenciou o pagamento.

"Houve a suspensão de contratos pela Petrobras, prejudicando recebimentos da parte acordada com as empresas, que deveriam ser quitados independentemente de suspensão", afirmou o doleiro.

O doleiro diz em sua delação ter sido "chamado por Paulo Roberto Costa, o qual pediu que esta questão fosse resolvida, pois teria recebido um pedido de Sérgio Gabrielli, presidente da estatal, para que isso fosse solucionado".

Os pagamentos teriam começado no final de 2010, ano da primeira eleição da presidente Dilma Rousseff. "Destinou no total aproximadamente R$ 6 milhões às duas empresas de publicidade", explicou Youssef.

"Pagou parte em dinheiro e parte em TEDs, feitas pela MO Consultoria ou Empreiteira Rigidez, e também pagou parte com depósitos da Sanko Sider."

As duas primeiras eram firmas de fachada de sua lavanderia e a Sanko atuava em parceria com seus esquemas de lavagem na Petrobras.

Na versão do doleiro, Costa recomendou que os valores para a Muranno fossem rateados entre PT, PMDB e PP. "Deveria providenciar a quitação dos créditos da empresas, para tanto buscando a contribuição junto a colaboradores do PT, PMDB e PP", afirmou Youssef.

O doleiro disse ter ficado "receoso" com o pedido de Costa "pois para pagar a dívida toda, teria que retirar da parte que era destinada ao PP. "A sugestão de Paulo (Roberto Costa) foi que então o PP cobrisse uma parte, o PMDB cobrisse outra e que o próprio PT também contribuísse para quitar os valores que estavam sendo cobrado pelas empresas."

Costa afirmou que iria conversar com o operador de propinas do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano "para poder conseguir pagamento da parte que caberia ao PMDB".

O doleiro revelou que cuidou dos pagamentos. "Soube que o PMDB acabou não contribuindo com nada", disse Youssef.

"Quanto à parte de deveria ser paga pelo PT, o depoente foi procurado por Júlio Camargo que informou que cuidaria da parte que o PT deveria arcar e então repassou valores ao depoente mediante pagamentos de ordens no exterior em contas indicadas pelo depoente", registrou a PF.

Youssef informou que Julio Camargo - lobista ligado ao ex-ministro José Dirceu - também teria citado o nome do então chefe de gabinete de Gabrielli, Armando Tripodi.

Gabrielli

O ex-presidente da Petrobras informou que nunca teve contatos com a empresa Muranno. Segundo ele, somente depois das reportagens soube que prestava serviços para a Comunicação do Abastecimento e não para a Comunicação Corporativa.

"Desta forma não poderia haver uma "pendência" da Petrobras com a referida empresa. Se havia alguma pendência com a área de Abastecimento, não era do conhecimento da Presidência da Petrobras." Gabrielli disse ainda nunca ter tido esta conversa com Paulo Roberto Costa.

Segundo ele, a empresa Muranno veio a ser identificada na Comissão de Investigações aberta por ordem da presidência como recebedoras de pagamentos da gerência setorial de Comunicações do Abastecimento.

Na estrutura da Petrobras este é um órgão subordinado a Gerentes Executivos, que por sua vez estão subordinados aos Diretores de cada Área, ficando portanto no terceiro escalão hierárquico da empresa, explicou ele.

"Como resultado destas investigações, o gerente setorial foi demitido por justa causa. Nunca tive contatos e não conheço o Senhor Alberto Youssef."

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