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Jovens podem ser vítimas de grupos de extermínio, diz conselho

Quatro dos cinco corpos encontrados pela polícia, que podem ser de cinco jovens desaparecidos em São Paulo, há 17 dias, têm marcas de balas de arma de fogo

Violência: hoje pela manhã, familiares dos jovens desaparecidos estiveram no IML para reconhecer os corpos encontrados ontem (Thinckstock/Thinkstock)

Violência: hoje pela manhã, familiares dos jovens desaparecidos estiveram no IML para reconhecer os corpos encontrados ontem (Thinckstock/Thinkstock)

AB

Agência Brasil

Publicado em 7 de novembro de 2016 às 17h44.

Quatro dos cinco corpos encontrados pela polícia, que podem ser de cinco jovens desaparecidos em São Paulo, há 17 dias, têm marcas de balas de arma de fogo.

O quinto corpo tem marca de faca. As informações são de Ariel de Castro Alves, membro do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), que esteve hoje (7) no Instituto Médico-Legal, na região oeste da capital paulista.

"Em quatro corpos foram encontrados projéteis e sinais de que eles receberam disparos e, em um dos corpos, os sinais são de faca, de arma branca. Essas são informações ainda preliminares. Ainda serão realizados laudos", disse Ariel.

"Existem indícios da possível atuação de um grupo de extermínio", disse Ariel. "Cápsulas ponto 40 e ponto 12 foram encontradas no local, e também teriam sido encontradas nos corpos. Isso seria mais um indício que reforça a suspeita de participação de policiais ou de agentes do Estado", disse, ressaltando que esse tipo de armamento é de uso restrito no país. "Dá para se concluir que foi execução sumária", acrescentou.

Os nomes e fotos de quatro dos cinco jovens aparecem no site da Polícia Civil, no registro de pessoas desaparecidas. São eles: Jonathan Moreira Ferreira, 18 anos; César Augusto Gomes Silva, 20 anos; Caique Henrique Machado Silva, 18 anos; e Robson Fernando Donato de Paula, 17, que é cadeirante. O quinto jovem, que dirigia o carro, era Jones Ferreira Januário, 30 anos.

Hoje pela manhã, familiares dos jovens desaparecidos estiveram no IML para reconhecer os corpos encontrados ontem (6) em um matagal de Mogi das Cruzes.

Três dos corpos apresentavam características semelhantes à dos desaparecidos, mas o reconhecimento oficial ainda depende de laudo do IML.

"As famílias não viram os corpos. Os corpos, em princípio, estão irreconhecíveis por estarem há mais de 15 dias enterrados, com cal misturado [o que, segundo Ariel, intensifica o processo de decomposição] e ação de urubus. Eles estavam em um estágio bem avançado de decomposição, irreconhecíveis. As roupas foram recolhidas e ensacadas e estão sendo encaminhadas para o DHPP. Os projéteis também já foram recolhidos e foram encaminhados para o DHPP", explicou o membro do Condepe.

Segundo Ariel, os familiares estão, neste momento, buscando informações e prontuários dos desaparecidos em hospitais e em unidades da Fundação Casa.

"O mais importante para a identificação e caracterização é trazer prontuários odontológicos e também raios X. O raio X ajuda bastante no processo de identificação nos casos daqueles que sofreram cirurgias e tinham lesões na coluna ou nas pernas [um dos desaparecidos era cadeirante e o raio X poderia ajudar nessa identificação]. E quem já teve restauro de dente, esse prontuário odontológico colabora bastante", explicou.

O reconhecimento oficial dos corpos, segundo Ariel, pode ocorrer ainda hoje, se as famílias conseguirem encaminhar os documentos e prontuários rapidamente.

"Se não conseguirem fazer as conclusões [sobre a identificação dos corpos] com os prontuários, daí precisará de exame de DNA. Já recolheram a saliva [de parentes] para os exames de DNA".

As famílias

"Para mim foi uma emboscada", disse Daiane Pamela Oliveira Ferreira Neves Barbosa, irmã de Jones, que esteve hoje no IML. Segundo ela, o irmão dela não tinha passagem pela polícia. Jones foi contratado para levar os demais jovens a uma festa em Ribeirão Pires. "Ele estava no lugar errado, na hora errada, com as pessoas erradas".

Ela contou não ter podido ver o corpo e que foi orientada a buscar radiografias do irmão, que tinha problemas na bacia, e a trazer sua mãe para um possível exame de DNA.

"Tem que se fazer Justiça. Não é só aparecer os corpos e acabou o caso. Tem que aparecer a Justiça e punir quem fez", disse ela.

"Espero por Justiça para todos. Não é porque os quatro são bandidos [que eles deveriam morrer] porque eles já tinham pagado, já tinham ficado presos. Então não é chegar e matar. Todos são seres humanos. Aí mata, pega e joga cal para não dar para a família reconhecer? Agora não vamos poder nem velar, teremos que enterrar direto", falou ela.

O caso

Os cinco amigos sumiram após saírem de carro da zona leste da capital para uma festa em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo. O carro em que eles estavam foi encontrado depois, abandonado próximo a uma alça do Rodoanel.

Uma mensagem de áudio enviada por Jonathan a uma amiga sugere que o grupo teria sido abordado pela polícia em uma blitz.

O caso é acompanhado pela Corregedoria da PM e pela Ouvidoria das Polícias devido às suspeitas do envolvimento de policiais no desaparecimento. Robson ficou paraplégico ao ser baleado em confronto com a polícia.

Na região onde os jovens moravam, houve recentemente a morte de um agente público e as mortes desses jovens poderiam estar relacionados à uma vingança.

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