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João Doria (PSDB): a inexperiência como trunfo

Camila Almeida  O empresário João Doria, dono do grupo Doria, um dos maiores organizadores de eventos corporativos do Brasil, é a grande surpresa na corrida à prefeitura de São Paulo. Nas prévias do PSDB, ele derrotou o favorito Andrea Matarazzo num processo que rachou o partido. Agora, gasta a sola do sapato para se fazer […]

JOÃO DORIA:  / Germano Lüders

JOÃO DORIA: / Germano Lüders

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Da Redação

Publicado em 30 de agosto de 2016 às 16h17.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h02.

Camila Almeida 

O empresário João Doria, dono do grupo Doria, um dos maiores organizadores de eventos corporativos do Brasil, é a grande surpresa na corrida à prefeitura de São Paulo. Nas prévias do PSDB, ele derrotou o favorito Andrea Matarazzo num processo que rachou o partido. Agora, gasta a sola do sapato para se fazer conhecido nas periferias. Até aqui, ocupa a quinta posição na corrida, com cerca de 5% das intenções de voto – mais de dez pontos atrás da segunda colocada, a senadora Marta Suplicy. Em entrevista a EXAME Hoje, ele afirma que sua experiência empresarial (e inexperiência política) pode ser um trunfo, e diz que sua fortuna pessoal não será um problema para ganhar votos.

Como sua experiência empresarial pode ajudar a gerir uma cidade? São situações bem diferentes…
São situações diferentes. Mas se você pegar o exemplo do Michael Bloomberg. Ele era empresário, e se tornou um dos melhores prefeitos que Nova York já teve. Não vejo razão para que, em São Paulo, um gestor privado não possa ter uma boa equipe, um bom time, e ser um bom gestor.

Que qualidades podem ajudar?
Eficiência, conhecimento, capacidade de ter equipe, métricas, controle, capacidade de gestão. É isso que eu tenho no meu currículo a oferecer à cidade de São Paulo.

A campanha do Trump é inspiradora de alguma forma?
Não. Não tenho nenhuma inspiração em Donald Trump. O fato de ser um empresário, aqui ou lá, não lhe garante eficiência e respeitabilidade. Cada coisa no seu lugar, e cada análise tem que ser feita de acordo com cada circunstância e com cada pessoa. Aliás, se votasse nos Estados Unidos, votaria Hillary Clinton, e espero que ela seja eleita.

Sua inexperiência com campanhas pode atrapalhar?
Pode me ajudar. A expectativa das pessoas, de forma geral, é a busca do novo, a busca de alguém que possa trazer eficiência de gestão. Isso tem me ajudado bastante. São Paulo tem nove candidatos a prefeito, e oito são políticos. Um não é. E eu quero colocar a experiência de gestão privada no plano público. Sem desrespeitar os políticos e nem desrespeitar os valores da política.

E por que o senhor quer ser prefeito?
Estou muito triste com a gestão da cidade, com o despreparo – do PT, especificamente – na administração de São Paulo. Tão nociva quanto foi a gestão Lula/Dilma, que em 13 anos produziram recessão, desemprego, inflação e corrupção. E o PT deixou São Paulo uma cidade suja, abandonada, maltratada, maltrapilha. Como alguém que já tem tudo, se eu puder fazer algum sacrífico… E a melhor forma de ajudar é sair da zona de conforto. O mais fácil pra mim era ficar onde eu estava. Não preciso de nada, nem mesmo salário eu quero da prefeitura. Quero dar o exemplo de que é possível fazer uma gestão eficiente, decente e transparente.

O racha nas prévias era evitável?
Ganhar ou perder faz parte da vida, na política, na atividade empresarial, na atividade esportiva. O perdedor de hoje é o vencedor de amanhã. O Andrea Matarazzo entendeu que a derrota devia impulsioná-lo pra fora do PSDB. Respeito a decisão dele. Eu cito até o exemplo do presidente Fernando Henrique, que foi candidato a prefeito em São Paulo e perdeu, em 1978. Imagina se ele saísse daquela eleição acusando o Jânio Quadros de ter fraudado, manuseado o resultado. Ele teve grandeza de alma, seguiu sua trajetória, foi ministro e depois foi presidente da República.

