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João Paulo (PT): o peso de Lula no Recife

Camila Almeida O candidato João Paulo (PT), já foi prefeito do Recife, entre 2001 e 2008. Agora, tenta voltar ao cargo, num cenário difícil para o PT nacional e local. Na capital pernambucana, seu sucessor, João da Costa, teve atuação tão mal avaliada que nem chegou a disputar reeleição. Agora, João Paulo volta para tentar recuperar […]

JOÃO PAULO: “Lula aqui é muito bem avaliado e todo o povo de Pernambuco sabe o que ele fez pelo estado.” / Társio Alves/DIVULGACAO

JOÃO PAULO: “Lula aqui é muito bem avaliado e todo o povo de Pernambuco sabe o que ele fez pelo estado.” / Társio Alves/DIVULGACAO

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Da Redação

Publicado em 29 de setembro de 2016 às 19h24.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h27.

Camila Almeida

O candidato João Paulo (PT), já foi prefeito do Recife, entre 2001 e 2008. Agora, tenta voltar ao cargo, num cenário difícil para o PT nacional e local. Na capital pernambucana, seu sucessor, João da Costa, teve atuação tão mal avaliada que nem chegou a disputar reeleição. Agora, João Paulo volta para tentar recuperar o cargo e a moral do partido em Pernambuco. Nas pesquisas, o atual prefeito Geraldo Júlio (PSB) tem 37% das intenções de voto, enquanto João Paulo aparece com 27%. Em entrevista a EXAME Hoje, o candidato falou sobre o caos do PT no estado, o fracasso da última gestão do partido e o apoio de Lula à sua candidatura.

Qual sua motivação para ser prefeito de novo?
Eu fui o primeiro prefeito reeleito da cidade, saí muito bem aprovado. O governo municipal está péssimo, todos os serviços públicos estão precarizados. Na saúde, faltam remédios, há postos fechados, o hospital infantil está fechado, faltam médicos e estímulos para os servidores. A manutenção da cidade está péssima. O setor de cultura está totalmente desestruturado. O prefeito deve cachês às agremiações e a artistas. Houve um apelo da nossa militância e da cidade para que eu fosse candidato.

O PT demorou a bater o martelo sobre quem seria o candidato escolhido, apesar de o senhor ter manifestado interesse em disputar a eleição desde janeiro. Por que demorou essa confirmação?
Foi o tempo do PT. Eu só queria ser candidato se não houvesse nenhuma disputa interna, que não tem ajudado muito o partido. Isso levou um tempo para discutir com os grupos e, depois, eu fui aclamado para ser o candidato.

Essa disputa a que o senhor se refere é com o ex-prefeito João da Costa, certo? Como está a relação de vocês?
Está boa. Há um entendimento dele e meu de que a causa maior que é a defesa do partido, do povo e a melhoria da qualidade de vida, e isso fez com que nós superássemos as nossas divergências e cuidássemos do partido para que pudéssemos voltar a ganhar a eleição. Ele sai candidato a vereador.

A gestão de João da Costa foi muito problemática…
Mais problemática está sendo a de Geraldo Júlio.

Mas o fato de ele ter sido prefeito logo depois do senhor e ter sido muito desaprovado não impacta sua campanha?
Não estamos tendo dificuldade absolutamente nenhuma nesse sentido. É como se a população tivesse esquecido a gestão dele. Tivesse incorporado as coisas positivas que ele fez, que eu deixei para ele, na minha conta e na do PT. Então, a polarização está entre a minha gestão e a péssima administração de Geraldo.

O senhor falou que, se fizesse uma pesquisa própria, seu nome apareceria na frente. O senhor está duvidando das pesquisas?
Eu não disse isso, não. O que botaram lá no jornal é uma coisa. As nossas amostragens internas não dão a diferença que a pesquisa mostra. Eu disse que iria contratar uma pesquisa para mostrar a realidade, porque aquela não bate com a nossa, mas não questionei pesquisa nenhuma.

Luciano Siqueira (PCdoB), que foi seu vice-prefeito, é o atual vice de Geraldo Júlio e se manteve com ele na chapa, mesmo com o senhor saindo candidato. Isso incomodou? E, caso Geraldo Júlio não seja eleito, o senhor vai oferecer algum cargo a Luciano?
Primeiro, precisamos ganhar a eleição, não estamos pensando ainda em nome nenhum para compor o governo. Segundo, eu tenho uma relação pessoal com Luciano Siqueira. Nós não estamos juntos por uma opção do PSB e do PCdoB aqui no Recife. Como Geraldo Júlio apoiou o golpe, não tínhamos a possibilidade de estar junto com eles. Eles ficaram contra o governo do PT que tanto fez por Pernambuco e pelo PSB. Foi uma opção do PCdoB aqui no Recife, não foi uma opção nossa. Mas isso não tem nada a ver com nossa relação pessoal e continuo me dando muito bem com ele.

