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José Luiz Datena: entra em cena o novo político paulista

Apresentador se desligou da Rede Bandeirantes para ser candidato ao Senado Federal; nas primeiras declarações teve chumbo até contra seu próprio partido

Datena: ele é a grande aposta da coligação Acelera São Paulo, capitaneada pelo candidato a governador João Doria (Divulgação/Divulgação)

Datena: ele é a grande aposta da coligação Acelera São Paulo, capitaneada pelo candidato a governador João Doria (Divulgação/Divulgação)

Raphael Martins

Raphael Martins

Publicado em 28 de junho de 2018 às 16h36.

Última atualização em 28 de junho de 2018 às 18h26.

Aclamado como um rockstar, o apresentador José Luiz Datena (DEM-SP) encheu nesta quinta-feira o auditório do Hotel Intercontinental, na capital paulista, para o evento de lançamento de sua pré-candidatura ao Senado Federal por São Paulo. Ele é a grande aposta da coligação Acelera São Paulo, capitaneada pelo candidato a governador de São Paulo João Doria (PSDB), para uma das duas vagas em disputa para o cargo nas eleições de outubro.

Nada é coincidência. O grupo, composto por PSDB, DEM, PP, PRB, PSD e PTC, vê potencial extraordinário na candidatura de Datena porque o apresentador cumpre requisitos muito semelhantes aos que fizeram do próprio João Doria um fenômeno eleitoral em 2016. Datena não é político de carreira, é rico, tem enorme reconhecimento da população, é associado ao perfil anticorrupção e às pautas de segurança pública. Trata-se do perfeito candidato de fora do mainstream político em um momento de cansaço com os líderes tradicionais e partidos – e que agrada em especial o eleitorado mais conservador.

O fato de ser um nome novo, desassociado de investigações criminais e combativo, é um diferencial forte para os outsiders nesta eleição. A consultoria de risco político Eurasia defende essa tese há tempos. “É preciso observar se o desempenho de Datena se mantém, pois a performance dele ainda está muito ligada ao recall, pela presença na TV. Mas tem pontos muito fortes e o perfil dele é competitivo”, diz Silvio Cascione, analista político para o Brasil da Eurasia. “O jogo não está ganho. Ele nunca fez campanha, então ainda pode cometer erros.”

Os aliados também podem depor contra a “narrativa do novo”. Na mesa de aliados estavam presentes investigados pela Justiça e caciques tradicionais da política brasileira, como o ministro Gilberto Kassab (PSD) e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aliado do mais rejeitado presidente da República da história recente, Michel Temer (MDB). Ainda na mesa estavam Doria e o atual prefeito Bruno Covas (PSDB). Na plateia, líderes do partido, como o deputado federal e ex-líder na Câmara dos Deputados Ricardo Tripoli (PSDB-SP), o ex-presidente da Assembleia Legislativa Fernando Capez (PSDB-SP).

Em um rápido pronunciamento nesta quinta-feira, Datena deu pistas de qual será a rota de sua pré-campanha. Apesar de oficialmente ter se tornado um político, mostra-se habilidoso comunicador e pretende manter as raízes. Falou, é claro, de segurança pública, mas bateu forte na tecla da renovação e reforma política – para evidente constrangimento daqueles que compunham a mesa durante o anúncio.

“Perguntam: por que você está do lado de tanta gente que você mete o pau? Muito simples, princípio básico de um acordo é aceitar a parte ruim do outro lado. E do outro lado da política há uma parte extremamente ruim. Boa parte da [política] brasileira está corrompida, carcomida e podre”, disse. “Como reformar a política brasileira se não se reformam os políticos?”

Em outro momento, para desespero dos líderes aliados, Datena ignorou a pré-candidatura de seu partido – a de Rodrigo Maia, que estava sentado a seu lado – para se dizer chateado com a saída do grande outsider da corrida presidencial. “Fiquei desesperado quando o Joaquim Barbosa saiu da corrida eleitoral, porque ele era uma esperança de renovação.”

Além de Maia, portanto, foi ignorada a candidatura de outro possível aliado, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). não bastasse, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal é filiado do PSB, partido do atual governador e principal adversário de Doria nas próximas eleições, Márcio França.

O apresentador se autointitulou um candidato de centro e indicou que deve usar um mix de ideias da direita e da esquerda, conforme lhe faça sentido. Na plateia, torceram o nariz membros do Movimento Brasil Livre que fazem parte do DEM. O vereador Fernando Holliday (DEM-SP), Kim Kataguiri e o youtuber Arthur do Val (mamãefalei) estavam presentes.

Datena atacou a desigualdade social e econômica do Brasil e fechou o discurso dizendo que tem um “compromisso sagrado” com o povo do Brasil. “Tem cara que faz parte dessa coligação que me odeia, mas que se explodam”, disse. “Vocês podem ter uma porcaria de político, mas vão ter um cara honesto com vocês.”

Será a primeira eleição de José Luiz Datena. Em 2016, o apresentador chegou a se filiar ao PP e ameaçou entrar na corrida eleitoral como candidato a prefeito de São Paulo. Ele travaria duelo direto com Celso Russomanno (PRB) e o candidato do PSDB (Doria seria escolhido por meio de prévias meses depois). Agora, seu principal rival será o nome a ser lançado pelo MDB, que pode ser a atual senadora Marta Suplicy. Pelo PT, o pré-candidato é Eduardo Suplicy.

A segunda vaga da chapa está em disputa dentro do PSDB. O deputado federal e ex-líder do partido na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), é o favorito. Corre por fora o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Cauê Macris (PSDB-SP). No evento desta tarde, porém, a dúvida pouco importava. Todos os partidos só têm olhos para a figura do agora ex-apresentador da Rede Bandeirantes, ainda que saiam com algumas queimaduras do processo.

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