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Jovem que matou colegas em GO está isolado por ameaças de morte

Adolescente de 14 anos também feriu a tiros outros quatro jovens em Goiânia e está isolado em uma unidade de internação para jovens infratores da cidade

Colégio Goyases, onde ocorreu o crime: advogada da família, Rosângela Magalhães, deu a declaração (MARCOS SOUZA/VEJA)

Colégio Goyases, onde ocorreu o crime: advogada da família, Rosângela Magalhães, deu a declaração (MARCOS SOUZA/VEJA)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de novembro de 2017 às 16h47.

Última atualização em 20 de novembro de 2017 às 16h56.

Goiânia - O adolescente de 14 anos que matou dois alunos e feriu a tiros outros quatro jovens no Colégio Goyases em 20 de outubro, em Goiânia, está isolado em uma sala de uma unidade de internação para jovens infratores da cidade. O endereço não foi divulgado por razões de segurança.

A decisão judicial previa que ele fosse enviado para o Centro de Internação Provisória do 7º Batalhão da Polícia Militar, em Goiânia, onde estão cerca de 90 menores, mas a advogada da família, Rosângela Magalhães, alegou que o menino corria risco de morte por causa de ameaças que chegaram à família.

O garoto que está apreendido desde o dia 20 de outubro, quando disparou 12 tiros contra os colegas na sala de aula, tem direito de ver apenas o pai e mãe durante uma hora por semana. Regularmente, recebe visita de psicólogos. Nos próximos dias, um laudo pericial trará o quadro psicológico e psiquiátrico do jovem. A peça é vista como documento fundamental para o desdobramento do caso.

Rosângela Magalhães, que esteve cinco vezes com o adolescente, diz que se trata de um jovem calado e introvertido por natureza. "O que deu para notar, no primeiro dia de contato, é que ele estava em pânico, muito abalado. Hoje a palavra que resume isso tudo é a dor. Ele é muito apegado ao irmão, de 8 anos, que também estudava no mesmo colégio."

Segundo a advogada do adolescente, o garoto tinha bom comportamento familiar, tirava boas notas e já estava aprovado em todas as disciplinas neste ano. "Não estou negando a gravidade dos fatos, mas esse menino sempre teve uma vida ajustada. É um fato isolado na vida dele", defende.

O jovem é filho de policiais militares. A mãe atua na área administrativa, em cursos de formação de policiais da Academia da PM. O pai, o major Divino Aparecido Malaquias, trabalha na Corregedoria da polícia e já foi comandante do Batalhão da PM que faz a segurança do complexo prisional de Aparecida de Goiânia (GO).

Na manhã dos crimes, o pai passou no Colégio Goyases poucos minutos antes para pegar o filho mais novo, de 8 anos. "O adolescente ia para casa a pé. A família morava perto do colégio. Hoje estão em casas de parentes e vão se mudar", afirma Rosângela.

A pena mais dura prevista para o caso é de três anos de internação. Uma primeira audiência com o garoto e seus pais já foi realizada pelo Juizado da Infância e Juventude. O veredicto deve sair até o fim deste mês.

Na peça de defesa do garoto, Rosângela diz que vai incluir o controverso tema do bullying. "Uma coisa que não se discute é que existiu o bullying. Não estou dizendo que o bullying justifique tamanha tragédia, mas que ele existiu, não há dúvida. Todos os estudantes sabiam, mas a escola diz que desconhecia", afirma.

A advogada cita ainda que o caso ocorreu justamente no Dia Mundial do Combate ao Bullying, 20 de outubro. No Brasil, essa data é lembrada em 7 de abril, em referência ao aniversário da tragédia de Realengo, quando Wellington Menezes de Oliveira, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio, invadiu uma sala de aula e atirou contra as crianças, matando 11 delas, em 2011. O assassino, de 24 anos, se suicidou em seguida.

"Não tenha dúvida de que o bullying oprimiu esse menino. Agora, a densidade disso nós só vamos saber com os laudos e instrução processual. Não dá para ser leviano agora e afirmar o que efetivamente ocorreu. Todos nós estamos buscando uma explicação", diz a advogada.

Rosângela Magalhães ficou conhecida pela atuação como advogada de outra história de comoção nacional, o "caso Pedrinho", revelado em 2002, no qual a ex-cabeleireira Vilma Martins raptou o garoto dos braços da mãe, em 1986, o que só seria revelado 16 anos depois.

Mãe de filhos adolescente, Rosângela reconhece a gravidade dos fatos de seu novo cliente. "Ao final, a gente vai tentar compreender o que aconteceu, mas aceitar e efetivamente entender plenamente, isso ninguém vai. Isso é inexplicável, era inimaginável, tanto para a escola como para os familiares."

Retomada das aulas

Um mês depois da tragédia ocorrida no número 270 da Rua Planalto, no bairro Riviera, região de classe média de Goiânia, aos poucos, pais, alunos e professores do Colégio Goyases tentam retornar à rotina das aulas.

No fim de tarde da última terça-feira, dia 14, um grupo de pais se aglomerava no portão da escola para pegar os filhos do ensino fundamental 1 que tinham saído em uma excursão até o 'Rancho Colorado" , um passeio educativo e recreativo que a escola realiza todos os anos, a cerca de 20 quilômetros dali.Dentro do colégio, uma faixa pendurada lembrava os pais sobre as datas de rematrícula para 2018, destacando que o preço da mensalidade não terá reajuste e que será o mesmo valor deste ano. As crianças chegaram em dois ônibus.

A rotina do colégio também conta agora com a presença de Simone Maulaz Elteto, a coordenadora de ensino que convenceu o adolescente a parar de atirar contra seus amigos.

Vítimas

No dia em que o adolescente entrou na escola atirando, ele acertou os colegas João Pedro Calembo e João Vitor Gomes, ambos de 13 anos. Os dois não resistiram e morreram no local.

Outros três alunos também foram atingidos pelos disparos, mas escaparam e já estão em casa. Uma quarta sobrevivente ficou paraplégica.

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