Como surgiu, então, a formação da sua chapa com Silvio Costa Filho (PRB)?
Silvio era pré-candidato a prefeito, mas ele viu que eu tinha densidade eleitoral maior, que eu era mais conhecido e tinha mais aprovação. Então, eu fiz um convite para ele compor a nossa chapa, ele desistiu da candidatura e está dando uma grande contribuição agora na campanha.

O fato de Silvio Costa Filho ter tido que entregar o cargo de secretário de turismo do estado, em 2009, por denúncias de superfaturamento em contratos, e de ter tido os bens bloqueados em 2015…
Denúncia não quer dizer que o cara é criminoso. Tanto é prova de que não há impedimento nenhum contra ele que ele é candidato.

O senhor disse que, caso eleito, gostaria que 50% dos cargos fossem ocupados por mulheres. De onde vem essa motivação?
O mundo é das mulheres. O futuro da humanidade são os sentimentos femininos, como o amor, a compaixão, o perdão, a autoestima. No século 21, nós não podemos ter uma gestão em que há hegemonia de homens. Temos que estar no mundo moderno. Com o avanço e as conquistas das mulheres, farei o possível para garantir uma paridade na participação delas no nosso governo, além de ter uma política para mulheres de educação, saúde, cultura e, principalmente, para a mulher pobre e negra da nossa cidade.

O Recife está muito violento e o programa Pacto Pela Vida já não funciona mais. Qual sua proposta para resolver o problema da segurança pública?
Há aumento de mais de 20% nos índices de homicídio da cidade [entre 2013 e 2015]. Estupros, assalto a ônibus, arrastões. Nossa primeira atitude será, junto ao governador do estado (porque a responsabilidade dele é maior), entender que a guarda municipal tem uma parte da responsabilidade. Vamos buscar os idealizadores do Pacto Pela Vida para saber o que houve e o que foi modificado. Buscar parcerias com a sociedade civil e ter políticas públicas principalmente para as áreas mais carentes, com maior incidência de violência.

O atual governo de Geraldo Júlio é bem aprovado pela população…
Não, é não.

As pesquisas mostram que sim.
Ele está tecnicamente empatado comigo. Se você morasse aqui na periferia ou mesmo no centro da cidade, você veria que existe uma insatisfação muito grande da cidade com a gestão.

As pesquisas mostram que 57% da população aprova o governo dele.
Eu não vou falar de pesquisa, tá certo? Eu tenho as nossas e posso lhe falar. Mas o governo é desaprovado pela maioria da população da cidade.

O PT hoje não tem nenhuma prefeitura importante em Pernambuco. O partido está fragilizado no estado? Está sendo mais difícil criar articulações?
Se estivesse fragilizado eu não estava saindo candidato a prefeito da cidade. E a capital é que faz diferença. O PT está mais ou menos com a mesma base de sempre e saindo com candidatos no Recife, em Jaboatão dos Guararapes e em Olinda. Não há processo de enfraquecimento. O clima está muito bom, estamos com aceitação muito grande junto à população e muitos militantes que estavam afastados estão voltando. Não sinto dificuldade.

Como o cenário nacional, com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, afeta sua campanha?
O povo já começou a sentir saudade de Lula e Dilma pelo desmonte que o governo Temer está fazendo, vendendo as nossas riquezas, querendo internacionalizar o petróleo, reduzir conquistas dos trabalhadores como jornada de trabalho e aposentadoria. Aqui, é uma eleição municipal, não estamos discutindo eleição para presidente da República. O eleitor quer saber do projeto da manutenção, da merenda da escola, da farda das crianças, do posto de saúde, do remédio, da arte, da cultura, da limpeza, da iluminação pública, da violência. Esse é o grande debate que está sendo feito.

O ex-presidente Lula, denunciado pelo Ministério Público Federal, e foi a seu palanque. Qual a estratégia?
Aquilo foi uma farsa. Lula aqui é muito bem avaliado e todo o povo de Pernambuco sabe o que ele fez pelo estado.

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