Brasil

Juíza vê prejuízo à cultura e manda Ancine retomar edital com filmes LGBT

A decisão acolhe pedido do MPF, que acusa Terra de barrar a efetivação do edital por "inequívoca discriminação por orientação sexual e identidade de gênero"

Assim, percebe-se um descompasso entre o motivo alegado para a elaboração do ato impugnado e a realidade dos fatos (Afronte/Divulgação)

Assim, percebe-se um descompasso entre o motivo alegado para a elaboração do ato impugnado e a realidade dos fatos (Afronte/Divulgação)

CC

Clara Cerioni

Publicado em 7 de outubro de 2019 às 17h47.

São Paulo — A juíza Laura Bastos Carvalho, da 11ª Vara Federal do Rio de Janeiro, determinou nesta segunda-feira (07) que o Ministério da Cidadania e a Agência Nacional de Cinema (Ancine) retomem um edital para projetos audiovisuais em emissoras públicas de televisão, que contemplou, no ano passado, filmes da temática LGBT.

A decisão acolhe pedido do Ministério Público Federal, que entrou com um processo contra o ministro Osmar Terra, acusando a pasta de de barrar a efetivação do edital por "inequívoca discriminação por orientação sexual e identidade de gênero".

No despacho de sete páginas, a magistrada afirma que "a falta de recursos para a sua concretização em um tempo razoável pode fazer com que os projetos nunca saiam do papel, em evidente prejuízo à cultura nacional e à liberdade de expressão". Leia na íntegra a decisão da justiça do Rio de Janeiro.

Em agosto, o ministro assinou uma portaria cancelando os repasses de verbas para as produções — que já estavam em fase final de desenvolvimento.

As obras escolhidas pelo concurso seriam bancadas pelo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), gerido pela Ancine.

O edital foi aberto em março do ano passado, com uma previsão de R$ 70 milhões a serem divididos nacionalmente em 14 categorias - além de diversidade de gênero e sexualidade, ele contemplava raça e religião, sociedade e meio ambiente, manifestações culturais, qualidade de vida e biográfico.

Na ocasião a justificativa, foi a de que havia "necessidade de recompor os membros do Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual – CGFSA”. 

Segundo a juíza, o argumento não se sustenta, uma vez que, segundo análise, " a necessidade de recomposição dos membros do Comitê Gestor do FSA não teria o condão, em um primeiro olhar, de suspender os termos do Edital de Chamamento, já que o referido Comitê não teria participação na etapa final do certame, que conta com comissão avaliadora própria, cuja composição foi definida pelas regras do edital publicado".

A magistrada conclui, então que "percebe-se um descompasso entre o motivo alegado para a elaboração do ato impugnado e a realidade dos fatos".

A decisão cita que, além das implicações culturais envolvidas, ainda há um prejuízo financeiro, porque já foram transferidos ao BNDES e ao BRDE R$ 525.000,00 (quinhentos e vinte e cinco mil), a título de gestão financeira, havendo, ainda, o risco de vencimento de novas parcelas, em decorrência da indefinição do certame, conforme depoimento do ex-Secretário Especial de Cultura’. “Conclui-se, então, que a demora na finalização do concurso poderá, também, trazer prejuízos ao erário”.

Críticas

Em agosto, a suspensão do edital foi alvo de críticas por parte da classe política e culminou com a saída  do secretário de Cultura do Ministério da Cidadania, Henrique Pires.

Na ocasião, em entrevista a EXAME, ele afirmou que não irá “chancelar a censura” que vem ocorrendo em produções culturais.

“Depois que o Supremo Tribunal Federal decidiu que crime de homofobia é igual ao crime de racismo, é inadmissível o governo usar critérios homofóbicos para decidir quem vai receber ou deixar de receber recursos públicos”, disse.

Isso porque, naquela semana, o presidente Bolsonaro havia criticado Ancine e projetos apoiados pela agência. “Se Ancine não tivesse cabeça toda com mandato, já tinha degolado todo mundo”, disse.

Ele exibiu uma lista de produções sobre LGBT e minorias que, segundo ele, seriam financiadas com aval da agência. “Conseguimos abortar essa missão”, disse o presidente.

Bolsonaro já disse em entrevistas que é “homofóbico, com muito orgulho” e que preferia ter um filho morto a um filho homossexual, entre outras declarações homofóbicas recorrentes em sua trajetória.

A reportagem entrou em contato com o Ministério da Cidadania, mas até a publicação não houve retorno. O espaço está aberto para manifestações.

Acompanhe tudo sobre:CensuraCinemaGoverno BolsonaroJair BolsonaroLGBTOsmar Terra

Mais de Brasil

Banco Central comunica vazamento de dados de 150 chaves Pix cadastradas na Shopee

Poluição do ar em Brasília cresceu 350 vezes durante incêndio

Bruno Reis tem 63,3% e Geraldo Júnior, 10,7%, em Salvador, aponta pesquisa Futura

Em meio a concessões e de olho em receita, CPTM vai oferecer serviços para empresas