João Campos, do PSB, é eleito prefeito do Recife (Divulgação/PSB/Divulgação)
Alessandra Azevedo
Publicado em 29 de novembro de 2020 às 18h52.
Última atualização em 29 de novembro de 2020 às 18h57.
Às 18h45 deste domingo, 29, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmou a vitória de João Campos (PSB) para a prefeitura do Recife, com 56,21% dos votos válidos, o apoio de 428.992 eleitores. Prima e adversária, Marília Arraes (PT) ficou com 43,79%, o total de 334.140 votos. Quem assume o cargo, após uma campanha marcada por ataques, rivalidade e polêmicas, tanto políticas quanto pessoais, é o candidato do PSB. Aos 27 anos de idade, ele será o prefeito mais jovem das capitais do país.
A disputa foi uma das mais acirradas do país e da história do Recife. O domingo de eleição começou com a dúvida sobre para que lado o eleitor indeciso penderia: para o de João ou para o de Marília. Com os dois nomes empatados — 50% do eleitorado para cada, pela pesquisa Datafolha divulgada no sábado, 28 — cada voto seria essencial para definir o futuro da prefeitura da capital pernambucana. Mas, durante a apuração dos votos, João largou na frente e manteve a liderança.
Com a confirmação da vitória, João Campos deixará o gabinete na Câmara dos Deputados, que conquistou sendo o candidato mais votado da história de Pernambuco, em 2018, com mais de 460 mil votos. De volta à cidade natal, assumirá o Palácio Capibaribe Antônio Farias, sede da Prefeitura, garantindo mais quatro anos de PSB no comando da cidade. O partido governa o Recife há oito anos.
Bisneto do ex-governador socialista Miguel Arraes, João promete uma gestão focada em combater desigualdades. Ao sair para votar neste domingo, por volta das 11h, ele garantiu que, se eleito, teria como prioridade os mais necessitados. "Quero me dedicar à minha cidade, trabalhar incansavelmente todos os dias nos próximos quatro anos para fazer do Recife a cidade que queremos", disse.
João se formou em engenharia civil pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mas se dedica à carreira política desde que tinha 19 anos, sempre dentro do PSB. Ele assumiu as rédeas do futuro político da família desde que o pai, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos morreu, em um acidente de avião, durante a campanha para a Presidência da República, em 2014.
O primeiro cargo que João ocupou foi de secretário de Organização Estadual do partido, de 2014 até 2016, quando se tornou chefe de gabinete do Governo de Pernambuco. Foi nessa época que começou a disputa com Marília, quando Eduardo Campos tirou a prima da direção da juventude socialista do PSB e colocou o filho, de 19 anos, no lugar.
Ao longo da campanha, os desentendimentos entre os dois ficaram escancarados. O PSB e o PT entraram em uma batalha jurídica. Em uma das vitórias na Justiça, João Campos conseguiu impedir um vídeo que o associava a uma imagem de "machista". Já Marília conseguiu que a campanha do PSB interrompesse a divulgação de panfletos em igrejas, que diziam que "cristão de verdade não vota em Marília Arraes”.
Até a ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) Ana Arraes, avó de João e tia de Marília, publicou nota para negar que tenha sido atacada pelo neto, após um vídeo ter mostrado uma fala dela sobre a briga entre João e o tio Antônio Campos. “Não admito a utilização de meu nome, sobretudo em peças com viés claro de fake news, tentando prejudicar alguém da minha família”, escreveu Ana Arraes.
Na disputa pela prefeitura do Recife, João conseguiu unir 12 partidos em torno da campanha, o que garante uma boa base na Câmara, com 24 dos 39 vereadores sendo parte da coligação. Além do PSB, PDT, MDB, PP, PSD, PCdoB, PV, PROS, Avante, Rede, Republicanos e Solidariedade estiveram ao lado de João Campos. Com as alianças, veio o apoio de nomes importantes da esquerda, como o de Ciro Gomes (PDT) e do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).
O apoio ajudará o novo prefeito a aprovar os projetos previstos no programa de governo, no qual coloca como prioridade o compromisso com a desigualdade social. Para retomar o crescimento da economia, ele aposta em um programa de Crédito Popular, com empréstimo de até 3 mil reais, com carência de até quatro meses para começar a pagar, em 12 parcelas e juros de 0,99% ao mês. Mesmo empreendedores negativados podem receber o crédito.
Para geração de emprego e renda, as estratégias incluem a criação de uma agência com objetivo de atrair investimentos, a Investi in Recife, e o Desenvolve Recife, que reunirá serviços diversos, como Sala do Empreendedor, Agência do Trabalho, cursos de qualificação, coworking e o próprio programa Crédito Popular.
Na educação, João promete duplicar o número de vagas em creches, a alfabetização até os sete anos de idade e a qualificação de jovens através do Embarque Digital, com 50% das vagas garantidas para as pessoas negras. “Só pela educação é possível fazer uma transformação social impactante e se enfrentar este desafio histórico da desigualdade social”, disse, em entrevista à EXAME. Na saúde, o foco é aumentar a cobertura da atenção básica, com reforço nas equipes de saúde da família.