A Sabesp nega falha no abastecimento (Nacho Doce/Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de outubro de 2014 às 08h30.
São Paulo - Do excesso de chuvas que deixou famílias desabrigadas às torneiras secas durante a noite, a água voltou a ser um problema para moradores do Jardim Romano e de bairros vizinhos, na zona leste de São Paulo.
Há cerca de um mês, eles fazem estoque em garrafas, panelas e baldes para conviver com a falta d'água noturna. Há cinco anos, a região, porém, ganhou destaque ao enfrentar um alagamento que durou mais de dois meses e atingiu 2 mil famílias.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) nega falha no abastecimento. Porém, em tempos de crise hídrica, quem mora no Jardim Romano e em bairros como a Vila Itaim e a Vila Aimoré - todos localizados na várzea do Rio Tietê - está adotando a economia e o estoque para não abrir mão de atividades rotineiras, como tomar banho. Famílias que têm caixa d'água sentem menos o impacto da escassez durante a noite.
Na casa da cuidadora Maria Ivanize dos Anjos, de 55 anos, moram quatro crianças e cinco adultos. A caixa d'água de 250 litros que era reserva suficiente para as atividades da família já não dá conta.
"Tem muita louça e muita roupa aqui em casa. A gente lava tudo quando a água chega e enche um monte de bacia, panela e garrafa para não faltar", conta.
Há 25 anos ela mora na Rua Coaracy, na Vila Aimoré, trecho que convive com alagamentos em períodos de chuva. "Já perdi meus documentos, armários e uma geladeira por causa de enchente, mas ainda acho que seca é pior do que alagamento. A pessoa não pode nem tomar um banho", diz Ivanize.
Moradora do mesmo bairro, Nelsina Aparecida dos Santos, de 55 anos, aderiu à economia para evitar sufoco. "Eu lavo roupa de 15 em 15 dias. Não tenho caixa d'água e moro com meus cinco filhos. A gente aguenta ficar sem qualquer coisa, mas sem água é demais", afirma.
Rua Capachós, Jardim Romano, é o endereço que foi inundado em 2009 e demorou mais de 60 dias para secar. Ali, a dona de casa Iraci Nunes, de 42 anos, vivenciou a enchente e também está sendo atingida, atualmente, pela falta d'água noturna. "Até hoje não consegui arrumar tudo o que perdi aqui. Só não perdi a minha fé. Nada nunca foi fácil para nós", diz.
Um balde de 15 litros tem sido aliado para capturar a água que chega durante o dia. "Faço o serviço da casa e já encho o balde para todo mundo poder usar." São seis moradores no local. O reúso da água é uma tática para garantir a limpeza da casa. "Eu lavo roupa e uso a água que sobra para passar pano no chão e lavar o quintal."
A comerciante Cecília do Nascimento Rosa, de 68 anos, mora na mesma rua, mas não se incomoda com as torneiras vazias durante a noite. Ela diz que o abastecimento de água costuma parar por volta das 21 horas e voltar às 6 horas.
"Nem percebo, porque tenho caixa d'água. Eu tenho torneira de água da rua e, quando vejo que acabou, uso a da caixa. Não sei se isso é culpa do governo ou de São Pedro, mas a água não faz falta para mim à noite."
Moradores contam que a área parou de alagar após a instalação de um dique, um tipo de sistema de drenagem, em 2011. As informações são do jornal.