Mas as prévias deixaram marcas? Lideranças importantes não estão apoiando a sua candidatura.
Lideranças importantes estão apoiando a nossa candidatura. Geraldo Alckmin é a maior liderança do Estado de São Paulo, três vezes governador, duas vezes vice-governador, e apoia a nossa candidatura. Aloysio Nunes Ferreira, que já esteve do outro lado, nos apoia também. Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, também. E os 27.000 filiados do PSDB que participaram das prévias, tanto nos apoiam que a maioria deles votou favoravelmente. Sem desrespeitar caciques e figuras emblemáticas, quem elege o prefeito não são quatro ou cinco pessoas, são nove milhões de pessoas da cidade.

E como o senhor responde às denúncias de abuso econômico e de poder?
São pessoas que não sabem compreender que uma derrota faz parte do jogo. Foram dois turnos, perderam no primeiro turno. E simplesmente desistiram do segundo turno. Que processo é esse que você desiste de disputar sob alegação de que já está determinada a sua derrota? O processo é novo. Eu compreendo isso e lamento a atitude do Andrea Matarazzo.

Como foi o processo para a escolha do seu vice? Por que o Bruno Covas?
Porque é um nome importante. O Bruno Covas foi meu antagonista, disputou comigo as prévias, mas teve grandeza de, ao não ser vitorioso, ir pelo partido. Foi um nome que manteve a sua postura de dizer “olha, não venci, mas sou do partido e mantenho a minha posição e apoio aquele que venceu”. E entendi que era importante o PSDB fazer chapa pura, que não faz em São Paulo desde 1992. Isso é uma demonstração também de força e de unidade partidária.

O senhor declarou um patrimônio de 180 milhões de reais e o Bruno declarou um patrimônio de 60.000. Por que essa discrepância e como isso pode impactar a campanha de vocês?
Eu trabalhei pra ter esse patrimônio, e o Bruno tem o dele, cada um tem o seu. Não há o que interpretar sobre isso. O que você vê de errado nisso?

Riqueza não costuma ser um diferencial nas urnas no Brasil. Isso pode ser um problema?
Eu não estou preocupado com tradição, estou preocupado com eleição. Fui o primeiro a registrar meu patrimônio, não tenho nada a esconder. Eu não vejo nenhuma discrepância nisso. Nem o fato de o Bruno ter declarado 61.000 reais e nem o fato de eu ter declarado 180 milhões. Não discrimino aquele que não tem patrimônio, tampouco aquele que tem. Não vejo no que isso possa influenciar positiva ou negativamente na decisão do eleitor. O eleitor elege alguém pelas suas ideias, pela sua capacidade de ser um bom gestor, pela sua capacidade de realizar os seus compromissos e soluções pra cidade.

Mas o senhor está claramente preocupado em se mostrar mais popular, com campanha nas periferias? Qual a estratégia?
Estou fazendo campanha, gastando sola de sapato, indo ao encontro da periferia. Conversando, dialogando, debatendo, como cabe a um bom candidato. É o que eu tenho feito. Já fui 176 vezes em 176 momentos aos bairros periféricos da cidade de São Paulo. E tenho sido bem recebido. O fator determinante para mostrar isso será a eleição do dia 2 de outubro.

Qual é a prioridade para São Paulo?
Saúde. É o problema mais grave entre muitos na cidade. A saúde pública municipal vai muito mal. A prefeitura falha bastante nessa área, as UBS, as AMAs, não funcionam adequadamente, não têm médicos especialistas, não tratam de complexidades, muitas não têm os medicamentos necessários. Quando fazem a marcação de consultas às vezes demoram seis meses, oito meses, doze meses. A maior parte das AMAs e das UBS funcionam apenas até as sete da noite. É impossível você imaginar que as pessoas só podem ficar doentes e precisar de atendimento emergencial durante o dia. À noite, se não fossem os prontos socorros dos hospitais estaduais, haveria um drama na vida da cidade.

