Joesley: o depoimento, ao qual a reportagem teve acesso, foi prestado no feriado de 7 de Setembro (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de setembro de 2017 às 09h16.
Brasília - Em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), o empresário Joesley Batista, dono do Grupo J&F, disse que antes de se tornar um delator "tratou com vários políticos sobre como parar" a Operação Lava Jato.
O depoimento, ao qual a reportagem teve acesso, foi prestado no feriado de 7 de Setembro, no procedimento de revisão do acordo de delação premiada firmado com a PGR.
Joesley Batista afirmou que os políticos com quem "mais falou sobre tudo o que acontecia com a empresa no âmbito da Operação Lava Jato durante os últimos três anos foram Ciro Nogueira, Eduardo Cunha e Michel Temer".
Consta no termo de depoimento assinado pelo empresário que ele, "até decidir por colaborar, tratou com vários políticos sobre como parar a 'Operação'; que por isso ficou em paz consigo mesmo porque salvou a empresa com a colaboração depois de três anos de tentativa com políticos".
No dia seguinte ao depoimento, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão de Joesley, do executivo da J&F, Ricardo Saud e do ex-procurador da República Marcello Miller. No mesmo dia, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, decretou a prisão dos dois primeiros.
No depoimento, Joesley disse que conheceu Miller no início de março deste ano, quando o então procurador da República foi até a sua casa apresentado por Francisco de Assis e Silva, diretor jurídico do grupo J&F.
O empresário disse que encontrou o ex-procurador pelo menos outras duas vezes no mesmo mês, na sede da JBS. Miller ainda não havia sido exonerado do Ministério Público Federal naquele momento.
Joesley, no entanto, afirmou que "nunca recebeu orientação de Marcello Miller sobre elaboração dos anexos nem sobre a produção de uma prova específica".
Apesar disso, disse que os contatos com Miller foram importantes para ele acreditar que deveria fazer o acordo de colaboração premiada.
Sobre um dos encontros com Miller em março, Joesley afirmou, segundo termo de depoimento assinado por ele próprio, "que conversou com Marcello Miller sobre colaboração premiada, como se faz, o procedimento, se funciona ou não; que Marcello Miller dava orientações abstratas sobre colaboração e crimes, tendo servido para entender o processo de colaboração premiada; que isso serviu para o depoente acreditar que a colaboração era o caminho correto, o melhor e talvez o único".
Em outro momento, o empresário disse não ter certeza se Miller esteve em contato com os anexos de Ricardo Saud. Joesley também afirmou "não houve nenhuma indução ou orientação de Marcello Miller a nenhum dos colaboradores".
Joesley também disse que a menção aos "cinco ministros do Supremo na mão dele foi elucubração de dois bêbados em casa e sozinhos". Segundo ele, foi algo da "imaginação de Ricardo Saud", bem como o fato de ter dito que Janot iria advogar com Marcello Miller.
O Planalto afirmou que "o depoimento do senhor Joesley Batista mostra que ele mente mais uma vez". A defesa de Cunha nega as acusações e afirma que prestará os devidos esclarecimentos oportunamente, quando convocado pelas autoridades.
A assessoria do senador Ciro Nogueira (PP-PI) foi contatada e não respondeu sobre as citações até a conclusão desta edição.
A defesa do advogado Marcello Miller informou que só teve acesso ao pedido de prisão da PGR nesta segunda-feira e está preparando as medidas cabíveis. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.