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Jornalista é morto a tiros em Miguel Pereira, no Rio

Pedro Palma chegava do trabalho quando dois homens de capacete passavam em uma moto, chamaram por ele e dispararam


	Balas de revólver: Palma levou um tiro no ombro e dois no peito, do lado direito
 (Getty Images)

Balas de revólver: Palma levou um tiro no ombro e dois no peito, do lado direito (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2014 às 19h26.

Rio - O jornalista Pedro Palma, de 47 anos, foi assassinado com três tiros na porta de casa em Miguel Pereira, Centro-Sul fluminense. Dono e único repórter do jornal semanal Panorama Regional, que circula em dez municípios, ele chegava do trabalho por volta das 19h30 da quinta-feira, quando dois homens de capacete passavam em uma moto, chamaram por ele e dispararam. Esse é o terceiro caso de jornalista morto no País este ano.

Palma levou um tiro no ombro e dois no peito, do lado direito. A perícia foi realizada por volta das 22h por agentes da 96ª DP (Miguel Pereira), mas o corpo só foi levado para o Instituto Médico Legal do município vizinho de Barra do Piraí por volta de 2h da madrugada desta sexta-feira.

Criado em 1994, o Panorama Regional é o único jornal de oposição a gestão do prefeito Cláudio Valente (PT). Na publicação e na página do Facebook Miguel Pereira Fala Tudo (com mais de 6 mil seguidores), Palma denunciava casos sobre corrupção, desvio de verba, falta de repasse de dinheiro público, envolvendo principalmente o prefeito e a primeira-dama e secretária de Desenvolvimento Social, Kátia Kozlowski.

Uma hora antes de ser executado, Palma postou no Facebook uma foto da primeira-dama indo ao supermercado no carro oficial da prefeitura. Procurado, o prefeito não recebeu a reportagem. "O Pedro sempre teve acesso à prefeitura e ao prefeito, mesmo depois de todas as denúncias. Ele deixava muito claro o posicionamento de oposição", afirmou o assessor de comunicação, Hélio Carvalho.

Muito conhecido na cidade, o jornalista nunca concorreu a cargo político, mas era próximo de vereadores do PR e amigo pessoal do presidente da Câmara municipal, Eduardo Paulo Corrêa (PR), cuja gestão era elogiada na publicação. Apesar de ter apoiado o candidato da oposição André Português (PR), Palma prestava serviços gráficos para a prefeitura. Na terça-feira, ele esteve no gabinete do prefeito para cobrar a execução de alguns serviços e depois na Câmara de vereadores, no mesmo prédio. De acordo com uma irmã dele, que não se identificou, a prefeitura devia R$ 200 mil ao jornalista.


A mãe do jornalista, Maria Eduarda Palma, de 77 anos, contou que o filho sentia medo das ameaças, mas continuava fazendo o trabalho. "Eu dizia: 'Filho, para (de denunciar), não adianta falar de política, nem mal, nem bem, porque eles estão sempre com a verdade'". "Não sabemos quem matou meu filho, mas essa pessoa vai pagar", completou.

Nesta sexta-feira, ninguém da família prestou depoimento à polícia. A mulher de Palma, Patrícia Palma, afirmou que o marido sofria ameaças e recebia ligações anônimas nos telefones de casa, do trabalho e celular. "Ligavam e não falavam nada. A polícia já tem todos os números. Em uma cidade pequena como essa não deve ser tão difícil resolver (o crime)".

No velório, realizado em uma funerária de Miguel Pereira, o clima era de tristeza e revolta. Com medo de represálias e ameaças, a maioria dos presentes preferiu não se identificar. No entanto, afirmaram que há cerca de cinco meses, Palma intensificou as denúncias contra o atual prefeito. "O prefeito não presta contas à população e era através do Pedro que sabíamos do destino das verbas. Ele morreu porque falava verdade. Calaram a boca do povo", afirmou Andréia.

Membro do Conselho Municipal de Turismo, na última reunião na Câmara, em 2013, ele comentou sobre as ameaças que vinha recebendo, mas não entrou em detalhes. O delegado Murilo Montanha afirmou que não há nenhum registro feito por Palma.

O irmão dele, Henrique Palma, ao contrário, disse que todas as ameaças foram encaminhadas para a 96ª DP. "O Pedro tinha prova de todas as denúncias. Acreditamos que os mandantes (do assassinato) sejam as pessoas que meu irmão denunciava, mas só a polícia pode confirmar isso". Moradora de Miguel Pereira há 30 anos, a mãe de Palma deixou a cidade com medo de represálias. A mulher e a filha dele, Luana, de 19 anos, devem pedir proteção policial e comandar o jornal.

A 117 km do Rio, com 25 mil habitantes, a cidade é conhecida pela segurança e tranquilidade. No entanto, desde janeiro já foram registrados outros dois homicídios, ainda não solucionados.

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