Como isso pode ser resolvido?
Com recursos e com eficiência de gestão. É preciso ter médicos e medicamentos, e dar tranquilidade para as pessoas atuarem. Ainda que faltem médicos, há enorme boa vontade em atender. Falta é gente, recursos e uma boa gestão. É isso que vamos colocar em prática, e ao mesmo tempo conveniar e estabelecer uma relação mais forte com o governo do Estado através da Secretaria Estadual de Saúde. Hoje há um distanciamento nessas relações, e sobreposições de funções como não deveria ocorrer. O segundo problema é educação. É preciso ter um novo patamar pra educação, começando com educação integral, nas escolas que têm condição pra isso. Também há um déficit muito grande de creches. A prefeitura também não foi bem nessa área. Insistiu durante um longo período de que era preciso construir creches, quando na verdade deveria ter conveniado creches, e é exatamente o que nós vamos fazer: estabelecer o maior número possível de convênios com organizações sociais, tanto com instituições do terceiro setor, quanto com igrejas e comunidades que já atuam nesta área.

O senhor critica muito a atual gestão de mobilidade, tanto em relação a faixa de ônibus, ciclovias, relação de velocidade nas vias. O que está errado?
Ciclovias eu não critico, critico o custo de mobilidade nas vias. Sou a favor das ciclovias e das ciclofaixas. Mas foi um dinheiro público mal gasto, mal investido. E ainda com prejuízo de muitas áreas periféricas onde ciclovias foram implantadas em cima de calçadas, em áreas onde há um prejuízo concreto ao comércio varejista, e há inexistência de ciclistas. Nas áreas onde os ciclistas as utilizam as ciclovias serão mantidas, porque elas e são um mecanismo positivo de transporte urbano, ao lado do próprio fator de lazer e entretenimento. As faixas exclusivas também têm o meu apoio, só acho que elas precisam ser mais qualificadas, com uma utilização mais adequada, pra diminuir o tempo entre um ônibus e outro e com isso aumentar a oferta de assentos e diminuir o tempo de espera para que a população possa chegar mais rápido.

O senhor vai privatizar faixas de ônibus e ciclovias?
Não é privatizar, nós queremos fazer uma concessão para que possamos ter tecnologia de GPS para permitir que todos os ônibus que atuam nas faixas exclusivas estejam ligados a um sistema e você possa, por meio de um aplicativo no seu celular, saber exatamente que horas o seu transporte vai chegar e quanto tempo você vai ter de viagem até o seu destino final. E no aplicativo você vai ter publicidade. Ou seja, custo zero para o usuário, custo zero para as concessionárias de ônibus e uma melhor tecnologia para a utilização das faixas. Hoje, as faixas não têm nenhum tipo de tecnologia aplicada pra melhorar a sua mobilidade e a sua utilização. E no caso das ciclovias, é permitir que o setor privado possa fazer a manutenção, exatamente como já oferece bicicletas em várias regiões da cidade, a custo zero para aqueles que já são usuários.

E a redução da velocidade?
As velocidades anteriores, 70 e 90km/h, vão voltar na semana seguinte à nossa posse. São vias expressas. Elas serão obviamente monitoradas pelo policiamento do DSV, da CET, mas sem estabelecer a morosidade que hoje se impõe. Vamos obviamente fazer o controle através de sinalização eletrônica. Isso se faz em qualquer cidade civilizada do mundo. Nas outras áreas, avenidas, ruas, a priori, as novas velocidades estabelecidas recentemente serão mantidas.

E se voltar a aumentar o número de acidentes?
Provavelmente isso não vai ocorrer. Primeiro porque a prefeitura não fez nenhuma campanha educativa. Quem quer reduzir acidentes faz campanhas educativas. A prefeitura não fez. Arrecadou 1 bilhão de reais no primeiro ano, vai arrecadar 1,5 bilhão neste ano, já foi inclusive advertida pelo Tribunal de Contas do Município que os recursos deveriam ter sido aplicados exatamente pra melhorar o processo educativo.

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